sexta-feira

O Mundo de Pauleta e a receita de Portugal

As notícias continuam a ser nocivas para a mente. Mesmo na ausência de futebol e das sábias declarações de Pedro Pauleta de há dois dias. Por momentos pensei tratar-se de mais uma das encenadas lições de Hermano Saraiva do alto dum monte refazendo a história de Moisés (espírito santo). Ou como diria um amigo: mais uma saraivada. Ainda pensei que Pauleta citasse Oliveira Marques, José Matoso; Magalhães Godinho entre outros historiadores a fim de ilustrar as suas derivações sobre a portugalidade e a coragem lusitana no seio das selecções do Mundial da Alemanha, já para não falar nos mundos que abrimos ao mundo navegando à bolina nesta nossa nova rosa dos ventos enriquecedora da esfera armilar do III milénio.
Ouvindo o Pauleta, sem embargo para o legado de Vasco da Gama - cuja teoria já sinalizámos, pensei que a própria teoria da globalização entrara em processo de revisão. Desde logo, pela noção de comunidade global que o discurso de Pauleta nos entreabrira colmatando, doravante, uma falha grave no discurso lusitano desde a fundação da nacionalidade. Tão credora de Guimarães como de Vila Viçosa.
Pauleta, mesmo sem o saber, e através da bola enquadrada pelo Mundial da Alemanha, revalorizava a noção de soberania nacional, de comunidade global, de justiça, de fair-play, de igualdade, de transnacionalidade, de aquecimento global do planeta, de investimento externo e de um conjunto de vectores conexos à teoria política da globalidade que ora reveste a vida das nações ora acrescenta algo à Humanidade. Tudo através da bola, ou melhor, das potencialidades do futebol. Na prática, com aquelas simples palavras e com tradutor à mistura, Pauleta refez a História do pensamento contemporâneo: Carrilho, Delleuze e Guattari não fariam melhor. Nem Jurgen Habermas - que só diz banalidades. Também aqui Pauleta provou que já não há filósofos, estes emanam do futebol.
Por isso felicitamos aqui o Pauleta que, com aquele sotaque insular, revolucionou a ética da globalização e agora ameaça revolucionar os curricula académicos na esfera das Humanidades.
Pauleta obrigou, por outro lado, o mundo a admitir que Portugal existe, que fez a gesta dos Descobrimentos, e que pode não ter economia que preste mas tem futebol que baste para sensibilizar o mundo e, desse modo, garantir o take-of na economia nacional nos próximos tempos..Ainda que sem a refinaria de Sines, sem o Nuclear, sem a OTA e o TVG - que, em rigor, nunca tiveram identidade fora do papel, apenas se destinaram a entreter os tolos enquanto que os menos tolos tentavam governar. Sócrates, en passent, pode não ter ideia ou estratégia para Portugal, mas lá que ele sabe de manipulação da informação, lá isso...
Pauleta revolucionou a forma como as sociedades pensam, funcionam e actuam. Hoje tudo tem de interagir com a bola e o futebol. Sem medo e com muito respeitinho, como diria o Pauleta e remata: "Portugal nã tem medo de ninguém".
- A originalidade do intelecto e do pensamento de Pauleta são um contributo moral, de integridade, de rigor para o Mundo através de Portugal - ainda que tais declarações tenham sido proferidas na Alemanha, quartel-geral do Mundial de 2006. - Pauleta passou, portanto, a ser um homem importante, mais relevante do que Scolari, Figo e Mourinho juntos. Pauleta passou mesmo a integrar a galeria dos pensadores e dos filósofos que fizeram a transição do séc. XX para o III milénio e que hoje ameaça deixar um traço distinto na história da Humanidade. - Em suma: ao ouvir as sábias e históricas declarações de Pauleta na 4ª feira, percebi como é que se opera a interacção entre o desporto, a política e a economia, além das incursões no revisionismo histórico, ético e civilizacional. Doravante, Pauleta já não é apenas mais um jogador da selecção nacional, mas um ícon para vender medalha, um símbolo de nacionalidade e de portugalidade que se banalizou em produto de artesanato. Pauleta já espelha a bandeira nacional. E esta reflecte a imagem de Pauleta. Também por isso Portugal terá todas as condições psicológicas, desportivas, identitárias e políticas para "limpar" este Mundial da Alemanha de 2006. É que o take-of da economia nacional não só aguarda como precisa desse troféu para se recompôr e fazer novos "descobrimentos". No fundo a receita de Portugal tem um nome: Pauleta.