Da fé em excursão
Sempre olhei para a fé como um exercício de reflexão profundamente interior, numa tal meditação e monólogo com uma força superior, que pode ser Deus, ou até com seu filho, Cristo, que exige recato, isolamento - ambos terrenos férteis à meditação sincera e à oração genuína.
É por isso que vejo com a maior perplexidade essas excursões, que se fazem de todos os pontos do país em direcção a Fátima - querendo os peregrinos mostrar o quê? a sua fé, a sua resistência em caminhar, conhecer o país a penantes e depois mandar selfies aos amigos e familiares...
Se esses excursionistas têm, assim, tanta fé, por que razão não fazem esses trajectos em recato, longe das multidões ou dos holofotes ampliados pelos media. A fé não é, nunca foi, um exercício exuberante, com manifestações grupais que mais parecem idas ao supermercado em dias de descontos.
Que fé é essa, afinal, que só se manifesta em grupo, com o folclore e o espectáculo das multidões em fúria no meio das estradas a demandar Fátima (?!).
Confesso que esse tipo de manifestação pela fé revela mais uma necessidade de afirmação pessoal e grupal, senão mesmo regional, do que um verdadeiro e autentico exercício de fé e oração - que exige recato e silêncio.
Tenho para mim que mais vale uma boa oração, feita no recato e no isolamento do ser, do que alinhar nessas excursões exuberantes em que os exercícios de fé se convertem mais em caminhadas - que podiam ser um trilho de contrabandistas ou um roteiro ambiental a Vila Nova de Foz Côa.
Hoje, lamentavelmente, tudo se espectaculariza, tudo se mediatiza e, com esse tipo de desempenhos mediáticos - também a natureza da fé se perverte, degrada e avilta - como se dum evento comercial se tratasse.
Mas cada qual embarca nas excursões em que quer tomar lugar, pois são muitas promessas por cumprir, diferentes as motivações e algumas são cara$ de resolver...
No fundo, misteriosos são os caminhos do senhor e insondáveis as motivações humanas.
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