quarta-feira

A "águia" da selecção nacional...

Na vida, como em tudo, é necessário um pequeno empurrão. Não nos reportamos aqui ao empurrão que a filha do ex-Pres. da República, j. Sampaio, agora nomeada adjunta de Pedro Silva Pereira, recebeu. Não!!! Reportamo-nos a empurrões mais salutares e menos pegajosos decorrentes das inevitáveis corruptelas políticas e das teias que se tecem nesse meio.
Tomemos o exemplo - a Águia, símbolo do Glorioso. Ela faz o ninho no topo dum precipício rochoso.
  • - É lá que guarda as suas crias. Abaixo e em redor, só existe ar rarefeito e uma queda abrupta de cortar a respiração, sobretudo para os que têm vertigens e nunca farão Asa-delta. Mas é nesse espaço que a Águia-mãe tem de empurrar as suas crias para a borda do ninho a fim de ver se as crias ensaiam o vôo e aprendem a voar. Mas nesse entretanto, as crias entram em conflito com elas próprias e resistem com medo ao vôo inaugural.
  • Por um lado, elas têm de aprender a voar, ganhar autonomia, por outro, essa aprendizagem gera medo, pânico. O que falta, afinal?! O tal empurrãosinho... Sublinho de novo que não se trata do empurrãosinho dado à filha de Sampaio para integrar o gabinete de Silva Pereira, ministro da Presidência e braço-direito de Sócrates, salvo se for canhoto.
  • - Mas as resistência têm que se vencer, e a Águia-mãe lá dá o seu empurrãosinho. É nesse instante, entre o medo e a aventura, que as crias descobrem a funcionalidade das suas asas, o resto é coragem. Mas a urgência em aprender a voar reside no facto de reconhecer um privilégio: descobrir o poder das suas asas e de se ter nascido águia. Desta feita, o empurrãosinho que a águia-mãe dá às suas crias traduz esse supremo acto de amor. Assim, ela empurra uma-a-uma, precipitando todas pelo abismo nesse ensaio geral do vôo.
  • - Só resta às crias voarem. Descobrirem o maravilhoso efeito de liberdade desocultado pelo poder das suas asas.
  • - Às vezes na nossa vida pessoal, familiar e até profissional precisamos desse empurrão (o que a filha do ex-PR levou foi um encontrão lá pra cima...). Como se, num ápice, a menina pudesse ir ao café do bairro acompanhada pelo George Clooney. Isto é demais... Tão demais que até cheira mal, mas adiante!!! Por mais competência que a piquena tenha, essas promoções meteóricas só reflectem uma coisa... que agora não verto em calão.
  • - O que pretendemos significar com esta simples estória é que são as próprias circunstâncias que nos fazem acreditar e descobrir as nossas verdadeiras potencialidades. E nós, portugueses, podemos ser umas lástimas na governação política, social e económica, mas há muito que descobrimos a nossa vocação no futebol. Também temos as rolhas dos sobreiros... Amanhã só falta ensaiarmos o vôo... E mostrar à águia-coordenadora (Scolari) que vamos mesmo voar. Nem que para isso tenhamos de embater nos penhascos de quando em vez para afinar as asas e limar desequilíbrios.
  • - No fundo, cada um de nós tem forças que desconhece, e é a necessidade que aguça o engenho como diria o genial Luís Vaz. Cada um hospeda dentro de si uma águia, portador desse projecto infinito. Amanhã - contra a selecção francesa - Portugal irá certamente romper esses limites apertados. Terá de se movimentar com perícia e rapidez e, claro, meter golos (3-1 basta-me!!!). Amanhã, Portugal irá mostrar ao mundo como se faz a globalização feliz nesta Europa franco-germanizada com PIB na valeta, com níveis de desemprego oscilando no carrossel da improdutividade face aos índices de crescimento, modernização e desenovolvimento assiáticos e o mais - que nos envergonham a todos... Ocidentais desta praia lusitana.
  • - Amanhã será um grande dia: a antecâmara da vitória final. Porquê??? É simples: há uma ciclotimia da nossa história, ora estamos nas nuvens, com orgasmos múltiplos, ora caímos ao inferno e vegetamos indefinidamente no purgatório. Isto não pode continuar. E porque está inscrito no nosso ADN e em todo o capital genético de toda aquela selecção nacional - é que por via do desporto-rei - Portugal terá de compensar as suas terríveis frustrações e insuficiências nas esfera política, económica e cultural e em todos os subsistemas que tolhem hoje a governação.
  • Mas deixemo-nos de mais teoria da treta e digamos todos, em uníssono: esta Águia amanhã vai ensinar os franceses a tocar piano só a uma mão, quiça só com um dedo. Bem sei que alguns pretendem cortar-nos as asas da águia e chamar-nos galinhas poedeiras, mas não iremos nisso. Amanhã iremos ganhar altura, trajectória de vôo, exercitaremos a envergadura das asas para medir bem a nossa autonomia e velocidade para, no fim, sermos esses heróis e resgatar à história uma fama de homens grandes que já fomos fazendo, assim, esquecer o presente que tresanda a caminhos sem destino.
  • - Amanhã esta Águia vai tocar piano com os pés e orquestrar o jogo com a cabeça e dizer ao mundo: somos os tais portugueses de 500 - hoje com mais 500 anos sobre o pelo. Mas estamos cá para as curvas, dentro e fora das quatro linhas, prosseguindo a nossa própria saga, revelando à Humanidade que temos um destino a cumprir, um sonho promissor a materializar, nem que seja - primeiro - através do futebol. Se assim for, não terei dúvidas que outros "futebóis" virão...
  • E assim, aos poucos, engrandecemos a nossa memória colectiva, potenciamos Portugal. Depois ganhamos o Nóbel da Economia, da Física e da Literatura. Desta vez, com um escritor à altura e, de preferência, que não seja amigo do Fidel Castro... Porque de ditadores que escravizam os povos estamos todos nós fartos.