A intenção era boa mas as ondas de choque foram múltiplas. A procuradora-geral da República disse que não o tinha informado de nada. O primeiro-ministro disse que se tratava de uma expressão menos feliz. O "Jornal de Angola" elevou-o à qualidade de herói. E José Eduardo dos Santos lembrou-se do tema e, zás, no seu discurso sobre o estado da Nação, disse que tinha chegado ao fim a parceria estratégica com Portugal.
De uma assentada, o dr. Machete atingiu a credibilidade da procuradora, lançou suspeitas sobre a passagem de informações entre a PGR e o Governo e conseguiu pôr em causa as relações entre Portugal e Angola. Convenhamos que é obra!
É claro que para o dr. Machete tudo isto se resolve com umas conversas diplomaticamente moles, por entre uns uísquies e uns croquetes.
Só que o dr. Machete desconhece várias coisas. Desconhece que se Roma não pagava a traidores, Angola não agradece a quem se rebaixa perante si. Desconhece que despreza profundamente quem o faz. E desconhece também que as regras da economia de mercado em Angola funcionam de acordo com o que José Eduardo dos Santos determina.
Há centenas de empresas portuguesas em Angola. Há milhares de cidadãos portugueses em Angola. Há muitos investimentos portugueses em Angola. Há pesados investimentos angolanos em Portugal. Há muitos cidadãos angolanos em Portugal.
A tal parceria estratégica não acaba de um dia para o outro por simples decreto presidencial. Mas leva um grande abanão com as palavras de José Eduardo dos Santos. Ora uma relação tão importante como a que existe entre Portugal e Angola não pode ser entregue a quem manifestamente mostrou uma total incompetência para lidar com ela.
No filme "Gravidade", a chuva de meteoros provocada pela destruição do satélite russo mata toda a tripulação da estação orbitral, com exceção de uma astronauta. Esperemos que no caso da nossa relação com Angola as consequências não sejam tão fatais.
<< Home