Como vai ser Cavaco Presidente?
Uma multidão de prospectores em regime de prospectiva tentando comprar o futuro.
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Como vai ser Cavaco Presidente? Luís Delgado Jornalista Salvo os imprevistos habituais, em dez anos de mandato - cinco mais cinco -, Cavaco Silva é uma personalidade fácil de ler, e compreender, pelos dez anos que passou como primeiro-ministro, os dez seguintes, em que se manteve quieto, mas não calado, e os próximos dez, como Presidente da República. Como vai ser Cavaco? Linear É a sua característica de personalidade e política mais vincada. Dele não se esperam surpresas, estados de alma, curvas sinusóides, depressões e maus momentos. Vai rigorosa e matematicamente cumprir o que prometeu, como candidato, e dali nunca sairá, mesmo na maior das pressões ou contra o que lhe possam pedir ou sugerir. Aliás, Cavaco ouve poucos, muito poucos, mas apenas para confirmar aquilo que já tem na cabeça. Decide por si, sozinho, sem grandes angústias existenciais nem curvas irracionais. Assim sendo, o Governo e os partidos - a maioria e a oposição - vão ter nele aquilo, e só aquilo, que ele disse que faria, sem nenhuma alteração de rumo. Cavaco, metaforicamente, é como um piloto automático: quando define o rumo, introduz as coordenadas na cabeça e não muda até ao destino. É de uma linearidade singular. Seria sempre um grande piloto de aviões... Metódico É a segunda característica da sua personalidade que mais sobressai, e só assim é que conseguiu traçar uma linha recta entre a chefia do Governo, a passagem pelo deserto e o regresso ao vértice político institucional português. Pensa, estuda e decide com método, organizadamente, sem erros de análise de grande monta, vai percorrendo o caminho até atingir o que pretende. Mesmo que não seja politicamente correcto, ou maioritariamente consensual. De todos os presidentes que já tivemos, em democracia, Cavaco é o que está mais bem preparado para exercer o cargo e o que tem uma capacidade inata para perceber o essencial, ajudar onde é preciso e evitar conflitos desnecessários. O primeiro-ministro, sendo um pouco como ele, vai ter uma relação exemplar com Cavaco, mas as suas conversas semanais, ou outro tipo de encontros institucionais, não serão um passar de tempo sem consequências, ou uma conversa de café. Não existirá tema, ou dossier, ou agenda em que tudo não esteja milimetricamente planeado e do qual Cavaco não fugirá nunca. Como Sócrates tem um estilo idêntico, as coisas vão correr bem, à primeira vista. Exigente É a característica induzida pelo seu percurso de vida, particularmente na área académica, que lhe deu uma capacidade excepcional de exigência, profissionalismo e entendimento dos grandes problemas do país, da Europa e do mundo. Sempre muito bem informado, e capaz de acompanhar todos os movimentos bruscos a qualquer nível, possui uma intuição e uma capacidade prospectiva que poucos têm e usam. Cavaco, muito antes de outros, conseguiu prever os bons e maus ciclos de Portugal, e da Europa, com um rigor impressionante, e isso dá-lhe a vantagem de andar sempre uns passos à frente. E essa capacidade, que tendo algo de inato é fruto da sua vida académica e política, leva-o a antecipar qualquer movimento menos aceitável e a saber lidar, em antecipação, com todo o tipo de crises. Dele não se podem esperar altos e baixos, dias sim e dias não. Em Belém será sempre um factor de estabilidade, mesmo que Portugal e o mundo estejam de pernas para o ar. Fechado Pela equipa que escolheu para Belém, está confirmado o perfil de exigência e controlo que quer mostrar em Belém. Sendo pouco empático, Cavaco teve dez anos para atenuar essa faceta pouco sociável, e as funções obrigam-no a uma mudança de atitude, que já é visível. Seja como for, será o único traço de personalidade que só o tempo mostrará como conseguiu resolver. Certo é que não tem poderes executivos e isso alivia a sua tensão natural. A ver.
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