GENEALOGIA DUMA DECISÃO
Manuela Ferreira leite tomou a decisão da sua vida: arremessar o denso e espesso Paulo Rangel, que é um homem estruturado e inteligente, mas também gongórico e belicoso, contra Sócrates. Pelo meio está, naturalmente, Vital Moreira - que terá de meter Rangel no "bolso político" e, de caminho, recordar-lhe algumas lições de Direito Comunitário e de Política geral europeia, embora sendo ambos juristas e conhecedores do metier - será interessante acompanhar a dialéctica entre eles.
Mas pelo mote infeliz de Rangel, que além de tribuno no hemiciclo também assume o perfil de "peixeiro" no mercado da Ribeira ao estilo do tribuno-menor do Cais-do-Sodré, já podemos ter uma antevisão da peixerada que o próprio Paulo Rangel irá, a todos os títulos, promover nestas eleições europeias.
Assim, no Expresso lê-se o seguinte:
QUEM VAI PARA BRUXELAS....
Diálogo eventual numa narrativa desesperada: - Ferreira Leite: Vai tu Paulo; - Paulo Rangel: Vá vcê Manela; - FL - Vai tu Paulo... - PR: Mas assim a madrinha fica sem o meu braço-direito e o seu. - FL: Estás a chamar-me maneta?! - PR: Por amor de Deus madrinha...
A Manela, de facto, ao escolher Rangel para seu cabeça de lista quer dizer duas coisas ao partido e à sociedade: 1) que gostou do porta-vox de Rangel no Parlamento (que serviu de almofada à directora do psd, quase sempre contraditória em matéria de política económica e social), e agora eleva-o às instâncias da Europa; 2) por outro lado, Leite também dá um sinal político a Pedro Passos Coelho (seu rival interno na sucessão à liderança) que está aí para lutar contra ele após a derrota nas legislativas.
Os da(r)dos estão lançados...
Imagem picada no PS Lumiar
Já que era uma possibilidade Leite "empurrar" Passos Coelho para a Europa como forma de se ver livre dele e da competição interna pela liderança do PSD que, inevitavelmente, se colocará após a derrota nas legislativas contra Sócrates já no próximo Verão..
Por isso, defendemos que Paulo Rangel foi, talvez, a 1ª grande e única medida política que a madrinha do António Preto tomou desde que foi entronizada no no PSD no Congresso de Guimarães.
Atrasada, mas lá se decidiu, embora ficasse melhor servida com Marques Mendes, mas as contas antigas impediram essa possibilidade, e a Manela, como afirmou, quer é apostar nos "jovens". Talvez seja por isso que a sua direcção é composta quase exclusivamente por cinquentões cinzentões - de que Aguiar-Branco, Macedo Sousa e o "songa-monga" de Marques Guedes são paradigmas invertidos dum psd que há anos se vem politicamente desvitalizando.
Aliás, a aposta nesse "cheque careca" que representa Santana lopes em Lisboa/autárquicas é, está-se mesmo a ver, uma consequência doutrinária (elevado ao paroxismo) do denso pensamento da Manela, segundo o qual pretende apostar na juventude...
Quanto à "mordaça" que Rangel imputa a Vital é uma declaração de guerra que, nesta fase pré-eleitoral, é imcompreensível e gratuita, na medida em que as matérias comunitárias são, por natura, prolongamentos naturais das questões políticas nacionais (cruzadas) que ganham uma dimensão de negociação mais complexa quando esses dossiers se colocam em Bruxelas. Aí a negociação é a 27, o que complica tudo pelos termos das propostas e das negociações.. Portanto, será quase inevitável discutir politicamente a educação, a formação, a lógica dos investimentos públicos, a agricultura, o ambiente e as energias renováveis - e a forma articulada como os vectores nacionais se podem (e devem) complementar com os processos de decisão comunitários - a fim de garantir a Portugal a melhor fluidez dos recursos para empreender essas reformas em quase todos os sectores da governação, que intersecta todas essas políticas públicas - e que nunca vimos Vital Moreira querer abafar ou "amordaçar", segundo o termo de Rangel. Isso até seria defensável se se tratasse dum candidato comunista, mas segundo julgo saber Vital Moreira já fez a cisão com o velho partido de Cunhal quando o Muro de Berlim ruíu, portanto as declarações de Rangel só podem ter origem na sua má fé política e histrionismo político, desde logo explorando a bandeira do candidato de G.W.Bush lançado na Cimeira dos Açores, Durão (agora proposto a um 2º mandato) para abrir as hostilidades de campanha. Apenas porque Vital, como milhares de pessoas em Portugal, e até dentro do próprio PSD, não vêem em Durão o perfil de um candidato de futuro para a Europa, mas sim o rosto do passado, da cimeira da vergonha em que foi o mordomo dos Açores, abrindo a porta à invasão do Iraque (e à violação do DIP do CS da ONU) para aí lavrar uma guerra civil interminável e até intensificar as condições de terrorismo global - pelo ódio que se multiplicou aos EUA no mundo islâmico (e à ideologia fundamentalista e neoconservadora imposta pelo mentecapto G.W.Bush). Mas estas subtilezas políticas mais sistémicas escapam à inteligência pouco flexível de Rangel... De facto, quando Rangel despe a farda de parlamentar sério para vestir o oleado de peixeiro do mercado da Ribeira, ao bom estilo do tribuno do Cais-do-Sodré, fica muito mal na fotografia, até porque ao pé de Vital Moreira, com quase o dobro da idade, acaba por ser menos elegante, e isso faz com que Rangel só tenha a perder. De facto, Rangel foi escolhido pela Manela não pelo facto de ser um homem inteligente e preparado, mas sim porque lhe aparou os golpes todos no parlamento quando a actual líder se contradizia dia-sim-dia-sim em matéria de política de investimentos públicos. A Manela asneirava, e lá estava o Rangel com a borrachinha nas mãosinhas sapudas para emendar as asneiras no hemiciclo. E mesmo que a Manela - que não é deputada - dissesse ser contra a intensificação dos investimentos públicos como forma (keynesiana) de sair da crise, lá estava o fiel Rangel no hemiciclo reclamando ao Governo a tal "folha A4" estipulando todos os investimentos públicos a realizar em Portugal. No fundo, a Manela dizia Sim e Não ao mesmo tempo aos investimentos públicos, e o papel de Rangel era afirmar o Nim no hemiciclo. Fazer a quadradtura do círculo. Agora conheceu o prémio por tanta fidelidade... Embora a Manela tivesse que falar na idade e na aposta na juventude naquele seu tagarelar desarticulado, pois mesmo que Rangel tivesse 85 anos, seria cabeça de cartaz na mesma... De facto, os erros da Manela foram tantos e tão graves, e Rangel defendeu-a tantas vezes, que, agora, injustamente, Rangel é promovido a cabeça de cartaz das europeias, não por ser um jurista qualificado com preparação parlamentar e domínio de algumas políticas sectoriais, mas porque defendeu a "dama das camélias" na catadupa de erros que actual locatária da "moviflôr" da Lapa cometeu desde que foi entronizada em Guimarães... De facto, Rangel poderia ter escolhido outra bandeira mais séria para arremessar contra Vital Moreira, até porque se há pessoa que meteu os interesses pessoais e europeus acima dos efectivos interesses nacionais de Portugal, foi essa "alfurreca" chamada Durão barroso que era, então, "só" para avivar a lerdinha memória do parlamentar Rangel, o PM de Portugal - que não hesitou em executar a fuga para Bruxelas (deixando um défice de quase 7%) no burgo, enquanto procurava dar uma imagem pública e diplomática de apoio ao candidato mais credível que então estava na calha para presidir à Comissão Europeia: o ex-Comissário António Vitorino, reconhecido técnica e políticamente como o melhor candidato pelo colégio de comissários. De facto, em política a memória das pessoas é curta, além de injusta, e, pelo que vejo, a memória de Paulo Rangel é do tamanho duma ervilha furada pelo bico dum pombo. Assim, quando ele vier falar em defesa dos interesses nacionais, Vital Moreira deverá dizer-lhe quem é que, verdadeiramente, os violou para engrandecimento pessoal (deixando o Governo de Portugal entregue a Santana e à "bicharada" no semestre mais negro da história da nossa democracia)... E com isso calará as bocas do histriónico Rangel - que anda eufórico com a sua nova condição política. De resto, tenho para mim, caso a história dessa manhosa eleição de Durão para a CE na sequência da Cimeira dos Açores, fosse outra - hoje também seria outra - com António Vitorino a liderar/coordenar os trabalhos da CE. E a Europa, no plano social e até económico poderia não ter enveredado pelo neoliberalismo que acabou por enveredar... Em boa medida ritmado por W. e pela dinâmica de guerra errática que ele imprimiu à política externa dos EUA. Mas não sou eu nem Rangel que irão julgar politicamente a "alfurreca", será a própria história. E essa, estou certo, apenas dedicará a Durão uma breve nota de roda-pé com um epitáfio tão manhoso como manhosas foram as condições preparatórias e as manobras de bastidores que conduziram à sua eleição à Comissão Europeia - entre os arrotos de três políticos em fim de ciclo: (o mentecapto) W., (a arrastadeira) Blair e Aznar... que foi tão idiota que até - tentou imputar o ataque terrorista na Estação de comboios de Attocha, em 2004 (que vitimou 200 pessoas) à Eta. Resultado: perdeu as eleições para o socialista Zapatero, mas isto apenas enfatisa os compagnons de route de Durão ao tempo.. E agora, o gongórico Rangel tem a grande lata de vir falar na defesa dos interesses nacionais de pela vox de Durão. Talvez ele quisesse dizer: os interesses pessoais de Durão... Este Rangel ainda não foi eleito eurodeputado, mas já apanhou o síndrome da Cimeira da Vergonha em que se decidiram duas coisas: a guerra civil ao Iraque e a eleição de Durão na Comissão Europeia num linkage politiqueiro vergonhoso para a história política mundial neste 1º quartel do séc. XXI. O Direito Internacional Público do Conselho de Segurança da ONU, que W. violou, que se lixe, o que importava era mesmo apanhar as armas químicas debaixo da almofada de Saddam Hussein (depois enforcado em directo aos olhos do mundo via Youtube e com a cumplicidade moral miserável do todo o Ocidente, que se diz defensor do rule of law) e, com sorte, capturar Bin Ladden na esquina duma rua de Bagdad... Pois nem as armas existiam e Bin Laden ficou-se a rir de G. W. Bush e do resto do mundo a partir duma qualquer montanha do Afeganistão. E Durão, para mal dos nossos pecados, também faz parte do resto do mundo...
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Vital Moreira lança livro «Nós Europeus», in PD
O cabeça de lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu, Vital Moreira, lança quarta-feira o livro «Nós Europeus», numa sessão em que também estará presente o secretário-geral socialista, José Sócrates, avança a Lusa.
A sessão de apresentação do livro, que é editado pelas Publicações Dom Quixote, está prevista para o final da tarde, no espaço «BBC» em Lisboa.
«Nós Europeus» contém um conjunto de crónicas escritas pelo constitucionalista da Universidade de Coimbra sobre política europeia e que foram publicadas ao longo dos últimos anos nos jornais «Diário Económico» e «Público».
O livro tem prefácio do dirigente do PS e ex-comissário europeu António Vitorino, que abre o seu texto lembrando como o autor se definiu no momento em que foi apresentado como cabeça de lista às europeias, durante o último congresso do PS: um «socialista freelance».
No mesmo prefácio, António Vitorino escreve que «o acervo» de textos do livro retratam «um homem, um pensador, um jurista e um académico possuidor de um pensamento próprio sobre a Europa, alguém dotado de um elevado sentido de empenhamento cívico e intelectual no projecto europeu, um europeu com a vontade e a determinação de ser parte activa da construção de uma Europa mais livre, mais justa, mais eficaz e mais solidária».
«A primeira condição para que tal seja possível é que cada um de nós, no seu local próprio e a partir da sua trincheira, assuma a Europa como coisa nossa e não «deles», se aproprie dos temas, assuma os desafios e empreste o seu contributo para o futuro de um projecto original, único e insubstituível, iniciado há cinquenta e dois anos em Roma», refere Vitorino.
Num texto cheio de elogios ao autor, o ex-comissário europeu classifica Vital Moreira como «um europeu de corpo inteiro».
Adenda:
De facto, não se compreende a excitação pós-parlamentar e pré-europeias do inefável e esganiçado Paulo Rangel. Vital Moreira, que é rápido na mente e na pena, e um exemplo para a blogosfera, reagiu assim:
Pedem-me um comentário acerca da absurda acusação do cabeça de lista do PSD sobre uma pretensa "mordaça" que eu teria colocado à discussão de temas nacionais nas eleições europeias. Comento que a excitação juvenil pode gerar disparates. Defendi e defendo que, sendo as eleições para o Parlamento Europeu (que vai aprovar as leis europeias, aprovar o orçamento europeu e escrutinar o executivo europeu), elas devem centrar-se naturalmente em temas europeus. Verifico, porém, que, mesmo sem "mordaça" nenhuma, a apresentação do candidato do PSD primou pelo vazio de ideias sobre as questões europeias. Imagino que, se se tratasse de eleições para a AR, o candidato do PSD se recusaria então a discutir problemas nacionais, preferindo talvez tratar de assuntos locais do Porto... Quando faltam as ideias e propostas, a tentação é desconversar. Pelos vistos, é isso que o PSD se prepara para fazer nas eleições europeias. Terá a merecida resposta. in Causa Nossa, Vital Moreira
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