quarta-feira

O regresso de Konrad Lorenz à sociedade de instinto canibal dos homens

  • Nota prévia:
  • - Segue esta interessante e oportuna reflexão por - José Adelino Maltez no - Sobre o tempo que passa: resta saber se ele procurou explicar a situação política, social e humana timorense ou se recorreu a Lorenz para retratar a sociedade lusa que, dentro e fora da academia, dentro e fora da esfera política, vai reprimindo como pode os instintos de explosão que o homem ainda vai conseguindo conter... E é aqui que Freud fala mais alto: reprimimos a violência - física e verbal - por causa do sistema de valores que assimilamos ao longo da vida, por causa daquilo a que alguns designam de "Cultura". Atrevo-me a supôr que se Portugal não estivesse integrado no espaço económico que é hoje a União Europeia, como o ortodoxo Partido Comunista desejaria, já nem ratos seríamos, mas vermes rastejantes esperando que viesse uma larva maior e nos engolisse. Isto conduz-nos a outra questão: a natureza do mal que há em nós, homens velhos, homens adultos, adolescentes, crianças e até recém-nascidos.. Ninguém, em rigor, está a salvo de ter praticado algum mal.
  • - Vejamos o que a preceito da maldade um santo, o Santo Agostinho, nos diz sobre esse assunto tão delicado quanto controverso e natural em nós: homens, verdadeiros animais - capazes de tudo sob as mais variadas privações; outras vezes, de barriga cheia e sem privações algumas, actuamos por mera maldade. Porque ela - a maldade - existe naturalmente em nós. E às vezes, infelizmente, a maldade manobra acima da nossa vontade consciente.
De vez em quando, reparamos que, se não houver boa cultura e boa educação, a sociedade humana pode regredir, voltando ao nível de continuidade das sociedades animais. Porque, em ambas, existem animais agressivos, marcados por organizações hierárquicas e onde até se distinguem nitidamente os papéis reservados para o masculino e o feminino. Nas sociedades humanas, apenas podemos estabelecer medidas para limitarmos a agressividade, para canalizarmos os respectivos excessos, mas não para a eliminar. Aliás, a chamada democracia não passa de um simples sistema de institucionalização de conflitos e o direito daquele reconhecimento da circunstância de o homem ser um animal de regras, onde as regras só o são porque podem ser desrespeitadas. Como ensinou Konrad Lorenz, o ser humano é um animal agressivo como todos os outros animais. Não vivemos apenas segundo a fórmula de Hobbes, do homem lobo do homem, mas também segundo o lorenziano acrescento do homem rato do homem, dado que, por vezes, o homem se assemelha ao dito, pois, ao contrário dos animais normais, como o lobo, o homem, tal como o rato, mata os rivais da mesma espécie, ao contrário dos restantes que apenas matam os de espécie diferente, procurando, para os tais da mesma espécie, apenas mantê-los à distância, quando se visa conquistar um simples território alimentar. Porque, em casa onde não há pão, todos ralham e todos têm apetite de rato...