quinta-feira

O inimigo na guerra

A violência desta guerra, quer do lado israelita quer do lado do Hezbolla - que dispara como pode a partir desse ninho de terrorismo árabe a partir do Líbano, é assustador. Fico com a sensação que até em Carnaxide ouço as bombas a cair, juntamente com os edifícios a ruir e as pessoas a tombar... Muito para lá das bombas que estouram dum lado e doutro da fronteira, nota-se ali a existência dum ódio visceral, existencial mesmo, pelo que a vitória de um dos lados implica, necessáriamente, a morte do outro. É a regra do vita mea mort tua. Mas, ao mesmo tempo, e por imposição do exterior - EUA e Europa - o conflito desenvolve-se por meio duma estratégia que conjuga fraternidade e terrosimo: aquela dirige-se às grandes massas da população, a fim de solicitar o seu reconhecimento, esta dirige-se ao inimigo ocupante, ao governo adverssário e a quem o apoie, os EUA - neste caso. Estamos no III milénio, inventámos frigoríficos e computadores, novos antídotos para doenças terríveis e, paradoxalmente, aumentamos a brutalidade entre os homens, por via dum conceito de inimigo - que vive e revive no imaginário dos contendores, personificando o negativo, o mal do mal. Em lugar de nos civilizarmos com o tempo, a cultura e as tecnologias que vamos descobrindo, regredimos e tornamo-nos num estado selvagem. Ao invés, quanto mais o adversário é visto como semelhante tanto maior é o seu respeito pelas convenções internacionais na tutela dos prisioneiros e da população civil, gente inocente. Assim, por ex: na Alemanha, durante a II Guerra Mundial, o "tio Adolfo" teve um cuidado acrescido com os prisioneiros de guerra ingleses e norte-americanos - que foram tratados com maior consideração em relação aos soviéticos, vividos como inimigos também no plano ideológico e "racial", enquanto os hebreus de toda a Europa fora atribuído o estatuto de inimigo absoluto, a destinar a um genocídio total. Resultado: 6 milhões... Creio que é isso mesmo que os grupos terroristas fariam hoje aos israelitas, caso pudessem, porque é também isso que Israel procura fazer ao outro lado nesta pela existência, regulada pela regra latina vita mea mort tua... Na realidade, "somos uns animais" - que até aos verdadeiros animais metemos medo... Será porque temos medo de nós próprios?!