quarta-feira

Futebolítica: um pensamento alienado mais vencedor

Dantes era assim que se jogava futebol: a bola era mesmo redonda, não havia tanta Pub., nem os milhões em torno dos passes dos jogadores, os clubes eram pequenos e não multinacionais como são hoje. Como as notícias continuam a não prestar - na esfera da economia, da política e da sociedade - provarei aqui que também já fiquei alienado com o futebol. Podemos até dizer o seguinte:

- Rechaçámos os Mexicanos

- Rechaçámos os Holandeses..

- Doravante, arriscamo-nos a Rechaçar os "camones" com quem temos tido alianças político-diplomáticas verdadeiramente lesivas para Portugal, e depois, se tivermos grandeza, engenho e génio - venceremos aos "brasucas" na final.

- Creio mesmo que é esta a receita para os males do Portugal contemporâneo. Os nossos políticos são parvinhos mas não são completamente destituídos, razão por que apoiam a selecção da forma conhecida: com elevado conteúdo moral, ético, patriótico. Até Cavaco que detesta futebol faz o frete e diz que ama a Selecção e a bola. Hipocrisias à parte, confesso que me delicio com este idealismo à portuguesa, com esta retórica política lusa a partir do futebol, hoje trave-mestra duma qualquer política externa.

- Por vezes penso mesmo que é mais importante a bola do que falar de Deus, depois reconheço que se fala em sinonímia, e um vector implica o outro, como as cerejas. Portugal está hoje "apanhada" por esse "Moisés" da vida contemporânea que é o futebol. Por ele passam todas as respostas, até o PIB português, a retoma da economia, o combate à corrupção e conexos. O mundial é o novo deus, e para Portugal representa o efeito Coca-Cola da Pub. mundial.

- Arriscamo-nos a ganhar este Mundial. A grande questão será: o que fazer depois com esse título??? É isto que me assusta, não a vitória.

- Por último deixaria uma sugestão à Comunidade internacional - que bem poderia ser acolhida na agenda oculta de Kofi-Anan, Secretário-Geral da ONU. Todos nós sabemos qual é a natureza (corrupta e cleptocrática) do regime político angolano (cuja selecção nacional pode participar neste mundial). O seu povo vegeta nas valetas, move-se por próteses e nem 1dólar tem por dia para sobreviver. Perante isto pergunto-me: por que razão a FIFA não aproveita esta magna oportunidade para - no decurso - deste Mundial da Alemanha (que é um belo antro de prostituição...) para sensibilizar a Comunidade das Democracias em adoptar um objectivo comum: pôr out of game todos os regimes não democráticos onde campeia a corrupção de Estado de que Angola, infelizmente (e com a cumplicidade da dita Comu. Internacional) é apenas um quisto?!!!

- O objectivo seria erradicar todos os ditadores até 2010. Terminando também com todas as injustiças sociais, económicas e políticas cometidas ao abrigo do petro-poder que explora as matérias-primas estratégicas do país sem nenhuma contrapartida para o seu povo.

- Isto sim, seria um programa admirável para combater as injustiças no Mundo. Vendo o Figo, o Ronaldinho denunciando as atrocidades políticas desses corruptos..em sofisticadas conferências de imprensa... Todas abertas para o mundo, todas cobertas pela CNN. A vergonha seria tanta que no day after os vários "Eduardos dos santos" que andam por aí cairiam de maduros. O futebol cumpriria, assim, a sua função-maior: queda dos ditadores e dos meios que usam para se sustentarem iniquamente no poder.

- Se este programa ético-político fosse sériamente equacionado e cumprido confesso que até ficaria a admirar ainda mais esse desportoi-rei que é o Futebol. Ainda mais com Portugal como portador desse troféu-maior que é a Taça do Mundo.

- Quando a Política - ela própria - não basta para fazer "Política" temos de ter o engenho para abrir mão doutros dispositivos que sirvam igualmente os interesses do Homem: o futebol seria essa alavanca. Já não (apenas) para correr atrás duma bola e meter golos e ganhar troféus, mas libertar do medo esse único animal racional ao cimo da Terra que somos nós.

- Por isso digo: além de termos fortes possibilidades de ser campeões mundiais teremos também uma agenda política a seguir: a Liberdade como Desenvolvimento - através do Futebol.