quinta-feira

Colapso da Europa pela impreparação das suas elites políticas e burocráticas




Ao fim de quase dois anos de erros grosseiros em matéria de planeamento das políticas económicas a Comissão Europeia, dirigida pelo dr. Barroso, decide discordar das conclusões do relatório do FMI, que reconhece falhanços notáveis no resgate à Grécia. Tanto tempo para compreender uma coisa tão básica?! Pelo caminho já se destruiram milhares de empregos, milhares de empresas faliram, a economia grega entrou em desgraça, a classe média ficou cilindrada e perdeu a dignidade. Foi esta Grécia que até ameaçou boa parte do euro e conseguiu, ao mesmo tempo, revelar as fragilidades da Europa e dos seus líderes, uns mais legítimos do que outros.
 
Esta destruição económica gerou a insuficiência da procura global que explica as depressões económicas. Sendo certo que as políticas adoptadas pelo Estado podiam inverter este ciclo depressivo infernal. Ou seja, quando a política monetária se revelasse ineficaz, o Estado poderia recorrer a políticas orçamentais, aumentando ou reduzindo os impostos. Ainda que saibamos que quer as injecções de capital do Estado na economia têm, não raro, efeitos perversos, assim como são perversas, senão selvagens, as políticas neoliberais dos boys de Chicago tomadas e reforçadas pelo chamado Consenso de Washington.
 
Naturalmente, não se trata de tomar medidas para atingir o pleno emprego, mas já seria útil que não caminhássemos à velocidade da luz para a  miséria da condição humana a que esta obsessão com a austeridade tem votado Portugal e os portugueses. A CE, e o dr. Durão em particular, já tinham a obrigação de saber que o FMI, além da sua enorme liquidez e capacidade de conceder empréstimos, funciona como um ministério das Finanças mundial cujas políticas neoliberais têm como consequência a destruição das economias nacionais. Tem sido assim nos países africanos e asiáticos, durante os anos 80 e 90 do séc. XX, em que os postos de trabalho foram sistemáticamente destruídos nos países em desenvolvimento (PVD, como então se dizia), mesmo antes que os sectores agrícola e industriais nacionais conseguissem criar postos de trabalho mais novos, e os agricultores pobres não conseguiram competir com os produtos fortemente subsidiados oriundos da Europa e da América.
 
Pior ainda: a insistência do FMI para que esses países mantivessem políticas monetárias restritivas gerou taxas de juro que inviabilizaram a criação de emprego. E como a liberalização do comércio ocorreu antes de serem tomadas medidas de precaução, aqueles que perderam os seus empregos foram lançados para uma situação de pobreza.
 
Quer dizer, e surpreende-me que a Comissão Europeia e Durão barroso em particular, não conheçam esta situação, pois na maior parte dos casos a liberalização não trouxe o crescimento económico e aumentou a miséria. O ponto é que a situação dramática vividas nos últimos 20 anos nos continentes africano e asiático encontra hoje replica no continente europeu, o tal que foi possuidor de colónias, construiu impérios, mandava na economia mundial, por terra, mar e água e, hoje, ao invés, alguns desses ex-impérios encontram-se numa situação de protectorado internacional, com a sua soberania económica e financeira completamente condicionada aos ditâmes duma troika que não responde perante os cidadãos nem tem uma legitimidade política específica.
 
A história tem destas coisas, por vezes repete-se, mas com uma intensidade destruidora mais avassaladora. O que nos leva a supor que os pequenos países, como Portugal, do qual o presidente da Comissão Europeia é nacional, são como as pequenas embarcações. A liberalização rápida e não planeada do mercado de capitais, tal como tem sido imposta pelo FMI um pouco por todo o mundo, lançou-nos a todos para um mar encapelado cujo destino pode ser o afogamento de toda a tripulação.
 
A alternativa a esta grosseira e crescente falta de legitimidade do FMI para conduzir as políticas públicas na Europa ou em qualquer parte do mundo, seria evitar que tivesse a oportunidade de prolongar desmesuradamente os seus mandatos originais e a sua esfera de influência no mundo. O que é um anacronismo se  lembrarmos que estamos diante de uma instituição que remonta ao mundo pós-Yalta (1945).
 
O que me aborrece, por uma razão suplementar, é que o dr. Barroso tinha obrigação intelectual de conhecer a história geral da Europa, logo a história das suas instituições, como o sistema de Bretton Woods/1945 e do que se lhe seguiu. E se não sabe ou não se lembra, podia pedir explicações a quem na Universidade privada onde ensinou, a Universidade Lusíada, uma das melhores universidades privadas em Portugal, sabe do assunto, o que seria um motivo de esclarecimento que evitaria o cometimento de tantos erros, omissões que conduziram milhões de pessoas e empresas à miséria.
 
 

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