O poder invisível nas organizações. Cock Robin
Tirando a idiotice de algumas informações vertidas nos telegramas dos novos bárbaros, nómadas-activistas que têm um ego do tamanho do mundo, a utilidade dessa organização repleta de dissidentes designada "Wikilegs", foi a de questionar a natureza da relação entre a democracia e o poder oligárquico no seu seio, remetendo-nos para o tema do poder opaco das organizações. Este tema do poder opaco tem sido pouco explorado entre nós, mas há sempre um idiota útil, como diria Lenine, que assegura essa prestação e incentiva à exploração de técnicas de investigação novas que nos permitem conhecer melhor não apenas os métodos operativos dos Estados, como também o poder invisível de associações cívicas, ONGs, Novos Movimentos Sociais, e outras organizações mais "beneméritas", como a mafia, a camorra, as lojas maçónicas, a intelligence, as wikileaks emergentes do novo tempo, enfim, toda a parafernália de organizações que prosseguem objectivos gerais e concretos, uns mais visíveis e outros mais invisíveis que tecem as malhas das relações transnacionais contemporâneas. Eis a grande vantagem da colocação no mercado da opinião pública global dos milhares de telegramas do sr. Assange: obriga-nos a (re)discutir quais são os limites da legitimidade do poder político face aos media, e da interacção de ambos perante novas plataformas organizacionais com sede e funcionamento rizomático que, pela sua própria natureza, tende a escapar à natureza clássica dos controlos dos poderes públicos institucionalizados. Sendo certo que uma das razões da superioridade da democracia representativa, por oposição à democracia directa ao estilo de Assange, é que naquela forma de decidir dos destinos da coisa pública, os argumentos históricos e políticos carecem duma discussão mais ou menos aturada nos respectivos parlamentos, sem a qual não se formam as grandes convicções de que os governos dos Estados democráticos conduzem esses processos a uma maior grau de transparência do poder, ao invés de organizações que, por vezes, são como certos partidos-líder, ou seja, a organização radica unicamente no seu próprio "fundador-financiador-mentor". É óbvio que nestes casos a democracaia está mais do lado dos Estados do que do lado dessas organizações que têm agendas demasiado segmentárias, e o conceito aristotélico de bem-comum rima com interesse pessoal, organizacional e angariação de fundos sabe-se lá para que outras tantas finalidades, igualmente opacas e, não raro, mafiosas e anti-sociais. A idiotice reflexiva e funcional de Assange serve para rediscutirmos todos esses limites e fronteiras entre poderes públicos e privados, com a tecnologia, umas vezes, a servir de catalizador, outras a desempenhar o papel da cadeira de rodas que transporta o "paralítico" - que hoje se reclama da lei para se proteger, mas que jamais hesitou em fazer perigar e embaraçar o mundo inteiro apenas por causa do seu patológico ego. É por isso que aqui defendemos que o destino do sr. assange não seja a cadeia, mas sim o divã do psicanalista.
Cock Robin - Worlds Apart (TF1 Jan. 1990)
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