O artigo de Luís Todo Bom sobre Isaltino Morais - por Joaquim Paula de Matos
Meu Bom Tio,
Agradeço-te a reflexão. Pela lucidez e inteligência que mais uma vez revelas. Penso que todos agradecemos, no fundo. Até o próprio dr. Isaltino Morais (apesar de não ter procuração sua) que, apesar de tudo, revela uma tremenda abnegação e um excepcional espírito de sacrifício. Ontem, na RTP1 - práticamente todos os candidatos estavam contra ele. Até os jornalistas. Todos, excepto Teresa Zambujo. Parece que vi até um certo olhar de ternura nela por ele. E também, confesso, julgo ter constatado o mesmo orgulho de Isaltino por Teresa Zambujo. Ela deve ter pensado:
- Eis-me aqui a poder atacá-lo rasteiramente, como os outros candidatos, invectivando-o de tudo e mais alguma coisa. Podendo destruí-lo políticamente com duas ou três palavras", mas não o fez;
- Ele, porventura, terá feito exercício similar mas de sinal oposto: "ali está Ela, nomeada por mim, ocupando hoje o meu anterior posto de comando, mas aguentou-se bem e agora bate-se com determinação pela conquista da legitimidade popular".
E assim Isaltino transpirava orgulho em Teresa; e Teresa denotava um certo afecto por Isaltino. E eu como oeirense - reconhecendo as qualidades políticas e até humanas que o dr. Isaltino também tem - fiquei com vontade de inventar uma outra cidade de Oeiras só para o dr. Isaltino poder concorrer, sem rupturas, sem clivagens, sem conflitos endógenos que fragmentam a família política e dividam os oeirenses. Mas isso é impossível.
Afinal, trabalharam juntos. Foram amigos. Partilharam experiências políticas em comum em prol do Concelho de Oeiras. Isso não se pode desfazer artificialmente ou apagar num ápice. Por isso, Teresa Zambujo nunca deixou de lhe ser leal, mesmo podendo criticá-lo para amealhar mais uns votinhos serôdios.
Em meu entender, fez bem em não o atacar pessoalmente. Revela personalidade, fair-play, educação e um apurado common sense. E isso não é fácil de gerir, confesso. Por vezes, ponho-me a pensar o que faria nessas circunstâncias... E não encontro resposta. Fraqueza minha, certamente! Em última instância, como sabes, meu Bom Tio, - pode dar-se o caso de tudo isto não passar de uma maquinação do destino, de uma vingança dos deuses contra ele. É que da Suiça só conheço os chocotaes e os magníficos relógios. E como eu gosto de relógios. Mas ainda não inventaram nenhum cujos ponteiros fizessem parar ou, pelo menos, congelar, o tempo..
E depois quem o absolverá? Só o tempo o dirá. O tempo, esse grande conselheiro. Esse grande matreiro. O tempo que nos dá a vida para no-la tirar logo de seguida. O tempo é, de facto, um deus mas também é o diabo à solta que brinca connosco quando quer, como quer sem nunca dar o flanco. O tempo, como diria o amigo Agostinho da Silva, é essa eternidade, essa linha invisível onde cabemos todos - para depois desaparecermos todos. E, por vezes, há que ter a noção dos limites da nossa própria precaridade e pequenez. E quando pensamos que decidimos algo, é esse algo que nos comanda a vida. Uma vida, muitas vezes, sem sentido. E o culpado é o tempo. Que nos marca o ritmo da vida e também da morte. Sem aviso prévio nem notificação oficial...
- O ARTIGO DE TODO BOM SOBRE ISALTINO MORAIS. APOLOGIA DA AMIZADE
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