quinta-feira

O Facebook entre o paraíso e a manipulação dos actores políticos

De súbito a poderosa rede social Facebook/FB tornou-se uma inevitável sedução para actores políticos que até ao momento nunca exploraram a vertente da comunicação virtual assegurada pelas ferramentas da Web. Na última semana, até parece que de forma combinada e irmanada, Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva, aquele candidato a PM e este recandidato a PR, deram um ar da sua graça e apresentaram pequenas comunicações no FB.
O facto em si, ou seja, em termos absolutos, é positivo e salutar que os agentes políticos queiram comunicar com as populações e interagir de forma mais estreita com elas. Os actores políticos do PS e dos demais partidos do sistema político português, também o fazem, com maior ou menor intensidade, a fim de divulgar a sua mensagem, o seu programa e os seus ideais. O que é criticável nestas aparições é que alguns desses players, à esquerda e à direita, o façam em vésperas de eleições, em contextos de crise ou de recessão, logo em períodos de agitação social, económica e financeira como aquela em que vivemos a fim de tirarem partido politicamente dessas comunicações virtuais. Quem não tem uma cultura digital, tecnológica, política ou comunicacional fica aturdido com essas mensagens e pensa que os seus autores querem, de súbito, criar o paraíso na terra e comunicar, desinteressadamente, com os seus "súbditos", de cujos votinhos precisam para se manterem no poder, uns, ou de capturarem o poder, outros.
Infelizmente, Cavaco e PPCoelho cairam ambos nesta armadilha virtual, e nenhum dos seus assessores lhes conseguiu explicar verdade tão comezinha, o que é lamentável, ainda que a curto prazo fiquem com a percepção de que extraíram vantagens comunicacionais e políticas junto dos tugas que estão online.
Neste estrito sentido, achei que quer Cavaco quer PPCoelho foram infelizes na utilização da rede social FB para divulgarem a sua mensagem. Por causa do timing escolhido e da natureza das suas comunicações. Cavaco quis dizer à plebe que nunca contribuiu para intensificar a guerrilha política em Portugal, e PPCoelho pretendeu aproveitar o FB para induzir no sistema a mensagem de que, não obstante a sua abstenção no OE2011 deixando-o passar – que o "pior ainda está para vir".
Vejamos sumariamente as duas posições, que devem ser censuradas: Cavaco, ainda há pouco tempo congeminou um "golpe de estado" constitucional com base numa inventona, as famosas “escutas” a Belém, tarefa executada por um seu assessor e ex-director do DN, Fernando Lima, por sinal – foi um director que ia levando o jornal à falência. Provou-se que tudo não passou duma campanha que consistiu, tão somente, em tentar assassinar politicamente o PM em funções e, de caminho, ajudar Manuela Ferreira leite a subir a escadaria de S. Bento, ganhando as eleições legislativas de 2009. Consabidamente, esse projecto amorfo gerado nas catacumbas de Belém saiu gorado, os seus autores – mandante e executor – foram descobertos e o país um pouco mais lúcido ficou a saber alguns dos modus operandi utilizados em Portugal para fazer política. Revelando uma grande machadada no rule of law e na democracia pluralista em Portugal.
Relembro que na década de 70 do séc. XX Richard Nixon foi obrigado a resignar pelo caso Watergate, mas no caso português a coisa assumiu uma textura mais soft, mas não deixou de ser grave, e a única consequência dessa alarvidade de métodos políticos de Belém cingiu-se a Cavaco ter dispensado o seu assessor de comunicação para o afectar para outras funções no Palácio Rosa, excluindo-o das ligações aos media. Isto foi lamentável, e só por esta razão, que revela bem um carácter, creio que milhares de portugueses deixaram de votar em Cavaco para Belém nas próximas eleições presidenciais, mesmo que também não votem no poeta Alegre, que ainda será uma pior opção. Daí o impasse em caímos em matéria de presidenciais.
Quanto a PPCoelho, a sua racionalização da Web também não foi feliz, pois os assuntos de Estado não se discutem na praça pública, sobretudo quando a alta finança e os operadores especulativos transnacionais estão atentos à nossa economia, e exploram isso ao máximo obrigando-nos a perder milhões de euros diariamente por causa de declarações inflamáveis. Neste capítulo, e apesar de PPCoelho ser economista, revelou uma ignorância funcional do comportamento dos mercados, mas ele não resistiu a dizer que "o pior ainda está para vir", contrariando a sua colega, Ferreira leite – que advogou o "fingimento" para nos mantermos à tona e não sermos ainda mais esbulhados pelos especuladores que empobrecem Portugal. Mas Coelho não resistiu ao soundbite no intuito de colher mais uns votinhos sabujos, mesmo que soubesse que nesse dia o seu país, a sua economia nacional seriam atacados, como foram, pelos especuladores e perderia mais uns milhões.
São uns "verdadeiros patriotas", estes tipos!!!
Naturalmente, se escalpelizarmos melhor todas as declarações dos demais agentes políticos, incluindo os do PS e dos governantes em funções, também encontramos declarações infelizes objecto de crítica. Mas estes estão à defesa e aflitos, por razões óbvias: pelos erros que cometeram em matéria de política económica e financeira e pela gordura do Estado que deixaram agravar, hoje compensada com impostos pagos pelo contribuinte, e pelo facto de saberem que estão em vias de ser substituídos no poder pelo PSD. O que em si é saudável, desde que se prove que a rotação democrática tenha por base um projecto político alteranativo para Portugal, e isso PPCoelho – por mais que custe aos seus apoiantes – ainda não foi demonstrado.
Mas não percamos de vista o objecto desta análise, assim se no passado recente os meios publicitários disponíveis permitiam aos anunciantes apregoar múltiplos e diferentes vantagens, na esperança de que essas mensagens acabassem por aliciar os consumidores/votantes a comprar ou a votar no candidato A, B ou C, hoje, o estádio tecnológico permitiu criar uma Nova Ordem de Comunicação Pública que facilita a vida a políticos, empresas e cidadãos, facilitando a estes a divulgação da sua mensagem em tempo real, sem custos e permitindo obter um feed-back do mercado que compra produtos e serviços e dos eleitores que votam, que é o que mais preocupa os políticos como Cavaco e PPCoelho – que ora preparam a sua pole position eleitoral. É, de resto, natural que o façam.
Esta adaptação extrema ao mercado da comunicação política é que poderia ser menos oportunista, o que faz dos eleitores meros joguetes nas suas mãos, dados os baixos índices de cultura política em Portugal, daí o recurso abrupto ao Facebook e à filosofia que resume o seu potencial de comunicação.
Ao potencial da mensagem, da marca, do meio/canal que permite atingir milhares de pessoas instantaneamente.
Parece até que os políticos em geral, ou alguns em particular, descobriram agora a extrema necessidade de ouvir as populações, auditar as suas ânsias e esperanças, conhecer virtualmente os seus sonhos e o mais, como diria Almada Negreiros. Para quem conhece o pessoal político, sabe bem que tudo não passa duma necessidade absoluta de capturar o poder, seja o PS ou o PSD que estejam nos comandos do Estado, nisso são exactamente simétricos porque são ambos partidos de poder.
Mais uma vez, aquilo que me parece ser censurável é que os players hoje candidatos ao poder, os mesmos que querem demover os que lá estão, e o ciclo repete-se quando o PS regressar novamente à oposição, usem e abusem do modus operandi de explorar as redes sociais, tipo Facebook e outras, de forma oportunista (à direita, à esquerda e ao centro, repito!!) para iludir os respectivos eleitorados que, muitos deles, por não terem filtros e instrumentos de análise precisos, são facilmente manipulados e iludidos com as mensagens políticas virtuais. Sócrates, diga-se em abono da verdade, tem faltado à verdade nos canais clássicos, ou seja, na mediacracia, portanto poupa-se a infiltrar o FB para replicar alguns dos seus erros.
Numa palavra, se os agentes políticos passaram a ver nas redes sociais uma forma de fazer política, talvez os milhões de portugueses encontrem aí a forma mais expedita de aumentarem a sua cultura política a fim de separar o trigo do joio, e não se deixarem influenciar pelas jogadas marketeiras que os tempos de vésperas que estão na antecâmara das eleições suscitam a todos os portugueses que hoje vivem um pouco como os albaneses.
E o ano de 2011 ameaça ser pior…
Wonderfull Chill Out Music by Karunesh

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