quinta-feira

Mundo sem palavras

Passamos a vidinha a utilizar as palavras para dizer mal dos factos que acontecem na realidade de carne e osso e também na outra realidade: a virtual. Ele é taxas de juro, subida do preço do petróleo, desemprego, ambiente, futebol, conflitos e guerras abertas e declaradas entre outras tantas taxas de juro - visíveis e invisíveis. Enfim, as palavras são "pau para toda a obra", como se costuma dizer. Mas e se amanhã acordássemos num mundo sem palavras, em que todos seríamos mudos?! Ou se, por qualquer razão, não as pudessemos utilizar. O que seria de nós? Será que depois tomávamos o pequeno almoço depois do jantar; será que os políticos que desgovernam o mundo estariam na selva no lugar dos macacos ou seriam os leões que viveriam na cidade que hoje é dos homens? O que sucederia se toda essa ordem alfabética das palavras que nos ordena o pensamento e as mensagens desaparecesse? Se os livros usassem páginas que voassem das estantes e, com isso, começassem a perder-se irreversívelmente as letras? Com a queda do "r" até os corpos passariam a ser meros copos; e quem "respirava" passaria a "espiar". Seria uma profunda revolução, talvez superior à da informática que está em curso. Muitos dos que falaram durante décadas, com sampaio à ilharga, seriam agora exuberantemente silenciados, ainda que quando falassem o resultado seria o mesmo do mutismo. E se amanhã não houvesse palavras, como é que este nosso mundinho se arrumaria? Como o repararíamos sem essas tais meretrizes ao vento tocadas pelos sons que se traduzem em palavras. Amanhã, como na imagem, seria um dia diferente. Seria um muro de sons, mas sem palavras...