quarta-feira

Alain de Benoist e o terrorismo

Neste seu trabalho Alain de Benoist contesta radicalmente a legitimidade teórica, política e moral do conceito de “guerra justa”, contra o terrorismo “global”. Demonstra como este pode ser remetido às suas dimensões mais simples e naturais, que permitiriam combatê-lo sem o alimentar. Relaciona-o com o fenómeno, tipicamente moderno, da criminalização do inimigo, segundo a análise de Carl Schmitt, cuja actualidade é apurada por Benoist. O terrorismo, com efeito, não tem apenas raízes islâmicas, mas igualmente ocidentais e até estatais. De facto a “globalização” do terrorismo lembra irresistivelmente as teses de Schmitt na sua Teoria da Guerrilha. O autor chega à conclusão de que o “globalitarismo” americano contém um perigo mortal para o mundo moderno, ao ocultar a origem do elemento político e conflitual na vida do homem. Consequentemente, um planeta “definitivamente pacificado” pela hegemonia “benévola” dos Estados Unidos da América pode vir a produzir uma guerra civil mundial sem fim e de proporções catastróficas.
Obs: Tal como no terrorismo transnacional e globalitário em curso - o velho guerrilheiro - tem alguns critérios que o guiam na sua acção no terreno: mobilidade intensificada, irregularidade e intensidade do comportamento político e até um carácter telúrico que anima essa cruzada pela conversão do Ocidente europeu ao islão mais radical e dogmático que se traduz em acções de terrorismo global e suicidárias verdadeiramente surpreendentes. Daí o paralelo entre o guerrilheiro e o terrorismo contemporâneo que ameaça a segurança e coesão das sociedades. O guerrilheiro não traz as armas à vista, luta pelas costas, usa tanto o uniforme do inimigo, e utiliza todos os fatos civis como disfarce. O segredo e a escuridão são as suas melhores armas, e aqui partilha os dispositivos com os terroristas do nosso tempo. A longo prazo o irregular torna-se regular, daí a necessidade de travar - por via da criminalização (e não só) - das actividades que envolvam situações como as que esta semana ocorreu em Portugal por parte de dois supostos etarras vindos de Espanha. Vivemos num tempo em que os cidadãos, a sociedade civil, o tecido conjuntivo do Estado - que somos todos nós - têm que estar atentas e alertas para, por um lado, prevenir a eclosão deste tipo de violência sociopolítica, e, por outro lado, sancionar com mão pesada as consequências desses crimes hediondos e cobardes. E assim como o terrorista não espera uma consagração de direitos, liberdades e garantias da sociedade e do Estado, estes, ou seja, nós, também não devemos esperar convidar um terrorista para ir lanchar lá a casa. Não tanto pela violência contida nesses elementos, mas pelo grau de contaminação que as suas células produzem em todo o mundo. Hoje, de certo modo, todos temos um certo espírito de dúvida. Uma dúvida que até pode ser pouco cartesiana e mais kantiana mas tem que ser maquiavélica no tratamento com este fenómeno instabilizador do nosso tempo. Uma dúvida que sirva para prevenir e para punir, se for o caso. Neste quadro importa recuperar a teorização sistematizada pelo polémico constitucionalista germânico Carl Schmitt - a propósito da teoria da guerrilha - sobre que reflectiu, para concluir que o grande perigo reside, não apenas na existência dos meios de destruição e da maldade premeditada dos homens, mas do facto de certos homens, os terroristas, ao destruirem outros homens de forma criminosa e completamente desumana merecem ua hostilidade absoluta por parte do Estado, de todos nós, homens de bem. Ou, como diria Schmitt, a concluir aquele trabalho, o teórico nada mais pode fazer, além de guardar as noções e chamar as coisas pelos seus nomes. A teoria da guerrilha desemboca na noção de política, na questão do verdadeiro inimigo e num novo nomo da terra.
Para distender...
Vambora - Adriana Calcanhoto

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