sexta-feira

O manifesto - por António Vitorino -

in DN,
o sublinhado é nosso.
Os ditames da mediatização da actividade política e a procura de diferenciação de projectos, particularmente intensa nos períodos eleitorais, tende sempre a levar à simplificação da mensagem dos protagonistas políticos.
Ponderando o debate pré-eleitoral, até parece que a próxima eleição parlamentar se resume a um referendo sobre o projecto do TGV ou, quando muito, sobre um conjunto de grandes investimentos em infra-estruturas.
Esta estratégia tem como corolário a afirmação de que "o" problema do País é o endividamento.
A uma tal postura contrapõe-se à dos que defendem que "o" problema do País é o desemprego. Acrescem os que entendem que "o" problema é a produtividade, os que "o" identificam na competitividade, os que "o" vêem na degradação ambiental e por aí além…
Todos têm assim a sua quota-parte de razão, ou de verdade, se quiserem.
Só que governar não é apenas escolher "um" problema e definir uma estratégia para o abordar. Do bom governo exige-se mais. Exige-se que identifique os vários problemas, defina as suas prioridades e apresente um rumo que, respondendo a eles, seja explícito quanto às implicações das soluções encontradas para cada um deles.
Na semana passada, um manifesto de 28 economistas aderiu à tese da dominância do endividamento. Tratando-se de uma operação política que visava travar decisões do actual Governo sobre a alta velocidade, o novo aeroporto e as auto-estradas ainda não adjudicadas, o seu impacto acabou por ser limitado pelo facto de o próprio Governo ter decidido adiar alguns dos actos que estava suposto praticar neste período que nos separa das eleições legislativas.
Sem embargo, a preocupação dos seus promotores foi o de ser abrangente na lista de subscritores. Por isso reuniu aqueles que têm um preconceito ideológico contra o investimento público aos que são apenas favoráveis ao aeroporto, mas contrários ao TGV, os que aceitando ou o aeroporto ou o TGV entendem que neste momento tudo deveria ser adiado para o período pós-crise e ainda os que mesmo aceitando a alta velocidade discordam da prioridade da ligação europeia.
O denominador comum entre tal diversidade foi a decisão de parar para reflectir, o mesmo é dizer, adiar qualquer decisão. Logo, a inércia seria a solução!
Até se percebe em que medida é que tal tomada de posição pode ter ressonância na opinião pública. Avessos ao risco em geral, não decidir é não correr riscos.
Mas a verdade é que as não soluções nunca resolveram nenhum problema. Com efeito, a recessão também pode reduzir o défice externo, porque, como sucede por exemplo em Espanha, se a quebra da actividade económica interna for maior no seu impacto na redução das importações do que no volume das exportações, o défice diminui. Mas ninguém no seu juízo recomenda as virtudes da recessão para reduzir o endividamento… De igual modo, uma retoma marcada por uma espiral inflacionista também pode levar a uma diminuição do peso da dívida, mas ninguém pode construir um programa responsável preconizando tal solução marcada pelo agravamento das desigualdades e das condições de vida.
Por isso, o que teria sido interessante, e até mais útil, seria que tão grande massa de qualificados economistas nos tivesse dado mais do que um conselho de nada fazer uma grelha de análise dos investimentos que pretendem avaliar.
Ninguém pode negar que a estratégia de resposta ao endividamento é uma questão crucial para o desenvolvimento futuro do País. O impacto dos grandes investimentos na dívida depende do modelo de financiamento dos projectos, do seu impacto na competitividade do País, dos ganhos em matéria ambiental sabido o peso da factura energética nesse défice externo. Nada disto transparece no manifesto.
Por outro lado, o impacto no emprego não constituirá também um elemento a ter em conta nesta avaliação? Mas não seria mais útil que tão reputados economistas tivessem aproveitado a oportunidade para nos demonstrar que o que não se gastaria nesses investimentos poderia ser directamente imputável a outros sectores com valia acrescentada em matéria de emprego? É que nesta fase de recessão passar ao lado da questão do emprego constitui uma cedência à simplificação da mensagem incompatível com os pergaminhos invocados pelos autores do manifesto.
Obs: Ao poder de coligação negativa da massa qualificada de economistas constante no "manifesto", à "soberania" vazia do endividamento molecular da srª Ferreira segundo o qual não há dinheiro para nada (excepto para o cabeleireiro), o país real ficou a saber que o actual psd governaria não governando, tomaria soluções para os problemas sectoriais adiando todas essas decisões e que os afamados economistas do embargo utilizam o seu talento ... não para jogar mas para impedir que outros joguem.
Ou seja, não jogam nem deixam jogar.
E o mais curioso é que há dias António Vitorino sugeriu à srª Ferreira que pensasse no seu programa de direita liberal para o país, o resultado foi aquela entrevista-maravilha a Ana Lourenço na Sic/N., em que todos ficámos a saber as componentes do projecto político do psd para Portugal: Paulo rangel é muito bom, Santana para Lisboa..., ainda pensei que a madrinha de António Preto pensasse nele para ministro dos Transportes e Comunicações - a fim de facilitar as licenças nas Escolas de Condução no contexto do jogo da mala que fronteira com a corrupção e com o financiamento partidário e ao pagamento de quotas.