As autárquicas e a conquista das multidões
Nas próximas 2/3 semanas o ritmo das acções de rua e nos media a fim de conquistar a vontade das multidões, irá intensificar-se. É assim que irão emergir das ruínas muitas propostas, algumas estranhas, outras veiculadas por candidatos que não se sabe se vão para a autarquia a que se candidatam ou se vão direitinhos para a cadeia. Perdendo imediatamente o mandato depois de terem conquistado o poder nas urnas. Isto revela bem a qualidade da Justiça que temos, e a dos majistrados também - sentados à manjedoura do orçamento de Estado pedindo sempre mais férias. Mas há excepções a esta improdutividade, naturalmente.
Viveremos, pois, nos próximos dias essa agitação das almas em busca do controle das vontades. É a luta pela conquista das multidões, que hoje são preponderantes na definição das maiorias sociológicas necessárias para capturar o poder. Isto é tanto mais verdade quanto mais fraca é a influência das leis e das instituições, designadamente as judiciais, que parecem peças de decoração para enfeitar móveis antigos, em casas devolutas. Tudo isto perde perante a natureza impulsiva das multidões, pelo fenómeno do homem-massa, alienado, massificado, que deixa de conseguir discernir e de separar o trigo do jóio.
Há como que uma lei mental que encaminha as massas num sentido ou noutro, mas que em qualquer caso faz desaparecer a personalidade individual de cada pessoa, que agora está ali, na praça pública, na rua, no sofá diante do televisor, tentando reencontrar-se consigo próprio.
Tudo para evidenciar um ponto que estará em destaque no media nacionais nos próximos dias, e de que aqui nos ocuparemos amiúde, ou sempre que se justifique no terreno analítico. É essa incursão pelo domínio da política, ou seja, pelo interior do comportamento humano que tentaremos acompanhar, perscrutando a influência de certas emoções, muita demagogia e populismo, lógicas discursivas corruptoras, enfim, é tudo isso que faz e desfaz a chamada psicologia das multidões a que nos referiremos.
Bem sabemos como meia dúzia de homens podem constituir uma dessas multidões psicológicas que votam num certo sentido, ao passo que um milhar de pessoas noutro canto - pode não se entender sobre nada. E o inverso também é verdade, consoante as ideias, as lideranças, os discursos mais inflamados que iluminados, e a acção de um conjunto de factores objectivos e subjectivos que, de um momento para o outro, pode ficar descontrolado. É daqui de decorre a extrema incerteza dos resultados eleitorais, como os jogos de azar. Dado que as multidões que votam não são homogéneas, são antes compostas por desejos, vontades, objectivos diferentes, senão mesmo antagónicos, que faz com que o conflito na arena política seja tão natural como a fome e a sede.
Será, em suma, essa fome e essa sede que iremos espelhar aqui nestes próximos dias. Revelando as várias dimensões do campo de análise e revelando também aqui as nossas opções e tendências, sem as querer impôr a ninguém, obviamente.
Mas na análise, na ciência, na literatura, na arte, na cultura lato sensu, onde quer que seja em que a visão do homem interfira para captar ou mudar a realidade, os valores, as normas e as análises nunca são completamente neutrais ou a-valorativas. É técnica e humanamente impossível garantir essa proclamada neutralidade, como explicou o grande sociólogo da modernidade, Max Weber.
Portanto, aqui preparamos os nossos leitores para o se segue. E o que virá remete para a compreensão da tal lei psicológica da unidade mental das multidões, que votam e geram maiorias de poder no contexto das eleições autárquicas que estão na calha. Afinal, antecâmara dos resultados nas próximas legislativas.
Por exemplo, em Oeiras essa contenda será difícil pelas razões consabidas. Mas se esse jogo pode ser problemático no domínio dos resultados, é claro que no domínio dos valores e dos princípios (transparência, seriedade, confiança, coerência, competência) a opção é cristalina. Teresa Zambujo, como é sabido até já no plano nacional (infelizmente pelas más razões - a que a própria é alheia), representa aquela escala de valores que urge recuperar, reforçar e pôr em prática no dia 9 de Outubro.
Será essa alma colectiva que tentaremos aqui registar, tendo como ponto de partida as dinâmicas sociopolíticas das eleições autárquicas de 2005.
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