terça-feira

O pensar de Agostinho

AGOSTINHO DA SILVA E AS UNIVERSIDADES
  • Todas as universidades deviam empurrar o sujeito a ser autodidacta. Deviam ter um ambiente tal que aquele que não se instruísse por ele próprio estava mal. Mas o que acontece é que os sujeitos vão para ouvir o professor, decorar o mais possível, portar-se bem na aula, fazer uma tese, se for caso disso, e pronto, está o caso arrumado… e ainda por cima saiem de lá com uma terrível ideia: a de que estudaram para terem uma profissão… ora hoje, sobretudo, isso é muito perigosos porque vamos desembocar num mundo em que não haverá profissões… elas só existirão enquanto a coisa não passa a Mundo Novo, porque quando passar… através da técnica… vamos ter muitos tempos livres… e, realmente, a ideia de todos nós é não termos profissão nenhuma… Agostinho da Silva, pensador e filósofo e poeta à solta, como costumava dizer. Único em aliar a inteligência e o génio à bondade natural para com o outro, qualquer que fosse esse "outro". Noto que alguns dos que hoje se dizem seus discípulos - nesse capítulo - não passam de notas de pé-de-página de Maquiavel revistas em edições maradas vendidas na Feira da Ladra antes do Sol se pôr. Eles não percebem que os outros também percebem, e às vezes, muitas vezes, até percebem mais e melhor e mais rápido... Infelizmente, também hoje a nova geração de académicos repete as maldades, os complexos e as frustrações legadas a todos e a cada um pelo chamado efeito-restolho na Academia lusa. Eles percebem mas não vêem. E não vêem porque cegaram. Cegaram pela ambição do nada: do efémero. Um mar de egoísmo e nenhum altruísmo; um mundo de self-interest e nenhum common sense; muitas vénias aos poderes e micro-poderes (formais, orgânicos e mediáticos) e por vezes rudeza mitigada com falta de educação; muito genetic-fitness e nenhum solidarismo meritocrático. Afinal, o que aprenderam eles??? Voltaram à escola de Maquiavel e em lugar de exaltarem Erasmo de Roterdão plantam pequenos Tayllerands, em vez de cultivarem Kant e os ensinamentos da Bíblia destronam algum do capital-humano que, porventura, terão "aprendido" com o velho Mestre. Reclamam-se agostinianos e actuam como maquiavéis made in Poder autárquico. Afinal, não aprenderam nada com o mestre. Nada, embora se reclamem de tudo. Um tudo que não chega a ser nada... Este post só poderia ser para ele, Agostinho da Silva, pelo muito que lhe fiquei a dever. Não tanto pela minha formação científica ou intelectual, mas pela epistemologia, pelo método-do-não-método do aprender-a-aprender a pensar. E também pelo carácter e pelo profundo humanismo e educação, valores que nunca se devem trair entre os homens de bem. É com ele que o irmano aqui a Kant, quando dizia: De mim não aprendereis filosofia, mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir mas antes como pensar. É essa Liberdade que constitui o nosso espaço vital. É sempre tempo para falar em Agostinho da Silva, ainda que o mundo esteja suspenso pelo Mundial, além de que os clássicos nunca passam de moda: são intemporais.