OEIRAS visto pela RTP - entrevista conduzida por Elsa Marujo e Vítor Gonçalves
Mais uma vez o concelho de Oeiras foi visto pela lente da comunicação social. A RTP resolveu, de forma alargada, permitindo a representação de todos os candidatos e forças políticas que não tiveram possibilidade de entrar na SIC, debater os projectos e as ideias para Oeiras.
Tudo foi, no entanto, um pouco previsível. Emanuel Martins (PS), numa postura atacante, procurou limitar os movimentos de Isaltino Morais referindo os relatórios do IGAT, evidenciando que o princípio da legalidade fora sistematicamente atropelado pelo ex-autarca. Referindo também que a área do urbanismo foi, ao longo dos três mandatos, sistematicamente da exclusividade de Isaltino Morais, com a finalidade de fazer bons negócios. Em rigor, o objectivo de E. Martins era demonstrar que Isaltino se aproveitava patrimonialmente (leia-se, enriquecimento pessoal) à sombra do abuso de poder que exercia enquanto chefe do executivo camarário. Para além dos lapsos cujo significado, segundo se crê, ainda estarão por apurar junto das instâncias competentes. Politizou-se, portanto, aquilo que é do foro judicial. Era esperável.
O dr. Isaltino - que "carrega essa cruz", como referiu, tentou de forma polida, ié, sem se enervar, rebater todos esses aspectos que lhe limitam o discurso e a acção políticas. Sem grande eficácia, a meu ver. Por isso, sou de opinião que um candidato nestas condições políticas (que funcionam mais como um colete de forças), não obstante as suas qualidades políticas e o seu passado de autarca que fez obra no Concelho, jamais se deveria apresentar a eleições. Muito menos contra tudo e contra todos. E não há escapatória possível a esta biela que é, simultaneamente, ética e política, como aqui temos referido. Mesmo que no final a acusação, que é difusa e pouco perceptível pela opinião pública, não consiga provar nada que, de facto, o incrimine. Mas é precisamente essa situação de fragilidade moral e política que lhe subtrai base de confiança em qualquer discussão pública. Ou seja, o candidato independente, por essa razão de forte limitação política, parte sempre em atraso na pole position, o que não deixa de ser uma desvantagem política objectiva. E constitui, como referimos, uma justificação forte que aconselharia a que não se recandidatasse nesta fase de nebulosa em que se encontra.
O CDS práticamente não tem expressão, nem liderança. Referindo, no entanto, o receio da ingovernabilidade do day after. Ficou o esforço por inverter essa tal ingovernabilidade.
O BE é um partido anti-sistema, e, como tal, jamais se aliará a alguma força política para aprovar qualquer projecto no concelho. Se já estava nas margens, agora está na margem das margens. Auto-marginalizou-se, portanto. É uma câmara de eco de Louçã em Oeiras.
O candidato da CDU, por seu turno, revelou algum bom senso e realismo. E na área social poderá ser uma boa mola de apoio para trabalhar sob a liderança de Teresa Zambujo, depois de 9 de Outubro próximo.
Por outro lado, o dr. Isaltino Morais não pára e apresentou hoje o programa eleitoral eficientemente redigido, e já foi colocado na internet. Verifica-se, facilmente, que houve ali uma bateria de profissionais da comunicação a montar peça a peça aquele texto. Parabéns. Eu não faria melhor. É um programa arrojado, diria. Julgo até que 25% daqueles projectos não poderão ser concluídos num mandato. Nem há tempo, nem recursos financeiros para o concretizar. Resultado: boa parte desse plano pode-se pulverizar, como numa rega por aspersão. Há sempre tomates que ficam por regar... E mesmo que tenha uma incomensurável vontade de liderança, a sua equipa é intelectual, técnica, política e culturalmente fraca. Ao invés da equipa de Teresa Zambujo. Assim, a equipa de Isaltino fica desequilibrada e o todo não se articula bem com as partes que o integra. Tratar-se-á, creio, de um puzzle com peças estranhas, integradas à pressão, pelo que muito dificilmente conseguirá elaborar a imagem final que ansiosamente busca nessa definição política para Oeiras. Talvez fosse mais realista, e até generoso, ser menos ambicioso nos objectivos - para um mandato de 4 anos. Ou será que o dr. Isaltino sabendo antecipadamente que não terá condições políticas de ganhar Oeiras, mesmo assim avançou com esse propósito??? Terá sido uma fuga para a frente? Só o futuro o dirá...
Por outro lado, o autor do programa nem sequer teve ânimo nem oportunidade de o expôr. E compreende-se porquê: 85% das suas funções neuronais estavam ocupadas em alerta permanente perante as investidas justicialistas de Emanuel Martins, do PS. Acusações de permutas de terrenos de base duvidosa, favorecimento de pessoas amigas e de familiares, abuso de poder e de um mar oculto de acusações que competitrá às instâncias próprias avaliar e julgar, se caso fôr. Mas aqui o fosso é instransponível, especialmente em termos pessoais. Mas, como referi, o programa eleitoral do dr. Isaltino Morais é uma peça de comunicação eficiente que poderá, certamente, ter ainda alguma finalidade. Quem sabe José Sócrates poderá aproveitar alí algumas pistas para o futuro do País. Apesar da exiguidade de meios.. Ou até, se pudéssemos fazer retro-história, ter fornecido umas pistas a Santana Lopes quando leu o tal discurso de tomada de posse e se perdeu no meio dos papéis em Belém..
Por fim, Teresa Zambujo. Aqui a prestação foi igual a ela própria: sólida, serena, transparente, institucional, credível e com estaleca para continuar a gerir a autarquia de Oeiras nos próximos 4 anos. Além da bela presença e do fair-play que lhe é inato, e só lhe fica bem. Não apenas em termos formais, mas também em termos políticos. Imagine-se que amanhã Teresa Zambujo não tem a maioria no executivo camarário.. Essa sua serenidade e capacidade de diálogo com todos, muito em especial com o PS, será uma ferramenta de valia estratégica para fazer pontes e, desse modo, aprovar muitas decisões para o Município que doutro modo não aprovaria.
Mas além deste pormenor, que decorre da sua própria personalidade, Teresa Zambujo foi, de entre todos os candidatos em estúdio, aquele que utilizou mais eficientemente o seu tempo de resposta. E foi aí, de facto, que a candidata pelo PSD, capitalizou em toda a linha. Fê-lo de forma simples, tal como expõe as suas ideias:
1) Concitou para a sua equipa os melhores quadros em todas as freguesias do Concelho de Oeiras. Ou seja, escolheu as pessoas. Na prática, ninguém lhe foi imposto
2) Deu garantias de governabilidade caso não tenha a maioria no executivo de Oeiras depois de 9 de Outubro
3) Desenvolveu a noção de desenvolvimento sustentado para Oeiras - atraindo empresas de ponta para gerar emprego, produtos e serviços de qualidade sem descurar as vertentes educativas, sociais, culturais e ambientais. Podia, perfeitamente, ter sido co-autora do programa do seu adversário político a Oeiras.
A sensação com que se fica, quer se esteja com Isaltino Morais ou apoie Teresa Zambujo, é a de que esta última, e actual presidente da autarquia, oferece condições políticas e psicológicas mais sustentáveis para garantir, neste momento, a presidência do Munícipio em 2005/09.
E porquê? Teresa Zambujo pode dedicar-se a 100% à governabilidade do concelho. Sobre ela não existem qualquer tipo de nebulosas ou de suspeitas. Portanto, tem uma disponibilidade absoluta para a autarquia que tempera com a sua já larga experiência política e de gestora da Administração Pública - familiarizada em gerir os recursos dos grandes agregados e a articular bem a micro com a macroeconomia, indispensáveis à gestão, planeamento e ordenamento do território e a ter uma visão de conjunto de um Município em movimento como é Oeiras.
Em 2º lugar, Teresa Zambujo corporiza um modelo de liderança altamente relacional, profundamente empático, capaz de catalizar vontades, ideias e projectos num todo harmonioso. Trata-se, portanto, de uma líder ressonante - que apesar de ter vindo da Alta administração para a Política (o que oferece garantias acrescidas de qualidade e de competência profissional), representa uma flexibilidade suplementar para responder aos desfios da globalização competitiva que também se colocam ao nível do poder local e das áreas metroplitanas. Preterindo, desse modo, um modelo antigo de liderança que foi moldado à imagem dos capitães da indústria, hoje antiquado. Até porque o próprio modelo de autoridade política também já não se alicerça em modelos dirigistas, altamente personalizados em que as ordens eram dadas do topo para a base da pirâmide, e as decisões acolhidas sem contestação ou discussão pública.
Para concluir diria o seguinte:
O dr. Isaltino Morais esteve bem na forma como interveio. Controlou-se, desta vez - apesar dos ataques sistemáticos de E. Martins. Mas esteve fraco na exposição e nem sequer conseguiu fazer o "preâmbulo" ao seu próprio programa que está, aliás, bem redigido. Por isso, ganhou na forma mas perdeu na substância política do debate. O saldo, a nosso ver, foi negativo.
O dr. Emanuel Martins - foi um autentico guerrilheiro. Desta vez procurou documentar-se e disparou toda a artilharia que tinha. Disse até que tem recebido ameaças de morte pelo telefone, extensivas à família. A dramatização conduziu sempre à vitimização. Guterres era especialista nisso. Há mesmo quem diga que a política é o teatro mais maravilhoso da vida. Mas não conseguiu alinhar uma única ideia para Oeiras. Foi eficaz na forma como racionalizou a turbulência junto de Isaltino, instabilizando-o psicológicamente e desviando-o do essencial, mas não oferece qualquer opção de governo em Oeiras. Todavia, revelou que pode vir a ser um eficiente parceiro num executivo liderado por Teresa Zambujo em Outubro próximo. Enquanto ouvia o dr. Emanuel lembrava-me daquela frase: It takes two to dance tango... O saldo foi positivo para Teresa Zambujo, que geriu estratégicamente o seu silêncio. Neste caso, como diria Miguel Torga lá das serras para as bandas de Coimbra, tratou-se de um silêncio ensurdecedor. Mas acredito que Teresa Zambujo o tenha feito por razões de princípio que remetem para a esfera da ética. Ou melhor, da eticidade da política. Lembremo-nos de que Teresa Zambujo não "emigrou" da Política para a Administração, mas percorreu o trajecto inverso. Isso só credibiliza a política e os políticos - cuja credibilidade, como é consabido, anda pelas ruas da amargura.
O CDS, o BE e a CDU são pequenos grupusculos à "procura de casa", mais ou menos atomizados na autarquia de Oeiras. Mas de entre aquela troika julgo que este último, a CDU, é quem melhor pode ajudar Teresa Zambujo a infra-estruturar certos sectores e a dinamizar as áreas sociais e do desporto em Oeiras. Até pela tradição autárquica que têm ao nível do poder local amiúde pelo País.
De tudo resulta um perfil. O qual foi revelado pela actual presidente. Apresentou elevados índices de autoconfiança, autodomínio, transparência, capacidade de adaptação, capacidade de realização, capacidade de iniciativa, é francamente optimista, gera simpatia e empatia nas pessoas, é uma líder de proximidade, goza de uma tremenda consciência organizacional, cultiva um singular espírito de serviço e de missão pública.
Em suma: protagoniza uma liderança inspiradora capaz de gerir conflitos, catalisar a mudança e de trabalhar em equipa.
Dir-me-ão que o dr. Isaltino, até pela experiência política que tem, partilha de algumas daquelas valências.Certamente!!! Sucede, porém, que sobre os seus ombros tem um peso maior do que ele. Tornou-se num "gigante com os pés de barro". Tem toda a glória do passado; porém, depara-se com toda a incerteza no presente e no futuro: o peso da suspeição, o peso do partido, o peso da desconfiança, o peso da opinião pública, o peso da limitação do discurso político, o peso duma justiça que é, ela própria, injusta e laxista, enfim, o peso do peso... Até do absurdo. A seu favor tem uma enorme vontade e uma rebeldia singular, porventura colhida nas suas origens transmontanas. Com tanta fé até faz lembrar Durão Barroso quando dizia que sabia que seria Primeiro-Ministro, só não saberia quando. Hoje preside sofrivelmente à Comissão Europeia, e daí não veio nenhuma vantagem ao mundo. Excepto para o orgulho e ego dos visado.
Oxalá se liberte rapidamente de toda essa canga (com acusação ou com arquivamento), com que não deve ser nada agradável de conviver, mas que também espelha bem o retrato da "qualidade" da Justiça que Portugal tem. Uma justiça, como aqui temos defendido, que deveria ser levada a tribunal.
É por todas estas razões que Teresa Zambujo, colaboradora de eleição de Isaltino Morais, representa a melhor opção política para liderar o concelho de Oeiras. Afinal, os melhores líderes revelam-se sempre em condições de mudança, de crise, de restrições financeiras, de conflitualidade pessoal. Tudo isso não ocorre por acaso. Parece até que é uma aposta e um desafio, uma espécie de fatalidade dos deuses para ver quem melhor é capaz de atrair todas as partes envolvidas para compreender as múltiplas perspectivas e para encontrar um ideal comum que todos apoiem.
Em rigor, e nunca se envolvendo em baixa política, em intrigas ou em acusações populistas para granjear mais uns votinhos sabujos, a estratégia de Teresa Zambujo foi (e é) a seguinte: trazer os problemas do Concelho à luz do dia, reconhecer os sentimentos e as opiniões das pessoas e das partes envolvidas, e, depois, canalizar essas energias para um ideal comum.
Um ideal que tem face e responde pelo nome de OEIRAS...
... e já respira..
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