quarta-feira

Portugal em leilão: o "sacana" dos juros da dívida empobrece Portugal dia-a-dia

Os juros das Obrigações do Tesouro a dez anos estão quase a bater nos 7%, cujo limiar foi sinalizado por Teixeira dos Santos. Esse foi o patamar perigoso para definir a nova emissão de dívida pública para nos aguentarmos e injectar confiança a pataco nos mercados financeiros internacionais, e também o limiar psicológico para convidar o FMI a tomar conta do burgo, o que é rejeitado pelo Governo em funções para não se vulnerabilizar ainda mais perante a ordem internacional e a oposição interna. Isto deveria encerrar uma lição moral e política para Teixeira dos Santos...
Talvez falar menos e melhor.
Por outro lado, isto revela que estamos mal, mas os fundos especuladores aproveitam esta fraqueza do país para sacarem mais-valias totalmente especulativas à custa da situação do país, de todos nós, contribuintes. Ora, isto nunca aconteceu desde que entrámos no euro, ainda por cima esse endividamento não é para financiar a economia nacional, mas para pagarmos dívida a 6 e 10 anos. Parece que estamos a encher um vaso com água roto no fundo.
Isto significa, na prática, que os investidores/especuladores compram estes títulos emitidos pela dívida pública no mercado de revenda a 10 anos para especular com a nossa desgraça. Será que a vinda do FMI não iria ser um mal menor ante esta desgraça especulativa?!
Será que os técnicos do FMI fariam um trabalho tão mau quanto os técnicos financeiros do actual executivo?! Enfim, Portugal continua em leilão...
Esta escalada paranóica das taxas de juros irá, forçosamente, manda vir o FMI para nos ajudar a arrumar a casa. Teríamos, pois, António Borges a dar conselhos ao ministro das Finanças e ao próprio Sócrates acerca do que deveriam fazer em matéria de políticas económicas e financeiras, talvez assim a República pagasse juros mais baixos para sustentar esta sangria dos juros da dívida.
Estamos como a Irlanda, a ser explorados pelos juros no mercado secundário, o que reflecte bem o fiasco do neoliberalismo e da economia de casino que esta Europa da treta fomentou através dum sistema ideológico assente no dogma, ou na ilusão, de uma auto-regulação da economia dita de mercado que demonstra a incapacidade de se gerir a si próprio, de controlar o que suscita, de dominar as acções que desencadeia. Designadamente, as próprias declarações políticas de Teixeira dos Santos...
Numa palavra: a crueldade que hoje se abateu sobre Portugal e os portugueses é, substancialmente, da responsabilidade dos actuais governantes e não da conjuntura internacional. Até porque os especuladores só atacam onde a economia dá o flanco, como é o nosso caso, o da Irlanda e da Grécia, por razões conhecidas. Lucra a Alemanha, a grande economia exportadora. Por isso, Angela Merkel está cada vez mais anafadinha.
É uma crueldade que se manifestará enquanto durar o tempo desta terrível falta de confiança da economia nacional, cada vez mais impotente para restabelecer um mínimo de ordem e de credibilidade naquilo que urge defender e promover: o nosso interesse nacional vital hoje completamente esfacelado e ao arbítrio dos mercados especuladores transnacionais.
Pois que venham os chineses tapar-nos o buraco financeiro que a "nossa querida Europa da treta" nos está a cavar...

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