domingo

Pacheco Pereira e o síndrome do "analista-Príncipe"

Temos aqui reconhecido o papel de intelectual que Pacheco Pereira tem representado na vida pública nacional. Ele é patente como historiador (especialmente na área do PCP), como sociólogo das coisas do poder e como analista da generalidade dos factos sociais com incidência política. Com formação filosófica, histórica, sociológica e politológica Pacheco Pereira movimenta-se bem na esfera dos media - onde já cansa - por efeito de desgaste, a exigir uma reciclagem.
Contudo, o grande problema de Pacheco Pereira decorre do facto de se assumir como uma espécie de porta-vox do universo, o apresentador de enunciados, qual alto-comissário duma razão abstracta para resolver o problemas dos injustiçados. Esta representação intelectual agrava-se quando se arma também em guia espiritual de Ferreira Leite, uma srª sem nenhuma queda para a vida política, muito menos para funções executivas ou que exigam skills de liderança, planeamento e de prospectiva para preparar o futuro.
Ora, Leite, não tem pensamento, não tem doutrina, não faz ideia do que é Portugal, não tem palavra, nunca pensou estratégicamente o país, não se lhe conhece um modelo de desenvolvimento que sirva de alternativa de poder. De Leite só as calinadas se conhecem, e nem vale a pena editá-las senão ainda vamos todos presos, a avaliar pela censura inerente a qualquer ditadura. A tal que viabilizaria as reformas...
Dito isto, a falta de seriedade intelectual, ética e moral de Pacheco consiste em querer impingir aos portugueses - que também leram os clássicos, os modernos e post-modernos - que estamos diante duma srª séria, com capacidade para liderar e contruir uma boa governação para Portugal, por isso Pacheco adjectivou Leite no Diga lá excelência duma forma elogiosa quando, na realidade, os portugueses percebem que Pacheco é um intelectual alienado, projectando desejos sobre o objecto que avalia e que em 7 meses de oposição nada do que Leite disse, pensou ou fez serviu para algo de positivo no rectângulo.
Percebe-se, portanto a tremenda frustração de Pacheco, é que sendo ele o seu inspirador, o player que lhe dava as dicas dos temas, dos discursos, dos silêncios - quando leite falhava - o estrondo era maior no cérebro de Pacheco do que na própria vida pública de leite, que desde titular da Educação às Finanças sempre se distinguiu por uma mediania de fazer corar qualquer português.
Pacheco aparece assim como um intelectual sitiado pelo fracasso político de Ferreira leite - em quem ele apostou empenhando todo o seu capital intelectual, hoje capitulado no apoio cínico e hipócrita que Ferreira leite, contra todos os seus princípios e valores (que dizia defender) teve de dar a Santana Lopes para Lisboa. Apenas porque precisa, submentendo-se, pois, à ditadura da "necessidade".
Isto é tanto assim que Pacheco Pereira até se obrigou a mudar "administrativamente" de cidade só para não votar em Santana Lopes, embora continue a votar no PSD. Esperemos, pois, como ele diz, que o Simplex funcione, e se assim for Pacheco ainda vai agradecer a Sócrates.
Pacheco percebeu que isso marcou o fim de Leite, com a morte prevista para Outubro de 2009. De modo que o analista-comentador tem de perder a soberba intelectual, posto que todas as posturas públicas em que se empenha são contrariadas pela realidade. Resta-lhe continuar a publicar ensaios interessantes que, convenhamos, ainda representam o aspecto mais útil da prestação intelectual de Pacheco Pereira em Portugal.
Pacheco é hoje um comentador gasto, sem mensagem nova, previsível nos testemunhos, seco nas análises. Antes de falar já se lhe conhecem os enunciados e os pontinhos que os ilustram. Pacheco converteu-se assim numa maçada intelectual, e quanto mais faz o frete a Ferreira leite - dizendo aquilo que a srª precisamente não é, mais se aliena, mas se degrada intelectual e moralmente, pois todos percebem que aquilo que ele diz para qualificar a pior líder da oposição em Portugal não cola com a realidade dos factos. O gap entre as palavras de Pacheco e a realidade é tremendo.
O que faz de Pacheco já um mau analista, porque erra os factos através das análises que escolhe para os explicar, e errando denuncia-se como um comentador alienado, turvado pelas relações de amizade, pelos afectos a uns (a Ferreira leite) e ódios de estimação a outros (Santana Lopes). Ora, a falta de distanciamento dos factos que avalia rouba-lhe depois a objectividade e a imparcialidade necessários a análises isentas e rigorosas. Isto é fatal em qualquer analista, tanto mais num intelectual que goza dum estatuto supra-pares na mediacracia nacional.
Todos esses erros cumulativos fazem hoje de Pacheco um disco riscado, um vinil na era dos DvDs, alguém que fala porque tem assento na Sic, sem novidade ou fulgor, e até o seu blog parece mais um átrio duma agência funerária, sem chama, sem rasgo - muito áquem daquilo que alguns esperavam dele.
Creio que Pacheco Pereira cansou os portugueses pela sua sobrexposição mediática, entrou demasiado na casa dos portugueses sem ter novidades para lhes dizer. Pacheco cansou-nos a todos, só a sua presença com aquela cara de anjinho pendurado nas paredes das igrejas representa a rotina dos dias, alguém que apesar de pensar - obriga-nos hoje a pensar que é melhor não o ouvir, porque quando o ouvimos ficamos com a certeza de que o analista-príncipe, o que quer avaliar e mandar ao mesmo tempo - terá de repensar os moldes da sua tomada de palavra, se quiser evitar uma certa marginalização que, com o desastre representado por Ferreira leite - acelerará esse destino.
O ponto é que em Portugal continuam sendo apenas meia dúzia de papas a produzir análise, e como nem todos têm acesso a esse meio restrito - e a sic parece ter contraído um matrimónio para a vida com o gúru de Ferreira leite que agora apoia (envergonhadamente) Santana, Pacheco ameaça eternizar-se nos estúdios da estação de Carnaxide - na esperança que os portugueses se enfastiem dele ou morram por exaustão - só de o ouvir.
Sugeria, para obviar mais fastios, que o Pai Natal ofereça a Pacheco uma tv especial, um aparelho cujo dispositivo permita que seja exclusivamente o próprio a ver e a ser visto (em circuito fechado), poupando-nos a todos dos efeitos da tal sobrexposição.