Marcelo estatístico e a perda de cargo do PR
CRP
Artigo 129.º
Ausência do território nacional
1. O Presidente da República não pode ausentar-se do território nacional sem o assentimento da Assembleia da República ou da sua Comissão Permanente, se aquela não estiver em funcionamento.
2. O assentimento é dispensado nos casos de passagem em trânsito ou de viagem sem carácter oficial de duração não superior a cinco dias, devendo, porém, o Presidente da República dar prévio conhecimento delas à Assembleia da República.
3. A inobservância do disposto no n.º 1 envolve, de pleno direito, a perda do cargo.
Mas Marcelo, se quisesse ser criativo, em vez de repetir ad nauseum que foi uma tonteria aquilo que Soares defendeu, porventura é precisamente aquilo que 10 milhões de portugueses pensam, incluindo Marcelo (mas só in private!!) - bem poderia ter invocado os pontos 1 e 3 do artº 129 da CRP (supra-referidos) para justificar a perda de mandato a um locatário de Belém que, de facto, tem sido demasiado permissivo para com uma das partes (o XIX Governo Constitucional) - contra os demais partidos do sistema político com representação parlamentar.
Bastaria apanhar Cavaco numa dessas visitas de Estado ao estrangeiro feitas à sucapa, sem a devida autorização da AR e com uma eficácia política nula, à semelhança, aliás, da utilidade dos seus "roteiros" que ninguém lê (excepto os revisores e assessores de Belém), para que o desígnio de Soares - e de 10 milhões de portugueses - se concretizasse. Mas Marcelo é cauteloso, e não quer descurar a sua potencial base de apoio socioeleitoral no futuro acto presidencial em que já se considera parte.
Contudo, e esta seria uma hipótese académica, porque Cavaco é igualmente cauteloso como Marcelo, este já poderia ser mais coerente e justificar a perda de mandato do PR pela recorrente violação da CRP, basicamente por o PR permitir que o XIX Governo esbulhe salários aos funcionários públicos e pensionistas, corte subsídios e permita igualmente o desmantelamento do Estado social (medidas que não fazem parte do Programa eleitoral do PSD com base no qual Passos Coelho foi eleito) - e dum conjunto de medidas de pendor fortemente neoliberal que têm destruído o tecido económico e social, da área da saúde à educação.
Ou seja, o "comentador-candidato" Marcelo deveria era agarrar-se ao normativo 127 da CRP (infra), no seu ponto 3 - para justificar a nulidade política do actual locatário do Palácio Rosa, e não comportar-se como um defensor oficioso de um governo que ficará para a história como o coveiro de Portugal e de milhões de portugueses. E não digo todos os portugueses porque excluo dessa massa algumas elites que, directa ou indirectamente, acabam por beneficiar da desgraça que Governo e PR infligem a um povo massacrado porque mal governado e pior presidido.
Já se percebeu que, nesse cálculo político, Marcelo é um dos que beneficia da desgraça de muitos. Um privilegiado entre o caos. Talvez por isso tenha dito o que repetiu de Mário Soares...
Artigo 127.º
Posse e juramento
1. O Presidente eleito toma posse perante a Assembleia da República.
2. A posse efectua-se no último dia do mandato do Presidente cessante ou, no caso de eleição por vagatura, no oitavo dia subsequente ao dia da publicação dos resultados eleitorais.
3. No acto de posse o Presidente da República eleito prestará a seguinte declaração de compromisso:
Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.
Etiquetas: análise interesseira, eleições presidenciais, manha política, Marcelo, perda mandato, PR
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