sexta-feira

Ilusionismo político ou a realidade invisível

Creio que o Portugal-político já há muito começou a jogar xadrez com a realidade invisível, numa espécie de ilusionismo político dos novos tempos. Quem ouve 10 min. um debate parlamentar, se não tiver filtros, fica paralisado como um pardal diante duma serpente, ante tanta sapiência e oratória dos actores políticos. Mas, na realidade, a política em Portugal - e isto vale para o poder como para as oposições - socorre-se da modernidade para mostrar apenas o que deseja mostrar. Aquela foto abaixo postada pelo Jumento - é uma ilustração gráfica dessa metáfora, perdão, dessa realidade. E aquilo que não é do interesse dos agentes do poder mostrar é, pura e simplesmente, encoberto pelo seu véu ideológico, oratórico, o que for. Para a modernidade não existem filas de pessoas aguardando por uma operação básica; não existem pessoas desesperadas por não terem direito ao acesso à justiça; não existe um nível de desemprego escandaloso. Não!!! o que existe, respectivamente, são pessoas que recorrem ao médico por tudo e por nada; pessoas que querem implicar com o aparelho de justiça porque não gostam de juízes; alguns malandros que não querem trabalhar. Por outro lado, neste manjar semântico que serve uns e desfavorece outros - na lógica da trituração do poder, sempre o poder!!! - as únicas dívidas visíveis não são as dívidas do Estado, mas a dos particulares à banca para saldar a compra de casa, do carro e das férias - entre outros caprichos. Os buracos nas estradas pouca ou nenhuma importância têm ao lado dos buracos na educação da população. A prostituição do elefante branco e conexos não afecta ninguém, serve até alguns energúmenos da classe dirigente futeboleira - que assim ganha ânimo para o mundial - e contribui para estimular o emprego brasileiro e do leste europeu... Aqui que existe são clientes, vistos enquanto turistas que aparecem na contabilidade nacional ao lado dos impostos dos funcionários públicos e dos pequenos e médios empresários que passam a vida a trabalhar e pagam ordeira e pontualmente os seus impostos. Portanto, nunca se fala em prostituição, ou até em corrupção que ficámos agora a saber que não existem em Portugal!!! mas sim no aumento da entrada de divisas, ainda mais pela via do prazer. Por fim, e para fechar este corsi e ricorsi desta manipulação da linguagem e da oratória por parte dos agentes políticos que no hemiciclo contam anedotas ao país-real, a violência urbana é uma realidade visível, mas a violência social que a causa está e permanecerá oculta. De facto, será caso para dizer que, além do ilusionismo político de circunstância, a língua portuguesa é muito...