Calendário eleitoral mundial é um risco para os mercados”
Rui Barroso, Económico
Em 2012 haverá mais de 60 eleições em países responsáveis por 40% do PIB mundial.
O calendário eleitoral vai ser bastante preenchido até ao resto do ano, e os economistas do Goldman Sachs temem que a incerteza em torno dos desfechos eleitorais em países como os EUA e a França coloque riscos aos investidores.
"Os governos de todo o globo estão a implementar ajustamentos orçamentais impopulares. O facto de algumas eleições importantes terem lugar no decurso de 2012 adiciona incerteza sobre as políticas, tornando-as uma fonte importante de risco de mercado que os investidores terão de considerar", referem os economistas do banco de investimento numa nota a que o Económico teve acesso.
E os resultados das eleições terão efeitos sobre todas as classes de activos, mas as acções deverão ser os instrumentos em que a consequência dos actos eleitorais terá mais impacto. O Goldman explica que as eleições são eventos de mercado importantes por três razões.
"Primeiro, as eleições traduzem-se em mudanças políticas que podem dar nova forma ao ambiente económico. Segundo, a regularidade com que as eleições ocorrem na maioria dos países contribui para padrões cíclicos no comportamento dos governos e dos investidores. Terceiro, as eleições podem aumentar a incerteza política e social", constatam.
Uns dos ciclos políticos com mais impacto nos mercados mundiais são as eleições presidenciais americanas, que também ocorrem este ano. Segundo as contas do Goldman Sachs, os primeiros dois anos do ciclo eleitoral tendem a coincidir com retornos nas acções mais baixos que nos últimos dois. O segundo ano seguinte às eleições é mesmo, segundo a história, o mais volátil. Estes padrões aplicam-se aos mercados dos EUA mas também são reflectidos nos mercados mundiais.
Mas não serão apenas as eleições nos EUA a marcar o ano politicamente e economicamente. "Este será um ano excepcional em termos de agenda eleitoral: estão marcadas mais de 60 eleições em todo o mundo, em economias que contam para quase 40% do PIB mundial", refere o Goldman. Além disso, "em 2012 e 2013 veremos mais de 100 eleições, em economias que contam para 60% do PIB global".
Obs: A forma como se considera que o ciclo politico-eleitoral está hoje dependente dos planos de investimentos das grandes empresas e das vontades dos mega-investidores, torna, à luz do que acima se lê (e que é exagerado), completamente disfuncional a razão de ser da democracia pluralista e do mecanismos que, de 4 em 4 anos, regra geral, assegura a participação das populações no poder.
Julgo, contudo, para escapar a esse determinismo do económico sobre o político, que ainda existe um reduto da autonomia da vontade do político sobre o económico.
Nessa luta, umas vezes é Carlinhos Marx que ganha, outras é Max Weber quem apresenta a melhor leitura dos factos. A bissectriz terá que ser traçada entre o risco e a segurança, a competição e a protecção, a hegemonia e os equilíbrios, a capitalização e a economia social (hoje em implosão pela crise, recessão e depressão - que se poderá seguir na Europa).
Numa palavra: a "gente" da Goldman Sachs pode estar a inflacionar muito o seu determinismo, e, ao fazê-lo, "casca de banana" em que também o articulista incorre, pode estar a negligenciar as aquelas variáveis mais imponderáveis e de natureza psico-política que vão muito para além dos calculos dos investimentos e da mercantilização dos mercados e da economia pura e dura.
É que para além dos mercados, pode ainda haver muita, mas mesmo muita SOCIEDADE.
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