Estratégias alternativas à globalização predatória: o caso GM/Opel
O Jumento , garboso, mas sempre muito competente e com mais de um milhar de visitantes per day, mais leitores do que muitos jornais de referência em Portugal, referiu na edição d' ontem muito oportunamente e com aquela lente ultra-fina importada do filósofo Baruck Espinosa - esta notícia: UM EXEMPLO A SEGUIR NA AZAMBUJA
Sindicatos britânicos lançam campanha publicitária contra a compra de carros Peugeot:
- «Duas organizações sindicais britânicas estão a investir um milhão de libras (cerca de 1,45 milhões de euros) numa campanha publicitária em que apelam ao boicote à compra de automóveis da PSA Peugeot Citroen, que decidiu fechar a fábrica de Ryton, em Inglaterra.
- A campanha publicitária das organizações sindicais Amicus e TGWU iniciou-se no passado dia 9 de Junho com anúncios de página inteira nos jornais Daily Mirror e Guardian e vai intensificar-se hoje com anúncios em jornais e com cartazes colocados nas proximidades de concessionários da Peugeot e da Citroen.
- Numa carta distribuída no fim-de-semana passado em Londres, perto de concessionários na capital britânica, trabalhadores de Ryton apoiados pelos dois sindicatos distribuíram à população uma carta aberta em que pediam aos londrinos que estavam a pensar comprar automóvel que pensassem na "forma vergonhosa como a Peugeot-Citroen tratou os seus trabalhadores" e deixassem que isso influenciasse a sua decisão.» [Público assinantes Link]
De facto, o objectivo dos sindicatos é evitar que trabalhadores compitam entre si por empregos, o que faria baixar os salários e as condições gerais de trabalho. Mas essa era a sua função clássica, pois este exemplo em que os sindicatos se armam em copy-writer revela bem como a globalização predatória empurra os sindicatos para níveis de sofisticação e capacidades de resposta e de reacção rápida aos novos ventos da história. Sem esta sindicalização os salários cairiam e muitas das condições de trabalho se degradariam. Afinal, parece que também aqui haverá espaço para o sr. Carvalho da Silva, que está há 20 anos à frente da CGTP, fazer alguma aprendizagem em matéria de estratégias alternativas à pressão imoral da globalização competitiva, porque isto de ir para a Alameda D. Afonso Henriques no Dia 1 de Maio sujar as ruas já foi chão de deu uvas ou pasto para vacas...
- Hoje acabamos de saber que:
Uma intenção de investimento de última hora foi ontem recebida na fábrica da Opel da Azambuja. Segundo Paulo Vicente, da comissão de trabalhadores, uma empresa alemã terá manifestado a vontade de comprar uma prensa que, instalada na fábrica da Azambuja, poderia reduzir, substancialmente, os custos de produção do modelo Combo.
- É isto a globalização: uma interpretação permanente no processo de competitividade mundial que se manifesta em tempo real e programado. É isto a globalização, um modelo analítico do neoliberalismo que associa a desigualdade competitiva com o projecto geral de imposição da desigualdade entre dominantes e dominados, entre players diferenciados, entre inferiores e superiores na exploração do tal modelo do intervencionismo do Estado que hoje já não tem o tradicional efeito regulador que dispunha durante meio século de Guerra Fria. Essa conjuntura que compensou o Estado porque ele, simplesmente, se fazia obedecer política e administrativamente acabou. E foi, once again, a meretriz da globalização competitiva que o exterminou implacavelmente. A luta por manter a Opel em Portugal reflecte essa luta, essa dinâmica que convoca hoje mais do que nunca todos os recursos materiais e intangíveis do Estado, da sociedade e da economia para rever os dispositivos de redistribuição de rendimentos, de custos de produção através, da teconologia (com muito pouca ponta...) - lá está!!! - do seu velhinho papel de controlo das relações económicas a fim de corrigir desigualdades, atrair investimento e, se possível, gerar riqueza sustentável no interior das Nações. Enfim, uma lógica que hoje deixaria o próprio Adam Smith completamente estrábico e indeciso como o burro de Buridan - que equidistante entre um fardo de palha e um balde água - morreu por indecisão estratégica. O problema é que os que participam na disputa de modelos analíticos ignoram - ou simplesmente recusam-se a reconhecer - que nenhum dos quadros de análise tem hoje - após as transformações geradas pela globalização competitiva, validade, sendo que o neointervencionismo do Estado acaba por se revelar ainda uma forma de estatismo mais perniciosa. Infelizmente, é da natureza das relações competitivas a produção de desigualdades e de pobreza, até nos confrontos desportivos, e muitas vezes temos aqui criticado o ministro da Economia, mas admito que não seja nada fácil gerir o dossier da GM em que Portugal, em que num ápide, a economia portuguesa é colocada diante do mundo económico para decidir dos destinos a dar à política. Esta é também mais uma vertente da luta entre o analista e o político - tema já tratado em reflexões anteriores. Em todo o caso, noto uma grande dificuldade neste caso: como poderá ser estabilizado o quadro das relações de concorrência por meios diferentes daqueles que as produziram? Ou seja, a correcção dessas desigualdades (relativamente a Espanha) geradas no campo da competição económica só pode ser corrigida directamente co campo económico por interferência do poder político quando existam condições suficientes para controlar os mercados, e não me parece que o Estado Português esteja nessa condição. Nem temos uma posição de hegemonia que nos permita controlar outros mercados convergentes. E quando estas condições não são satisfeitas, o intervencionismo do Estado não passa dum verbo de encher distorcendo as relações internas oferecendo privilégios a quem não é competitivo e penalizando, ao mesmo tempo, os trabalhadores. Além de deixar de ser competitivo externamente, dado que não promove a competitividade e gera contextos de incerteza e de turbulência para os próprios operadores externos que um dia pensaram em Portugal para investir. Seja como fôr, e como português, a minha convicção de que a GM fique na Azambuja é um pouco inferior à vitória que a Selecção nacional nos irá dar a todos neste Mundial da Alemanha. Mas temo bem que vencida uma partida o resto acabe por se recompôr: a bem dos portugueses, a bem de Portugal. Veremos qual delas se decide primeiro...
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