O chá das 5 com Agostinho da Silva
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- Mas retomemos o essencial: ou seja, de Agostinho da Silva - que nunca fez jogo duplo tentando servir o diabo (leia-se, a ditadura) e Deus (a democracia superveniente), como inúmeros restolhos que transicionaram para a democracia pluralista dando a entender à turba - que os acolheu - que sempre foram democratas e pluralistas quando, na realidade, a maior frustração que ostentam hoje é a de viverem sem terem sido presidente(s) do concelho, ou seja, não terem podido substituir o velho "botas", o grande e durável Salazar. E alguns ministros do ancien regime até deixaram de se falar por serem dois galos a querer disputar a mesma capoeira, perdão, o mesmo poleiro. Refiro-me, em bom português, porque este blog não é de meias tintas nem sonso, nem hipócrita nem segue a política do cagaço institucionalizada por Freitas: A. Moreia e o já falecido historiador e ensaista Alberto Franco Nogueira. Davam-se bem especialmente quando não se viam. E quando não se viam odiavam-se cordialmente, santamente, piamente, encíclicamente.
- Mas esta estória não se prende apenas às babas dos velhos do Restelo, sob pena de nunca se ter realizado as Descobertas, ou melhor, a Navegações, que jamais poderá ser creditada aos restolhos que ainda pululum por aí, ou andam por aí. O que procuro significar é que vejo Agostinho da Silva como um guia que ensinava muita coisa a muita gente. De facto, ele não foi apenas um pedagogo. Assim, como alguns ministros de Salazar, uns foram muito piores e outros muito maus. E outros ainda, tinham as mãozinhas em duas plataformas e depois deixavam a mãosinha sobrantes na plataforma que fosse elevatória para, desse modo, ascenderem à Democracia dos vencedores. E hoje são uns verdadeiros democratas, emboram a cara, o estilo, os tiques, os gestos sejam todos, mas todos mesmo do ancien regime.
- Agostinho, de facto, queria tudo para todos. Pretendia que todos vivessem em plenitude: na cultura, na economia, na sociedade e na política. Era um homem duma bondade inexcedível: sem arrogância, sem soberba, sem tiques erráticos de personalidade auto-convencida, sem traumas, sem desvios, sem hipersensibilidades, sempre coerente com o que pensava e fazia. Nele, ao invés dos restolhos mal formados - que deixaram nos corredores das faculdades toda uma geração de doutores e de catedráticos psicológicamente marcados, e, hoje, ainda sofrem os vícios comportamentais dessas marcas genético-desviantes - como quem reproduz a violência psicológica de que foi alvo (eis o raciocínio: se eu fui maltratado também vou maltratar os outros), o altruísmo de Agostinho era a regra, o seu solidarismo o padrão, a cooperação o automatismo desejado. Agostinho da Silva nunca deixava ninguém "pendurado", e por vezes o motorista era o 1º a ser cumprimentado. Nele, ao invés dos restolhos salazarengos do costume - a imagem batia certo com a sua autenticidade. De modo que ir a casa dele durante anos a fio foi um prazer e um privilégio incomensuráveis.
- - Era como ir a casa do mestre dos mestres beber uma taça de chá. Só que o chá vinha para a mesa e Agostinho (como que) enchia a taça do seu visitante e, depois, continuava a "festa" até a coisa transbordar..
- - Vai daí o visitante só podia observar: ó professor páre lá com esse emborcamento desregrado porque está a entornar tudo e a desperdiçar o chá. Não vê que não cabe mais nada na taça!!!
- - A surpresa vinha depois, como sempre em Agostinho da Silva: tal como esta taça, dizia: ó rapaz estás cheio das tuas própias opiniões e conjecturas. E assim como poderei eu revelar-te o Zen que queres aprender, se antes não esvaziares a tua taça? Ou melhor, a tua cabeça...
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