Mentira em política: conflito entre a política e a moral
Portugal e os portuguess estão cansados de mentiras, a estas somam-se a má governação, a brutal carga fiscal, a incompetência política em diversas áreas, a falta de autoridade e, por extensão, a promiscuidade de interesses privados com a coisa pública. Tudo agravado pela prática da mentira institucionalizada, a arte mais velha do mundo e da qual alguns fazem a maior usança.
Por outro lado, a verdade é que os combates em política sempre foram travados contra os princípios da moral, uns e outros em estão em permanente conflito, ainda que no âmbito da lógica discursiva, legitimadora do poder em exercício, uma e outra estejam em plena harmonia. O que ontem era verdade é hoje mentira, e, por regra, quem enche a boca de honra, de princípios, de dignidade mais não faz do que demonstrar que está agarrado ao poder como lapa em rocha, revelando, afinal, que a cotação da sua honra, da sua dignidade e os princípios que defende derivam da linguagem do poder, dos interesses privados (justificados com bem comum), do conluio, do tráfico de influências, da ilegalidade (ou na sua margem).
Este encadeamento de factos, práticas e de representações negativas na vida pública portuguesa, enfim, esta forma de fazer política é, afinal, melhor ou pior se colocarmos em comparação as suas práticas em democracia e em ditadura?!
Pois em ambas, neste caso, o objectivo é convergente: a conquista, a conservação e, se possível, o reforço do poder, como ensina N. Maquiavel, sejam quais forem os meios.
Ou seja, quanto ao recurso à mentira, quase não existe diferença entre o que se passa em democracia e em ditadura, salvo quanto à eficácia. Posto que a mentira é ainda mais eficaz na democracia porque permite captar votos do maior números de eleitores, como fazem alguns caciques partidários (alapados no aparelho de Estado) e cuja missão é arregimentar interesses em troca de promessa de favores e de recursos públicos aos caciques locais; enquanto que em ditadura, basta impor-se pela força e dominar em lugar de convencer.
Portugal vive hoje esse câncer político, em resultado da densificação da prática da mentira política, como forma de sobrevivência e de potenciar a longevidade no poder por parte dos titulares dos cargos públicos em exercício. Isto é um rombo na democracia, uma facada na cidadania, uma amputação na justiça, que é uma anedota há décadas, e uma terrível desarticulação com os apoios e programas relacionados com o aparelho de crescimento da agricultura e indústria (e serviços) que faz com que um país seja do 1º, 2º, 3º ou 4 mundo.
A ajuizar por certas práticas entre certos titulares de pastas ministeriais em Portugal, sou de parecer que Portugal integra o continente africano neste tipo de campeonato.
Aliás, segundo as organizações que estudam as questões da transparência e da corrupção, constata-se que Portugal se tem "africanizado" nessas práticas, e é pena, porque isso representa um óbice ao nosso crescimento, desenvolvimento e modernidade.
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