Mais uma vez Durão Barroso - por Mário Soares -
Depois, ainda sendo primeiro-ministro de Portugal, quando percebeu que podia ir para Bruxelas, como Presidente da Comissão Europeia, deixou o Governo de Portugal, sem mais nem menos. Antes, António Guterres, quando era primeiro-ministro, recusou quando lhe fizeram a mesma proposta.
Onde, desde então, esteve quase dez anos, que estão agora a terminar, mas que lhe foram fatais. Não podia ter sido pior nem mais atacado. Portugal, durante essa década, não lhe interessou grande coisa, a não ser nos últimos meses. Fiel da chanceler Merkel, nos primeiros momentos, acabou por se zangar com ela ou vice-versa. Com a França, de Sarkozy, nem se fala. O Le Monde destruiu-o durante três números. Mais: arrasou-o! E a América de Barack Obama também nunca o apreciou. Sem falar dos deputados europeus e de outros dirigentes da União Europeia.
Depois teve a ambição de ir para a ONU, como secretário-geral, mas percebeu a tempo que não tinha a menor possibilidade. Então, como já está a arranjar as malas, resolveu vir para Portugal. Para quê?
Discípulo e amigo do atual Presidente Cavaco Silva, não deve afirmar que quer ser candidato à Presidência da República, com dois anos de antecedência do final de mandato do Presidente. Seria mal compreendido.
Então, resolveu aproximar-se do Governo. Foi desagradável para o Tribunal Constitucional, o que não devia ter feito, dadas as funções que ainda exercia, ignorando a pobreza indescritível em que vive este país e a destruição, pela venda, de tudo o que é valioso.
Sabe perfeitamente que o atual Governo só se ocupa do dinheiro e da troika, a quem paga. E que a austeridade, uma chaga insuportável para todos os países que dela são vítimas, só leva as populações ao empobrecimento, ao desespero, à emigração e à criminalidade. Mas isso que lhe importa? Que haja tantos portugueses sem dinheiro, a dormir nas ruas e a comer apenas o que a Cáritas (que tem sido tão importante) e outras obras sociais lhes dão.
No Expresso de sábado passado, Durão Barroso resolveu dar uma entrevista onde figura uma caricatura extraordinária dele, da autoria de Hélder Oliveira, feita pela inteligente jornalista Ângela Silva, que lhe perguntou, cito: "Durão Barroso ensaia o regresso à política portuguesa convicto de que, no momento oportuno, vai conseguir ser Presidente?" Mas foi tão inoportuno na resposta ambígua que só criou problemas.
É sabido que não gosta de Passos Coelho e a inversa também será verdadeira. Mas vir levantar inoportunamente o caso do BPN em que tantos dos considerados culpados estão em liberdade e nunca foram julgados, é de alguém que perdeu a habilidade política.
Será que ainda é amigo do Presidente Cavaco Silva ou já não é? Tenho as minhas dúvidas. Visto que todo o País sabe que o Presidente tem algo a ver com o caso do BPN. É o que parece. Como voltar ao problema e porquê? Ou então está sem jeito e habilidade política...
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Obs: O dr. Mário Soares não escreve um artigo, produz um pequeno ensaio para arrasar completamente com barroso, a sua ambição desmedida, o seu oportunismo, sublinhando a sua incapacidade para liderar a CE e afirmar o interesse solidário duma Europa que hoje se escavaca aos pés duma Alemanha cuja chancelarina ele, barroso, bajulou e com quem hoje está incompatibilizado.
Numa palavra: durão barroso não presta como pessoa, porque revela à saciedade não ter carácter (tentando por uns portugueses contra outros, procurando dividir para reinar); politicamente, é uma nulidade, e só por erro ou engano ocupou o posto relevante de que não deixa memória.
Pobre barroso, pobre Portugal que deste à luz gente desta estirpe que contrasta com outra gente tão qualificada, nobre e sã.
Soares acabou por demonstrar que barroso não tem amigos, atacou tudo e todos por puro oportunismo, as usual, e está completamente isolado. Na Europa e cá dentro. Daí o mérito deste pequeno ensaio do ex-PR. Porém, barroso poderá sempre alegar que não quer nada, apenas pretende descansar e fazer um interregno através duma qualquer manhosa sabática paga por uma fundação. Perdendo tudo, só lhe restará esconder-se atrás do manto diáfano da fantasia que criou para não perder a face.
Já agora, felicito o dr. Soares por ter a lucidez de ordenar aqui um conjunto de ideias que qualquer português atento, que acompanhe o fenómeno político nacional, está "careca" de saber.
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