Evocação de Roland Barthes
- Num momento em que boa parte do nosso tempo é passado em conceber e executar sistemas da morte, seria talvez oportuno que parássemos para pensar e perceber que tudo passa pelo que se diz e omite, tudo passa pela linguagem e pela língua, tudo deriva da comunicação. E é esta que leva os homens à guerra mas também à paz. Isto não é válido apenas para o Médio Oriente, mas também para África que morre aos bocados ante a paralisia sórdida e hipócrita desses poderes erráticos - começando desde logo pelo do Secretário-Geral da ONU - que fala, fala e... Nada!!! Parece até que essas falas são as embaladoras da morte... Quase tudo passa pela linguagem, daí ter-me lembrado de Roland Barthes que aqui singelamente evocamos.
... É do poder que aqui se tratará. A "inocência" moderna fala do poder como se ele fosse apenas um: de um lado os que o têm, do outro os que não têm; pensámos que o poder era assunto exemplarmente político; acreditamos agora que também é um objecto ideológico, que se insinua por todo o lado, por onde não é inteira e imediatamente captado, nas instituições, no ensino. (...) É quando adivinhamos que o poder está presente nos mecanismos mais subtis da comunicação social: não apenas no Estado, nas classes, nos grupos, mas ainda nas modas, nas opiniões correntes, nos espectáculos, jogos, desportos, nas relações familiares e privadas e até nas forças libertadoras que tentam contestá-lo: chamo discurso de poder a todo o discurso que engendra a culpa e, por conseguinte, a culpabilidade daquele que ouve. Há pessoas que esperam que nós, intelectuais, nos agitemos em todas as ocasiões contra o Poder; mas a nossa verdadeira guerra é diferente e ocupa um outro espaço; a guerra é contra os poderes, e esse combate não é fácil: porque se o poder é plural no espaço social, também é perpétuo no tempo histórico: perseguido, debilitado aqui, reaparece além; nunca definha: façam uma revolução para o destruir e imediatamente renascerá, voltando a germinar no novo estado das coisas. A razão desta resistência e desta ubiquidade é devida ao facto de o poder ser o parasita de um organismo e não apenas à sua história política, histórica. O objecto em que o poder se inscreve é, desde sempre, a linguagem - ou para ser mais preciso, a sua expressão obrigatória: a linguagem.
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