domingo

Os novos heróis


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Nos últimos anos Portugal e os portugueses sofreram na pele os desmandos da política, da economia e da finança, e, por isso, pagaram com uma brutalidade de impostos decisões erradas que aqueles agentes tomaram e que afectaram e degradaram as condições de vida de milhões de portugueses, muitos dos quais empobreceram e muitos outros foram forçados a emigrar - deixando milhares de famílias destroçadas. Esses portugueses não foram apenas obrigados a sair do país, o próprio poder politico de então, psd-cds (o governo troikista alinhado na dupla Pedro e Paulo portas) convidaram muitos portugueses a emigrarem para tratarem de vida. 

Desta relação dura e assimétrica entre eleitores e eleitos, muitos milhões de portugueses endureceram as suas posições face ao poder político e aumentou a descrença relativamente aos políticos que, quando não eram incompetentes eram corruptos e apenas se preocupavam com o seu bem estar, e o das suas clientelas partidárias, com manifesto prejuízo para os legítimos interesses dos cidadãos portugueses.

Desta relação dura resultou ainda uma outra evidência: é que os portugueses deixaram de rever-se na prestação dos agentes políticos e económicos, e passaram a transferir esse capital de simpatia e confiança para outros agentes que modelam hoje os destinos das sociedades contemporâneas. Para os futebolistas, para os músicos, para os chefes religiosos e outros agentes da mudança que formatam a cultura de massas pós-moderna.

Significa isto, talvez de forma um pouco simplista, que os portugueses deixaram de ter heróis, mas não perderam tempo em querer identificar uma outra categoria de heróis a fim de evitar essa orfandade em que milhões de portugueses caíram. Na prática, à falta de um "pai" protector e e guia dos seus filhos, os portugueses elegeram "pais temáticos", personagens modelo cujos atributos superam as limitações do português-médio - que precisa dum guia espiritual para emprestar sentido e racionalidade às suas vidas. 

Seja por via do futebol, da música ou da fé os portugueses não perderam tempo a manifestar e a exteriorizar as suas emoções junto daqueles nos quais passaram a rever-se: no plano das virtudes, das atitudes, das prestações, enfim, das práticas sociais diárias que fazem dos atletas, dos músicos ou dos condutores de homens através da religião - os novos verdadeiros agentes de excepção e da mudança. 

Finalmente, os portugueses compreenderam a urgência de que precisam de se transcender, mas não o conseguem fazer através dos gentes clássicos da mudança, classicamente centrados na esfera da política activa; aí, recorrem aos novos heróis que, pela fé, coragem, força, determinação e paciência acabam por superar-se. Nem que para isso tenham de se auto-sacrificar previamente para, no final, conhecer o momento da libertação.

Ontem, Sábado, foi, a muitos títulos, um desses dias tão excepcionais quanto iluminados, em que milhões de portugueses se libertaram mediante oss caminhos da fé, do desporto e da música. No fundo, o conforto de uns pode constituir o conforto de outros e, assim, todos ganham neste desafio diário que é a vida vivida dia-a-dia, hora-a-hora, minuto-a-minuto, até ao fim dos tempos, dos dias, das horas e dos minutos. 


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