Morreu Robert McNamara
Morreu o "arquitecto" da guerra do Vietname
Robert S. McNamara, o secretário da Defesa norte-americano que conduziu a controversa guerra do Vietname e mais tarde se dedicou à ajuda aos países pobres, morreu aos 93 anos, informou a família.
McNamara morreu às 05:30 (10:30 em Lisboa) em casa, segundo a sua mulher, Diana, que adiantou que o estado de saúde do marido se degradou nos últimos tempos.
Independentemente de todos os esforços que fez em outras áreas, Robert McNamara ficou para sempre associado à Guerra do Vietname (1959-1975), que chegou a ser chamada "a guerra de McNamara" e que foi a mais controversa guerra envolvendo os Estados Unidos e a única a terminar com uma retirada e não com uma vitória.
Conhecido como um político com uma fixação pela análise estatística, McNamara foi escolhido para dirigir o Pentágono pelo presidente John F. Kennedy em 1961, quando presidente da Ford. Permaneceu no cargo durante sete anos, mais do que qualquer dos seus antecessores desde a criação do cargo de secretário da Defesa, em 1947.
A associação do seu nome à Guerra do Vietname chegou a tornar-se pessoal, quando o seu filho, então estudante na Universidade de Stanford, participou em manifestações contra a guerra liderada pelo pai.
O seu nome do meio - Strange (estranho) - foi usado pelos críticos para explicar a falta de piedade com que McNamara olhava para os números de soldados norte-americanos mortos no conflito. Depois de sair do Pentágono, à beira de um esgotamento nervoso, McNamara tornou-se presidente do Banco Mundial e empenhou-se fortemente na promoção da ideia de que melhorar as condições de vida nas comunidades rurais dos países em desenvolvimento era um caminho para a paz mais prometedor do que a proliferação de armas e de exércitos. De personalidade reservada, McNamara recusou durante muitos anos escrever as suas memórias, explicar a sua visão da guerra ou a sua perspectiva sobre as disputas com os generais. Só no início dos anos 1990 começou a falar. Em 1991, disse à revista Time que não acreditou que o bombardeamento do norte do Vietname - a maior campanha de bombardeamentos até então registada - resultasse, mas que concordou "porque era preciso tentar provar que não resultava e porque outras pessoas pensavam que ia resultar". E, em 1993, depois do fim da Guerra-Fria, McNamara começou a escrever as suas memórias por considerar que algumas das lições aprendidas com a guerra do Vietname se aplicavam ao período pós Guerra-Fria, "por estranho que possa parecer". "In Retrospect: The Tragedy and Lessons of Vietnam" foi publicado em 1995. No livro, McNamara escreveu que em 1967 tinha profundas dúvidas acerca do Vietname e não acreditava na capacidade dos Estados Unidos para vencerem a guerrilha. Apesar dessas dúvidas, escreveu, continuou a manifestar publicamente a convicção de que uma supremacia de fogo dos Estados Unidos forçaria os comunistas a negociar a paz. Nesse período, o número de baixas norte-americanas, entre mortos, desaparecidos e feridos, subiu de 7.466 para mais de 100.000. "Nós, nas administrações (John F.) Kennedy e (Lyndon) Johnson, agimos de acordo com o que pensámos serem os princípios e as tradições do nosso país. Mas estávamos enganados. Estávamos terrivelmente enganados", disse McNamara, então com 78 anos, a propósito da publicação das suas memórias. Com a Guerra no Iraque e as semelhanças com a do Vietname, o nome de McNamara voltou ao debate público, a maioria das vezes como comparação com o então secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, mas também porque McNamara foi um dos antigos secretários da Defesa que George W. Bush ouviu em 2006 sobre a política a seguir no Iraque. Na administração Kennedy, McNamara foi também uma figura-chave na desastrosa invasão da Baía dos Porcos, em Abril de 1961, e na crise dos mísseis de Cuba, 18 meses mais tarde, considerada o momento em que o mundo mais se aproximou de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética. Depois de 12 anos a presidir ao Banco Mundial, McNamara reformou-se em 1981. Obs: Uma referência para o pensamento estratégico do séc. XX e, de certo modo, um teórico e um importante decisor que inspira os cultores da ciência política e relações internacionais.
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