sábado

Okusai e o tempo

O pintor Hokusai era também um pensador do tempo, o que fez dele um pintor de maior envergadura. Curiosamente tenho até um livro com a capa dele que na altura me fora muito bem sugerida. Mas a sua evocação aqui tem outro fundamento: o tempo, o nosso tempo. O que nos mede a vida e depois nos transforma na tal encomenda que ninguém quer levantar nos correios do fim da linha. Explicito: regra geral passamos a vidinha contar os nossos anos pelas estações do ano, pelos limites rígidos fixados pelo tempo, pela desgraçada estatística entalados que estamos pelos efeitos somáticos e psíquicos da nossa própria vida. Talvez não fosse por acaso, e para contrariar aquela contagem de rebanho que não interessa para nada, excepto para o Estado e para os impostos que ele saca à turba, seguir aqui Confúcio, cuja sapiência nos dizia que aos 15 anos tinha aprendido algo, aos 30 tinha-se afirmado, aos 40 não tinha dúvidas (fase Cavaco), aos 50 já conhecia a vontade celestial, aos 60 os ouvidos estavam afinados, aos 70 seguia os desejos do coração...
  • - Mas é com Hokusai que esta teoria melhor se desenvolve e conclui. Este pintor faleceu em 1849, com 90 anos, e escrevia aos 75: Não vale a pena prestar atenção a tudo o que eu produzi antes dos 70 anos. Aos 90 irei decifrar o mistério das coisas; aos 100 anos atingirei um estado maravilhoso; e, quando chegar aos 110, tudo o que fizer, seja um ponto ou uma linha, terá vida. A grande onda, Hokusai