terça-feira

A Europa criou o seu Novo IDIOTA. O tipo que fala sem reflectir

Qualquer pessoa que tenha um conhecimento rudimentar de economia sabe que não valerá fazer apelos nacionalistas e proteccionistas porque o que comanda o jogo de expectativas dos consumidores é a racionalidade económica ditada pelas oportunidades imposta pela ditadura dos mercados.
De que vale Cavaco apelar aos tugas para passarem férias cá dentro se, por hipótese, em Espanha se gasta menos dinheiro por igual período de tempo!?
Cavaco presume que a grande maioria dos tugas pode passar férias e tem uma vivenda no Allgarve, puro engano.
Grande parte deles passa férias em casa e não tem casa no Allgarve. Mas a convicção idiota regulada pela fórmula do passe férias cá dentro como escapatória para a crise - numa versão degradada duma campanha de turismo da década de 70, enferma dum erro estratégico mais grave, que coloca a globalização num patamar com inúmeros inimigos que têm poucas coisas em comum: proteccionistas, ecologistas, chefes tribais e religiosos, fundamentalistas, anarquistas e, doravantem os cavaquistas.
Uma reflexão atenta explica-nos o óbvio: os agentes sociais, as famílias, as pessoas individualmente não agendam as suas vidas em função de apelos dos políticos de quem, aliás, sentem uma grande desconfiança.
Cavaco, que é economista de formação, deveria pensar antes de falar para não incorrer no ridículo, até porque a sua formulação económica é errada, se amanhã um tuga descobrir que pode passar férias em Sevilha por 15 dias pelo preço de uma semana no Allgarve, não hesitará em demandar terras espanholas. Cavaco revela desconhecer as leis económicas.
Cavaco ignora todo o capital de conhecimento que deve ter aprendido - e já esquecido - com David Ricardo, Adam Smith - e outros economistas que nos falaram nas vantagens comparativas do comércio internacional, intensificado com a globalização competitiva que torna insustentável a explicação do mundo black & white, mas ainda bem que este ridículo intelectual, e até cultural, veio à tona a partir do paroquialismo de Belém, porque assim o país ficou a saber que até mesmo aqueles que se auto-proclamam especialistas em economia não passam, afinal, de meros merceeiros que nem contas de somar sabem fazer.
No limite, este pensamento tacanho de patriotismo económico leva a uma política de imigração altamente selectiva e xenófoba que é deveras perigosa, pois o que alguns idiotas defendem é que os estrangeiros possam e devam cá vir passar férias e deixar as suas economias, mas os tugas, por contraponto, devem ficar agarrados à terra que os viu nascer. Ou, indo mais além, as várias ondas de emigração que ocorreram na história do séc. XX para a América do Norte, América do Sul e Europa também não deveriam ter ocorrido, porque era intra-muros que os tugas deveriam ter ganho a vida. Pobre cavaco!!!
Em vez de termos políticos que acreditem numa globalização de rosto humano, que promovam as relações económicas, políticas, culturais e sociais articulada com base no reconhecimento das sua diversidade e interdependência, e bem sabemos como uma pequena economia aberta como a nossa depende desses fluxos económicos, temos, ao invés, a defesa perversa da política da avestruz que ainda pensa que é possível mandar a globalização para trás e barrar a entrada da linha da net, do telefone e das comunicações entre os homens em nossas casas.
Cavaco, se fosse intelectual e culturalmente sério, e soubesse alguma coisa de economia não evocaria as teses da década de 70, como se o turismo nacional se esgotasse à Torralta e à ilha de Tróia. O mundo mudou tanto desde então que hoje só me admiro como ainda há lugar para políticos que revelam uma incultura tão anti-económica como aquela que revelou na sua declaração, salvo se entendermos que ela constitui já um plebiscito sondageiro à sua reeleição presidencial, mas isso seria ainda mais grave porque seria utilizar a boa fé dos portugueses para Cavaco atingir os seus objectivos políticos pessoais.
Vindo e quem vem, não surpreende...

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