Troika de reflexões no III milénio: a "Pasmaceira", Ena Pá 2000 e o Portugal cansado
1ª Reflexão
PASMACEIRA (in Jumento) Isto está a ficar uma pasmaceira, Sócrates vai para o Douro apreciar a paisagem e conclui que aquela é a região mais bonita do país, Marques Mendes armou-se em estagiário de primeiro-ministro, fez umas propostas como se o discurso de encerramento do congresso tivesse a força de decreto-lei, e agora desapareceu, deverá estar a pensar na melhor forma de organizar mais um congresso. Louçã andou a carregar tijolos em Sesimbra, Jerónimo queixa-se de Cavaco por que este não visitou territórios libertados, no que deveria ser entendido como um elogio, pois se o presidente não visitou as autarquias progressistas é porque ali não há injustiça a registar no roteiro das misérias da nação. Ribeiro e Castro deverá andar a contabilizar as ajudas de custos das sessões parlamentares no carrossel Estrasburgo-Bruxelas, enquanto Portas vai cuidando do Lume para que a cozedura coincida com as próximas legislativas, momento em que servirá o Ribeiro como se fosse um cozido à portuguesa. A CAP veio passear as vacas a Lisboa mas os portugueses estavam na praia e os turistas deverão pensar que se tratava de uma iniciativa no âmbito do CowParade de Lisboa, o Carvalho da Silva da UGT deverá estar a organizar mais uma manifestação nacional que será medida pela repercussões no trânsito da Av. 24 de Julho, onde deverão estacionar os autocarros emprestados pelas autarquias progressistas. Isto está num estado em que o futebol já deixou de ser o ópio do povo, agora não vamos ao futebol para esquecer, ansiamos pelo futebol porque não temos nada para pensar ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Ena Pá 2000… Há dias uma estação de TV entrevistou um astro presidencial: o eterno Manuel João Vieira (MJV), o célebre dr. Lello Minsk dos Ena Pá 2000, consagrado vocalista dos Irmãos Catita. Além da pose excêntrica, pouco disse.
Diz MJV: acho a política um prazer, mas caríssimo. Tive de comprar um fato no conde Barão, um par de sapatos e troquei o Ferrari por um Lamborgini Miura, mas ainda estou a pagar as prestações. Depois, assevera: estava a pensar pôr o meu carro a gás. Questionado sobre a medida mais popular em Belém, diz: os nascimentos devem ser subsidiados e a licença pós-parto prolongar-se por 1 a dois anos. Não é uma medida demagógica, porque se os nascimentos não aumentarem a Segurança Social entra em colapso. E quero subsidiar a lingerie feminina a 100% e os perfumes de marca francesa a 150%. E todos os portugueses devem ter um Ferrari.
E qual a medida mais impopular? Vender o Porto à Inglaterra. Assunto que ainda está na corda bamba, penso que o melhor é fazer um referendo. Em que lugar gostaria de se encontrar com Sócrates para discutir problemas nacionais? Que tal perto de um precipício? Por ex., um pic-nic na Boca do Inferno. E quem será a 1ª dama? Apostamos numa eleição via Internet.
O Batatoon e o professor Neca serão os meus estilistas. E quanto espera ganhar? Os portugueses deviam todos ganhar o mesmo. É importante democratizar a democracia e retomar a política de saneamentos, por sorteio ou rifa, para não dizerem que favorecemos algumas pessoas. Pensa ainda celebrizar um dia com o seu próprio nome: o Dia Vieira.
Tudo isto se desenrolou em frente ao Planetário, em Belém, num evento onde estava uma multidão de cerca de 50 pessoas. Todas assinaram (sem ser empurradas) o respectivo apoio presidencial a MJV. E todas ouviram o discurso do candidato, que chegou atrasado, a esbracejar, num Mercedes SLK alugado, donde partiu acenando para os pastéis de Belém.
Será isto uma parte da caricatura de Portugal (similar à narrada por Eça no séc. XIX)? Que relação têm estas ressonâncias hilariantes com a classe política que nos (des)governa? Haverá algum traço de modernidade nos “Acácios” actuais? Ou será que tudo isto não passa duma brutalidade cómica, actualizada com a crise económica e moral do 3º milénio?!
Porque razão os portugueses andam cansados? Será do stress, do clima, do desemprego, da ministra das finanças, da falta de vitaminas? Somos (quase) 11 milhões de almas, só que 4,5 milhões estão reformados. Restam 6,8 milhões para trabalhar.
Paralelamente, existem 4 milhões de estudantes, os 2,75 milhões restantes são para trabalhar. Destes, 0,5 milhões são empregados do governo, sobram 2 milhões para trabalhar: 350 mil integram a Polícia, o Exército, a Marinha deixando o trabalho do país para 1,7 milhões. Excluindo o funcionalismo público, caímos para 1 milhão. Nos hospitais há 137 mil pessoas. Sobram 897 mil pessoas para trabalhar.
Com 200 mil inválidos, sobram 697 mil para trabalhar. Com uma população prisional de 80 mil almas, sobram 617 mil para trabalhar. Com 16 mil camponeses que vivem da terra, sobram 601 mil pessoas para trabalhar. Precisamente o número de pessoas desempregadas e marginais.
Logo, só existem 2 pessoas para fazer o trabalho todo. E como o leitor amigo está sentado a ler esta “estória”, tenho de estar muito ocupado. Daí o cansaço do nosso Portugal de sequeiro que navega à vista.
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