Teoria da bomba: o golpe de Estado-mínimo
A história geral do Continente africano, com meia centena de Estados, é, por regra, após as lutas pelas independências que impuseram um regime colonial, a história do golpe de Estado. Mas os golpes de Estado têm assumido nuances, que variam consoante as conjunturas e as regiões onde ocorrem. Assumem uma face eminentemente militar, mas são sempre reclamados por uma clic armada no momento em que ocorrem. Porque o objectivo é que os revoltosos promotores desse golpe sejam os novos donos do poder e, desse modo, ocupem o aparelho de Estado e governem o País segundo os seus próprios padrões e interesses corporativos. O que é novo na Guiné-Bissau, cuja acção bombista - levou à morte do PR (Nino Vieira) e do Chefe de Estado- Maior das FAs, o Gen. Tagmé Waié, curiosamente afecto ao abatido Ansumane Mané, é que ninguém reclamou o atentado, ninguém usurpou o poder, ninguém quis alterar as circunstâncias em seu benefício - na linha do golpe de Estado clássico. Este perfil de actuação singular na Guiné-Bissau pode explicar um acerto de contas com os visados, não já para capturar o poder e controlar as instituições militares e políticas e impôr uma nova ordem, mas para executar uma vingança pessoal sedimentada num rancor ou num ressentimento de natureza política, militar, económica ou fundada no narco-tráfico que demandou aquelas paragens. Veremos, doravante, e sem querer estabelecer comparações com a justiça portuguesa, se o Ministério Público e demais autoridades judiciais da Guiné-Bissau - através da comissão de inquérito formada para o efeito - consegue identificar mais depressa os autores materiais e morais deste duplo assassinato político, decapitando as cúpulas do Estado, do que se descobrem as identidades das pessoas que na Magistratura portuguesa têm praticado o crime de violação do segredo de justiça e, desse modo, assegurado as fugas (selectivas) de informação nos casos que todos conhecemos, e que vão da Casa Pia ao Freeport, entre outros...
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