Nas suas memórias, Jean Monnet (1888-1979) explicou a razão por que jamais quis ocupar um lugar de primeiro plano na política: quem se envolve diretamente na luta política tem de se concentrar, antes de mais, na promoção da sua imagem, tem de se preocupar com a sua persona política, para se alcandorar aos lugares de comando, no partido ou no governo. Jean Monnet pretendia, pelo contrário, compreender e resolver os problemas, ajudar a definir estratégias. Monnet representava o ideal - hoje praticamente desaparecido na União Europeia - do conselheiro competente, informado e provido de recursos técnicos que, na primeira linha de fogo, ajuda o seu príncipe nas suas causas e lutas. Mais ainda: Monnet era o conselheiro que, com serenidade, ajudava o príncipe, fosse ele De Gaulle ou Robert Schuman, a perceber qual era o seu desígnio histórico. Hoje, no meio da longa agonia europeia, a única coisa que parece persistir da narrativa de Jean Monnet é o tradicional e irremediável narcisismo, às vezes insuportável e patológico, do "homem político". A qualidade dos conselheiros baixou a um nível abissal. Quando analisamos a interminável série de erros e verdadeiros disparates técnicos que estão por detrás das políticas de austeridade, percebemos a solidão dos aprendizes de príncipe. Fazer entrar o FMI na troika, em 2010, ou querer obrigar Chipre, em março de 2013, a violar a diretiva europeia que protege os depósitos bancários até cem mil euros, ou persistir na sangria sobre o corpo anémico da Grécia não são sinais de pensamento, mas sintomas de um calculismo débil. Haveria esperança para a Europa se os obstáculos fossem ideias claras e distintas. Agora, contra o muro da estupidez organizada, como dizia o grande Schiller, até "os próprios deuses lutam em vão".
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Obs: Sem querer, ou talvez não, o articulista acabou por definir todo o frustrante consulado do desertor Durão barroso na Europa, gerindo interesses, carreiras, narcisismos e, de caminho, fazer com que o estatuto da Europa no mundo fosse jogado na lama, cabendo à Alemanha, que está gorda e anafada, o papel de ventilador...
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Etiquetas: Príncipes mal avisados por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
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