As notas de Marcelo
Como hábito, e sempre que posso, vejo as rábulos do prof. Marcelo. São quase sempre um exercício de inteligência pura (mas mui pouco aplicada) porque depois começa a repetir-se, e os argumentos que servem de fundamento a atribuição às más notas para um ministro servem também para outro menos mau. Confesso que ao ver e ouvir Marcelo hoje falar de Sampaio - e disparar num balanço positivo nestes dez anos - fiquei um pouco preocupado, ié, fez, mais uma vez, a quadratura do círculo.
- Foi de "amigo". Ouvi-o com atenção e respeito, mas creio que aquelas notas se aplicam melhor à sua "entrevistada" - (que ele entrevista) que está alí a fazer o papel de "pau de cabeleira", debitando uns parágrafos combinados préviamente, apesar de (tentar) dar uma aparente espontaneidade - do que ao balanço de uma década de Sampaio. Que foi verdadeiraente omisso, impotente e verboroso em muito mais coisas e áreas da acção política, e não apenas em relação à lei de programação militar, investidura de Santana e por "não ter puxado as orelhas" a Guterres, etc, etc. O prof. Marcelo - e digo-o à vontade porque até tive o privilégio de o convidar para integrar o plano editorial de um livrinho que editei recentemente, sofre de esquecimento selectivo, é profundamente injusto e prova que a inteligência e o talento comunicacional que tem não é depois acompanhado, como devia, pela bondade e justeza intrínseca das suas críticas (nuns casos) e elogios parciais e fáceis (noutros casos, só para agradar, é claro!!!). Porque se trata de pessoas amigas, próximas ou, simplesmente, por não terem disputado políticamente projectos, ideias e o mais. Ora o prof. marcelo, para ser mínimamente isento e justo, deveria ter focado a sua douta crítica no PR na esfera da Justiça/casa Pia/PGR-leia-se acção vergonhosa com Souto Moura que anda há dois a beber cunhas e muletas de Belém que é, no fundo, o que o tem segurado naquele posto. Nas relações com o governo também, mas para isso era suposto que Sampaio tivesse uma noção dos problemas e estrangulamentos que condicionam a economia nacional. Conversar com banqueiros em vésperas de investiduras e demissões não basta.
- O prof. Marcelo é, de facto, um homem inteligente, mas padece do mal que lhe ataca as vísceras e depois lhe deturpa a lógica da comunicação racional e o deixa cego. Há ali um fio de razão e de justeza que se interrompe no trajecto que liga os seus neurónios ao seu coração, e depois absolve Sampaio dizendo um conjunto de banalidades - para não dizer outra coisa mais feia -: não vai para nenhuma fudação, universidade ou posto internacional... Estaria ele, porventura, a referir-se a Durão ou a Guterres... O prof. Marcelo - esqueceu-se do que de mais grave sampaio fez (ou melhor, não fez!!!) - mas nós lembramos aqui o professor das notas que dá a tudo e a todos: dizia de Sampaio que tudo aquilo que falava era imperceptível, salvo se o próprio estivesse a ler um papel. E nas reuniões de CML sempre que Marcelo entrava em cena Sampaio tinha um ameaço de ataque cardiaco. Hoje, volvidos anguns anos, e umas medalhas pelo meio, cresceu a amizade, floresceu o convívio e vemos aqui o bom Marcelo fazer elogios a Sampaio. Temos, de facto, aprendido muito com o prof. Marcelo nestas rábulas de fim-de-semana. Vejamos algumas dessas aprendizagens:
1) Quanto mais ouço Marcelo mais respeito tenho por António Vitorino que, malgré tout, consegue ainda ser um pouco mais isento e justo;
2) Ser melhor do que os outros é uma uma tremenda injustiça - o que subtrai mérito a muito do que se diz. E quem perde é, óbviamente, a verdade analítica - penalizada com a distorção dos factos para poupar "amigos" ou crucificar inimigos pessoais e/ou políticos - por isso, a teoria do ressentimento (que ele imputa os "santanas", "ferros" e compª) assenta, ou também assente que nem uma luva de pelica a Marcelo - por muito que isso lhe custe;
3) Aceitar trabalhar com a senhora jornalista é, e sem querer sem ofensivo para a senhora entrevistadora, extremamente limitativo - dado que a mesma tem perfil para tratar de assuntos de culinária, assuntos místico-religiosos, turismo, pousadas, trajectos domingueiros, chamuças e pastelinhos de bacalhau - mas nunca de temas conexos ou confinantes com a política. Um dia alguém, talvez o seu amigo VPV - terá de lhe perguntar publicamente porque razão ele aceita ou quer que as coisas sejam, de facto, assim. Mas espanta-me, conhecendo Marcelo do seu valor relativo aceitar estar ali com uma pessoa - ou uma "aluna" - para seguir a sua terminologia que tanto aprecia - que não vê um "boi" de política à frente (nem com óculos), teoria política ou de qualquer OPNI confinante com a área. A Constança Cunha e Sá já seria, por exemplo, uma entrevistadora à altura, mais-a-mais beneficiando do inside que tem com o genial VPV - seria o máximo - e o ciclo analítico fechar-se-ía; assim, andamos todos a apanhar balões na ressaca do carnaval com a srª Ana Dias de Sousa: perfeito, pior seria impossível;ninguém está a ver António Vitorino ser entrevistado por Raul Durão - num qualquer Apontamento de Reportagem numa esquina perto de si... Por favor prof. Marcelo!!! - tanto rigor numas coisas e tanto laxismo noutras... Que critério é esse, afinal???
4) O que fica por dizer é mais relevante do que aquilo que se disse, o que significa que Marcelo continua a ser um mestre dos silêncios e das multidões de assuntos delicados que, no caso vertente - precisamente para poupar Sampaio - representa o exemplo de paradigma negativo que jamais se deverá seguir, dado que viola o princípio da verdade;
5) Por todos estes míseros elementos, reconhecemos que, infelizmente, o talento indiscutível do prof. Marcelo não é acompanhado nem pela bondade nem pela justeza de certas análises - sobretudo quando reportam a factos ou a pessoas que ele cirúrgicamente quer poupar nas suas notas de weekend. Já para não falar nos books que ele apresenta. Mas aqui sou suspeito, muito embora e por amor à verdade - aqui o critério é o da simpatia pessoal em muitos casos semelhante ao que vigora no relacionamento com a entrevistada e o formato do programa - em que Marcelo faz as quetões, dá as respostas, contola o tempo e terraplana qualquer desvio da srª dona Ana - sempre que esta tenta aduzir uma vírgula, meter um parágrafo, conceder um sinónimo - tudo para justificar ali a sua gratuita presença e o salário que aufere pago por todos nós através da RtPum.
- Mas felizmente nós por aqui já rasgamos alguns livros que o prof. Marcelo leu. Por isso, percebemos até à exaustão cada razão, ao filigrama, que o leva a fazer o que faz, a dizer o que diz, a ocultar o que oculta e o mais. É a teoria do vested interest que nem sempre está ao alcance de juristas no mercado de ideias;
- Também a justeza das análises é um tema sério demais para ser tratado por analistas, ainda que advogados ou jurisconsultos. E no nosso caso, como não tememos uma nega futura na apresentação de um livro, prefácio, post-fácio etc e tal - dizemos aqui o que pensamos - de coração aberto - livre de qualquer coacção psicológica - presentes ou futuras - como é hábito fazer-se na Academia - a fim de instilar o medo e, assim, traçar a conduta alheia. Só que para esses velhos aprendizes da política - há um dado que frequentemente omitem, esquecem ou então nunca aprenderam: é que a espada da Justiça tem sempre dois gumes.
- E quem está deste lado da caixa negra tem sempre mais lucidez - ou pelo menos a lucidez suficiente para compreender que na Justiça dos actos políticos - assim como na Liberdade - a "facada" que damos em alguém (que pode traduzir-se num elogio artificial, apenas visando o elogio fácil ou a sua absolvição forçada) - nunca poderá ser justificada dizendo que se tratou dum acidente, por não sabermos que a arma estava carregada.
- Ora, com os elogios forçados c' ést la même chose, e é aí que os "artistas" mais perspicazes compreendem que o homem talentoso, afinal, é tão parcial e injusto que nem sequer percebe que o crime analítico (cometido quando a razão analítica não coincide com a razão ou verdade política) não compensa. Foi isto precisamente que hoje Marcelo Rebelo de Sousa fez na Rtp1 frente à guia turística que está ali a marcar presença; a qual também não percebeu que os portugueses perceberam que toda aquela mise en scéne rouba espontaneidade ao processo e à lógica comunicacional que era suposto presidir num programa deste tipo. O prof. Marcelo hoje minguou. A verdade analítica apanhou-o na curva, e se não muda o formato de agente interpelante poderá sair-se mal;
- Hoje aprendi muito com o prof. Marcelo, e fiquei a ter menos respeito intelectual por ele. Por isso dizemos aqui que seria de todo vantajoso que ele visse com mais atenção o Vitorino; quanto à senhora entrevistadora - não dizemos nada, ou talvez que as chamuças estavam muito boas, razoáveis, assim assim ou não prestavam, ficando nós sem saber quem é o original: se ela ou se a Maria Rueff...
- Ao fim e a cabo, sempre aprendi com os grandes filósofos que devemos julgar os outros, como se de nós próprios se tratasse, para sermos mais tolerantes. Mas caramba!!!, também excusamos de omitir tanto. Excusamos de abusar do menú da memória selectiva. Uma memória que fez de Marcelo um elefante numa loja de porcelana... E em nome de quê, afinal??? Da amizade? Então, esta não valerá a verdade?!
- Já agora, o que o prof. Marcelo entenderá por verdade? Se calhar foi ela que esteve na origem da partida de Durão, no abandono de Guterres, na sua própria incapacidade/ou falta de coragem política para assumir a liderança do PSD - no passado e no presente. Porque, como ele disse, gosta de estar ali na companhia da senhora dona Ana Dias de Sousa. Brilhante: pior seria impossível. Gostei desta tirada de Casanova da teoria política que integrará os novos compêndios de filosofia política ou teoria de qualquer coisa..
- E o dr. sampaio onde se meteu nesse entretanto??? Escondido nalguma saleta do imenso Palácio de Belém? Pensando a grande política de Timor quando Gueterres já tinha burilado tudo??? E que fez elas das centenas reuniões às 5ªfeiras com o governo??? Será que as soube utilizar a fim de ajudar a prevenir a crise? Sugerindo, limitando, talhando investir em novas políticas públicas, ameaçando vetar outras, etc, etc,... É óbvio, ao invés do que diz o génio Malcelo que o pR deveria e poderia ter contribuído para prevenir a crise económica, social e moral que afecta a globalidade das instituições em Portugal. Mormente, o pilar da Justiça - em que é suposto ser um pouco mais conhecedor. Mas na boca do doutor Marcelo - Sampaio esteve mal em dois ou três casos, e, por isso, o balanço é positivo. Nunca vi, confesso, tanta parcialidade sair dos neurónios daquele que é considerado o génio da comunicação política em Portugal. Será das águas do Guincho?
- Até as birras e as caretas do engº Sócrates - contra os desgraçados dos deputados comunistas na AR servem para teorizar política, pasme-se!!! Por este andar, e como o prof. Marcelo é o drama em pessoa, e gesticula a 1000 à hora, amanhã o PM também poderá dizer que Marcelo é um autómato da Auto-Europa que vai ali para os estúdios da RTP montar e desmontar protótipos da VW deixando a entrevistadora completamente atónita... Enfim, mais um "sukete" para a M. Rueff.
- Bom, foi aí que eu parti os queixos, por força da valente queda que dei. Tudo por amor à verdade analítica, claro!! Entretanto, dei comigo a pensar que o resultado da queda me conduzira ao hospital. Mas enquanto suponha estar no hospital lembrei-me que a cornucópia estava prestes a representar mais uma peça de teatro. E foi aqui que me bifurquei: supor que estaria no hospital, ou no teatro. Mas não: estava a ver a RTP1. Ainda hoje não acredito. Estarei esquizofrénico?!
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