terça-feira

Thomas Schelling - o Nobel da Economia/05

Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Quando pensamos nos problemas do mundo e nos processos transnacionais e de interdependência estamos, na realidade, a equacionar as questões da guerra e da paz, da força e da fraqueza, do excesso populacional e da escassez de recursos, da poluição e da perservação do ambiente. Enfim, falamos da prosperidade e da pobreza, da liberdade e da opressão, da realidade e da ilusão, da acção e da apatia, da revolução e da continuidade, da identidade e da transformação, do ter e do não ter, dos "have" e dos "have not". Se pensarmos à luz do nosso tempo podemos colocar a questão do seguinte modo: até que ponto podem os povos, os Estados e os grupos sociais modificar o seu comportamento, os seus objectivos, o seu carácter, a sua identidade interna e, ao mesmo tempo, manter a sua própria identidade? Thomas Schelling - cedo percebeu que os conflitos integram a natureza humana, e assemelham-se a jogos cujos jogadores procuram manter um controle racional dos seus próprios lances. Embora não necessáriamente o desfecho desses lances. É a alguns dos jogos e dos modelos da teoria dos jogos que podem ser aplicados a outros sectores, como a competição na área dos negócios, da diplomacia, da política e da guerra e da paz. O xadrez, o póquer, o bridge, guardam essas semelhanças abstractas com as situações de conflito na vida real. Este ano The Royal Swedish Academy of Sciences decidiu premiar conjuntamente:
  • Robert J. Aumann
Center for Rationality, Hebrew University of Jerusalem, Israel and Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us
  • Thomas C. Schelling
Department of Economics and School of Public Policy, University of Maryland, College Park, MD, USA, "por terem reforçado o nosso entendimento do conflito e da cooperação através da análise da teoria dos jogos" O conflito e a cooperação são vistos pela lente de grupos de indivíduos, organizações que querem promover a cooperação, enquanto que outros sofrem pela via do conflito. Ora é através deste trabalho conjunto que se estabelece a teoria dos jogos, uma teoria da decisão interactiva - que emerge como paradigma de compreensão desta já velha questão. Uma questão que vem da Guerra Fria, das armas e do controlo das condições em que a guerra e a paz são feitas. Hoje, essa guerra é feita através da economia e da definição da estrutura que modela a globalização competitiva no sistema internacional e no interior das nações. Isto era crucial ao tempo da GF e do eventual conflito nuclear que prendeu o mundo por um fio, em inúmeras ocasiões. A crise dos mísseis de Cuba, em 1962, foi um desses casos de potencial conflito - dada a incerteza dos comportamentos que ambos os contendores - EUA e URSS - poderiam desencadear. Daí a necessidade de elaborar estimativas o mais racionais possíveis para evitar o conflito. Dizia-se até que Napoleão aconselhava os seus generais a basear a movimentação dos seus efectivos militares na avaliação que pudessem fazer das potencialidades dos adversários, ao contrário da avaliação das suas próprias capacidades e/ou intenções, que certamente eram menos confiáveis. É esta visão do jogo que foi agora nobilizada. E bem a nosso ver. Dado tratar-se já duma formulação antiga, de grande relevância intelectual e só peca por ser tardia nesse reconhecimento para as Ciências Sociais e Humanas. Em certos momentos das nossas vidas, é conveniente atacarmos, noutras é mais eficiente resistirmos às potencialidades dos adversários. Racionalizar estas dualidades e gerir esta incerteza em nome da cooperação, é a grande contribuição de T. Schelling - que estudei nos bancos da universidade, ainda em plena Guerra Fria. Depois dela, a formulação de Schelling tem plena actualidade, desde que seja adaptada ao mundo dos negócios e à complexidade do funcionamento dos operadores económicos e financeiros internacionais que fazem e desfazem a globalização dos nossos dias. Nuns casos, cultivar a cooperação é mais fácil; noutros torna-se mais imediato partir para o conflito. Em qualquer dos casos, urge sempre identificar os requisitos da cooperação. Que se agrava quando os actores se multiplicam, e passam a interagir de forma muito irregular, umas vezes cooperando, outras conflituando num jogo pleno de incertezas cujo desfecho não se conhece. Portanto, cada jogo, cada padrão de relação revela um padrão de conflito. Por exemplo, qual será a relação futura entre Marques Mendes e os candidatos independentes (do PSD)? Cooperação? Hostilidade permanente? Um misto de ambas? Em suma: T. Schelling deu uma valiosa contribuição para um eficiente entendimento da política internacional. Seja ao revelar situações de ameaça, seja de dissuasão - ou de ambas num jogo de interesses mitigados. Será essa racionalização de condições, de objectivos e de estratégias que quiz transmitir-nos quando, há cerca de 40 anos, escreveu o seu The Strategy of Conflict. Só não entendo uma coisa: porque razão The Royal Swedish Academy of Sciences não premiou também, e, sobretudo, o Anatol Rapoport com o seu Dilema do Prisioneiro??? Esperemos que não tenha sido nenhum resquício da Guerra Fria, ou ódio de estimação do passado feito presente... Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Julgamos, a avaliar pelo que aprendemos desta nossa breve passagem pela vida, que é a atitude de cooperação que duplica em frequência sempre que a matriz dos ganhos é contínua e relembrada aos actores políticos num dado momento e conjuntura. Admitamos o exemplo dado acima. Será lógico que todos cooperem a fim de maximizar os ganhos colectivos e evitar ou limitar as perdas comuns. Mas em todo o raciocínio há sempre doses maciças de filosofia, a mãe de todas as ciências. O que só corrobora a opinião de E. Kant que diz que só um completo conhecimento da situação faz com que as pessoas se tornem mais dispostas a cooperar e a ter um comportamento ético. Por vezes, defendemos o sistema de valores e perdemos na organização dos objectivos. Ganhamos a alma e perdemos a cidade. Outras vezes perdemos tudo, menos a memória. E às vezes até a memória. O importamte, é sempre pensar o impensável, como referiu Hermann Khan. Geralmente é esse empnesável que surpreende a realidade e acaba por se impôr no rio dos factos. Seria interessante supôr o que seria da Guerra Fria se não se pensasse já nessa base, que acabou por culminar na teoria da Dissuasão. Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us
T. Schelling diz que as duas partes em conflito têm também o interesse comum de que a ameaça não se materialize. E eu lembrei-me logo do Zé Eduardo dos Santos (Zé Dú para os amigos) em Angola... Eles já estão em paz civil há uns anos. Mas a guerra foi sempre estimulada em certos sectores do aparelho de Estado. Terá sido por causa dos dólares, dos diamantes ou apenas só para afinar a pontaria e a precisão das armas???