quinta-feira

É pelo Sul do mundo que a economia está a crescer - por Clara Barata -

Nota prévia: Quem se lembra do Relatório Norte-Sul de Willy Brandt dos 80´s - que arrumava o mundo entre o Norte (rico, rápido e branco) e o Sul (pobre, lento e negro) de forma muito categória teria agora a maior dificuldade em explicar a dinâmica dos tempos, em que os conceitos, as fronteiras do desenvolvimento, a geografia da pobreza e da riqueza se alterou de tal modo que, diria, o mundo já não é mais o mesmo. O mesmo são as mudanças que o atravessam, com maior ou menor intensidade, consoante as tecnologias, a força das elites, o fluxo dos capitais,  a força de contestação dos movimentos sociais, enfim, do curso errático da História que nunca mais tem fim. Este é um tema de extrema relevância, porque dele depende a paz entre os homens e a estabilidade e segurança entre as nações.
 
A mesa do pobre é escassa
mas o leito da miséria é fecundo
 
(adágio popular)
 


 
 
O Sul é o novo pólo de desenvolvimento do planeta, diz o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013 do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). Em 2020, a produção combinada da China, Índia e Brasil, as três maiores economias "do Sul", deverá mesmo ultrapassar a dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá.
 
Não é novidade que a categoria “países em desenvolvimento” já não é adequada aos dias de hoje. Entre 1980 e 2010, esses países em desenvolvimento quase duplicaram a sua quota das trocas comerciais internacionais: passaram de 25% para 47% do mercado.
 
E não foi apenas por venderem muito aos países ricos do Norte, ao chamado “Ocidente”, que estes países cresceram: foi o aumento das trocas comerciais entre os países que serviram de motor a esse crescimento, sublinha o relatório deste ano do PNUD: “O comércio entre os países do Sul foi o principal factor dessa expansão, que passou de menos de 10% para 25% de todo o comércio nos últimos 30 anos, enquanto as trocas comerciais entre países desenvolvidos caíram de 46% para menos de 30%”, lê-se no comunicado de imprensa sobre o relatório deste ano.
 
Na Ásia e na América Latina, em África, há cada vez mais telemóveis e ligados à Internet, substituindo-se aos telefones fixos, uma tecnologia que custa mais e é mais morosa a implantar. E esses telefones baratos são produzidos por alguns desses países do Sul, tecnologicamente mais avançados. “Brasil, China, Indonésia, Índia e México têm mais tráfego nos sites de Internet social do que qualquer outro país, excepto os Estados Unidos”, diz o relatório do PNUD.
Nesta análise, o PNUD considera que o Norte é, sobretudo, "o Ocidente". Os outros países de grande crescimento, mesmo que fiquem acima da linha do Equador (como a Índia, a China), pertencem a este novo conceito de Sul, dinâmico e em florescimento.
 
Pelo menos 40 países fizeram grandes avanços de desenvolvimento que ultrapassaram as expectativas nas últimas décadas, mas 17 nações tiveram resultados excepcionais. Alguns são gigantes económicos, como a China, a Índia ou o Brasil, mas há alguns pequenos países que são também casos exemplares de sucesso, como o Gana, a Tailândia ou o Chile.
 
São países muito diversos, com histórias e sistemas políticos muito diferentes, mas o que têm em comum são coisas como uma atitude proactiva no desenvolvimento, tirando partido das oportunidades estratégicas do comércio internacional, e o forte investimento no capital humano, através de programas de educação e saúde e outros serviços sociais básicos, diz o relatório.
 
As classes médias destes países têm aumentado progressivamente. Em 2050, o Índice de Desenvolvimento Humano pode subir 52% na África subsariana e 36% no Sul da Ásia. “A Revolução Industrial foi uma história de talvez cem milhões de pessoas, mas esta é uma história de milhares de milhões de pessoas”, declarou Khalid Malik, o principal autor do relatório de 2013.

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