Somos todos iguais, mas uns mais iguais do que outros: a exposição mediática de Carlos Cruz
Esta máxima, sistematizada pelo autor de 1984 e do Triunfo dos Porcos, G. Orwel, poderia balizar os termos em que o antigo “Sr. Televisão” vai hoje gozar de um excepcional tempo de antena que o espaço mediático – em prime time - lhe concede. Prerrogativa que não é extensiva a mais nenhum outro arguido ou culpado.
Em primeiro lugar, por motivos corporativos, pois Carlos Cruz/CC é um homem ultra-mediático, por isso, ainda que inconscientemente, gozará do apoio directo ou indirecto dessa nomenklatura mediática tecida de antigas amizades e alimentada por cumplicidades que o tempo dificilmente apagará; em segundo lugar, os media desejam parasitar essa relação sinergética na fronteira do crime, com a justiça e o mediatismo. Seja por motivos sensacionalistas e espectaculares, seja por motivos comerciais e económicos associados; e, em terceiro lugar, CC articula bem, razão porque terá sempre uma vantagem expositiva e/ou justificadora relativamente a qualquer outro dos culpados visados pela sentença que está dependente do funcionamento das impressoras do Ministério Púbico ou dos tonners ou doutros consumíveis cujas matérias se encontram em segredo de justiça, ou doutro aspecto conexo igualmente ridículo.
Mas o facto de se dar uma oportunidade de ouro a CC e não a conceder aos seus companheiros dos últimos anos constitui, à partida, uma vantagem para aquele e uma desvantagem para estes, o que introduz um factor de desequilíbrio no acesso à opinião pública e à sensibilização que cada um pode fazer para, no espaço público, procurar demonstrar a sua inocência, como que à margem do sistema judicial em que ninguém ou poucos acreditam em Portugal.
Esta formulação, de que a informação repousa numa concepção que valoriza primeiramente o indivíduo e a democracia, é feita em nome da liberdade e da igualdade dos indivíduos mas, na prática, acabará por admitir à sociedade que CC teve mais e melhores oportunidades de se defender perante a justiça e a sociedade do que os demais culpados visados pelo tal acórdão ou sentença que há-de vir…
Isto é assim, aparentemente, por uma razão simples: a imagem de CC, por ser o sujeito visado mais mediático no caso Casa Pia, foi também aquela imagem mais exposta e abusivamente repetida ao longo de todo este processo. Por conseguinte, a oportunidade que os media hoje lhe dão para se defender na esfera pública terá que ser ou representar uma espécie de discriminação positiva que funciona como caixa de compensação pelos anos anteriores em que CC aparecia como uma espécie do pedófilo-mor do regime democrático que hoje pode (e deve) limpar a sua imagem na esfera pública, especialmente numa casa onde apareceu e cresceu profissionalmente através da apresentação de concursos televisivos que o tornaram famoso e querido dos portugueses.
Todavia, em rigor a informação (ou manipulação!!) que o Sr. Tv irá prestar a uma colega sua de profissão é indissociável à ideia de igualdade e de universalidade, logo trata-se duma concepção política que não possui outra legitimidade que a de emanar de um sistema de valores típico duma cultura, a cultura do Ocidente.
Não obstante todo este sistema de garantias que o espaço mediático concede a CC, parece-me que as posições já se extremaram de tal modo que este processo há muito se tornou insustentável: pois nem acreditamos absolutamente na inocência do homem, e, muito menos acreditamos na credibilidade do sistema de justiça, desde logo pela forma deficiente como não assegura condições básicas no seu funcionamento administrativo.
Ainda assim, considero positivo CC ir à TV dar uma entrevista a uma ex-colega, pois é um regresso a casa e ao seu meio – que domina técnica e comunicacionalmente, aliado à possibilidade de conseguir convencer mais uns milhares de pessoas que, na hora da verdade, farão deslizar o pêndulo da balança mediática a seu favor, nem que seja para punir a forma miserável como juízes e aparelho de justiça em Portugal funcionam, revelando todo o esplendor da sua incompetência, laxismo, parcialidade podendo, no limite, ratificar um conhecido ponto de vista: mais vale um criminoso à solta do que um inocente na cadeia.
Portanto, Quid juris para CC?! PS: Pergunto-me se o boom informático ainda não chegou ao sistema de justiça em Portugal... Talvez resolvam a "coisa" com meia dúzia de Magalhães!!!
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