quarta-feira

Decadência moral, corrosão política, mediocridade pessoal

Parece que tudo conspira, actualmente, para mascarar a verdade na vida pública e política em Portugal. Parece até que o fenómeno político é, por natureza, o universo da opacidade onde tudo está criptado e só ao acesso de alguns: aqueles que têm as chaves do poder, do dinheiro e do controlo das influências que serve para funcionalizar grande parte das acções numa sociedade.

Na tradição platónica, por exemplo, o prestígio da ciência, a autoridade aparente dos intelectuais, a influência crescente dos tecnocratas, e até a emergência de escolas e institutos de ciências políticas, levaram a pensar que o conhecimento - puro e duro - passou a ser um objectivo em si. I.é, que o desenvolvimento do futuro, nos mais diversos aspectos, dependeria da investigação científica, e seria esse progresso e difusão do saber e do conhecimento que transformaria o próprio universo político, as relações sociais e laborais, enfim, a qualidade de vida das pessoas nas sociedades contemporâneas.

Porém, não é isso que se tem verificado na política, na sociedade e até na economia. Todas essas esferas foram arrastadas para níveis de corrupção, degradação, disfuncionalização que afectaram sobremaneira o funcionamento das sociedades. A justiça é, literalmente, um cancro social e económico que mina os fundamentos do estado de direito e afasta qualquer investidor do nosso país, que logo encontra um destino mais atraente para aplicar os seus capitais e know-how.

As universidades, ou algumas delas, querendo agradar ao poder, ou à oposição que amanhã será poder, prestam-se aos serviços mais rasteiros na ânsia, por um lado, de angariarem cota de mercado, por outro, captarem para os seus quadros elementos de influência (real e potencial) que pode revelar-se útil a breve prazo. Desse modo, o caminho está sempre tão minado quanto opaco.

Portugal, por mais que queiramos contrariar a ideia, ainda vive muito do regime de favor, da cunha, do pequeno e médio tráfico de influências mitigado com algum chico-espertismo que até é desastrosamente sinalizado pela forma como alguns portugueses conduzem nas estradas.

Está, pois, tudo em linha neste país à beira-mar sepultado que já era o país dum certo folclore. Agora é tudo isso, mas com a agravante de o país ser pouco recomendável, até mesmo para potenciais imigrantes oriundos do Norte d´África.

A política, área para onde convergem todas as tensões sociais, por ser aí que se resolvem os problemas sociais e se decide da afectação de recursos mediante a execução das políticas públicas, é, essencialmente, acção.

Isto remete-nos para uma relação fundamental de toda a acção e que consiste em estabelecer relações de meios e fins em determinadas conjunturas.

O problema é que essa relação meio-fim em política é interferida pelo enunciado, ou seja, por uma progressiva decadência moral, corrosão política e mediocridade pessoal de inúmeros players que, na verdade, ocupam os lugares de representação pública, mas alguns deles não passam de personagens que ficarão na história a negro e em notas de roda-pé.

Portugal, apesar de ser um país pequeno e pobre, tem também uma classe política muito incompetente, que legisla mal, alguma dela com uma inclinação para se servir dos cargos públicos para conceber e desenvolver negócios privados. Aliás, inúmeros são os deputados da AR que se aproveitam da sua condição de deputados para angariarem assessorias e avenças para as respectivas sociedades de advogados, e isto mina completamente o funcionamento das instituições num sistema democrático, porque promove e facilita os mecanismos de corrupção e introduz forte elementos de distorção da concorrência no mercado.

Nesta perspectiva, parece que nada hoje funciona decentemente em Portugal. E não queria correlacionar isto à circunstância de estarmos todos corrompidos, porque, apesar de tudo, ainda há pessoas que...



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