Evocação do génio - Guilherme Shakespeare...
- Acabo de fazer uma mini-consulta aos jornais ditos de referência para ver se pesco uma notícia que valha. Não vou citar ninguém para não ser indelicado ou injusto, mas o mundo e as notícias que ele vai fabricando não prestam, ou então sou que cada vez mais estou descentrado. Pode ser... Não é que seja um idealista empedernido, mas o realismo atrós dos factos poderia bem ser menos canalha, fratricida, anti-humano.
- Afinal, 2000 anos de vida post-Cristo para nada... E não nos reportamos apenas à já secular guerra israelo-árabe... - cuja receita deveria ser deixá-los à sua mercê sem, rigorosamente, nenhuma influência exterior, e fazer o balanço depois. Mas para isso os EUA teriam de ficar de mãos e pés atados, o que seria uma impossibilidade técnica.
- Não creio que o resultado fosse pior do que aquele que hoje se verifica. As notícias do mundo, como digo, não prestam, até as de carácter doméstico. Basta pegar nos lençóis ditos de referência para ler a intriga no psd entre o sr. borges e o sr. mendes, etc, etc, etc. Hoje se tivesse de pagar para não fazer política era bem capaz disso. Este Portugal está um farrapo: sem ideias e com imensos oportunistas. Mas o tema desta lenga-lenga é outro, e não queríamos aqui desfeitear o génio dos génios: o Guilherme. Evocá-lo é também falar dos limites da interpretação. Ou seja, ao ler um texto, ao ouvir um político, um académico, ao perorar diante do engº Belmiro - é, intermediado pelos media previsíveis que temos, oscilar entre dois extremos, eficientemente representados pelas passagens que aqui referimos, da autoria do génio Guilherme. Ora vejam esta loucura:
- O que te recorda esse peixe?
- Outros peixes.
- E o que te recordam os outros peixes?
- Outros peixes.
(J. Heller, Catch 22, XXVII)
- Hamlet - Vês aquela nuvem que tem quase a forma de um camelo?
- Polónio - Santo Deus, parece mesmo um caamelo!
- Hamlet - Acho que parece uma doninha.
- Polónio - Tem o dorso de uma doninha.
- Hamlet - Ou uma baleia?
- Polónio - É mesmo uma baleia.
(Hamlet, III, 2)
- - Agora vem o porquê desta evocação ao génio W. Shakespeare tomando por referência aquelas duas passagens. A primeira oferece pouco interesse à interpretação, é portadora de pouca curiosidade (peixes só no prato...). Mas a segunda - já reflecte mais o nosso mundinho (da política, dos negócios, enfim, das nossas vidinhas). São passagens que espelham na perfeição o facies da política - tal como ela é hoje desenvolvida, i.é, seguidista, obediente, canina, enfeudada - sem estrutura e sem espinha. Enfim, a política que hoje predomina em Portugal é uma política canina, e uma política assim jamais poderá ter carácter nem produzir resultados sociais sustentáveis e portadores de futuro.
- - Dou um exemplo deste caninismo luso: ver o presidente do grupo parlamentar do ps (mas também poderia ser o do psd ou do pcp, do pp não porque só faz política através de recortes de jornais..pensando que está fazendo cabeçalhos no Independente ao tempo do Paulinho das feiras) - fazer a apologia do seu PM é, verdadeiramente, deprimente. Tanto mais quando o role-playing é sofrivel e monocórdicamente representado pelo sr. Albeto martins... Confesso que choraria se na 4ª feira estivesse nas Galerias do Parlamento. É preferível 10 mil vezes "ouver" Sócrates... Sugeria mesmo ao PM que proíba o seu "chefe de banda" (esta não é nenhuma piada para Ribeiro e Castro) parlamentar de falar, porque quando o faz os seus efeitos no discurso do PM são até contraproducentes e tendem a apagar e a parasitar a performance anterior de Sócrates, em geral boa - para frustração de toda a oposição e desânimo do país. Este desencontro é que é fatal para a sociedade, para a economia, em suma, para as pessoas.
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