sábado

O PSD E OS SEUS COMENTADORES - por João Marcelino -

O PSD E OS SEUS COMENTADORES, in DN
João Marcelino Director
1Pacheco Pereira anda numa cruzada contra o Diário de Notícias e ultimamente deu em propagandear que o jornal está ao serviço daquilo que chama "a candidatura permanente" de Pedro Passos Coelho ao PSD.
É, obviamente, um caso de desonestidade intelectual contumaz, a que finalmente me refiro apenas porque Pacheco Pereira já o repetiu vezes demais, nos diversos palcos à sua disposição, não sei se por falta de assunto se apenas por não saber para que lado se virar no meio da confusão em que se transformou o partido de que é militante.
Comecemos precisamente por aqui: Pacheco Pereira não é um observador isento. É um político, mesmo que agora só em part-time. Já teve cargos oficiais no PSD. Participou em campanhas. Faz parte de um lobby que tem interesses, como o revelou na pele daquele senhor muito excitado, de máquina fotográfica na mão, a registar os passos de Manuela Ferreira Leite no dia da tomada de posse. Sinceramente, às vezes, como neste caso, parece-me que Pacheco Pereira perde o sentido do ridículo e se julga um observador neutral, descomprometido. Não o é. Nem ao nível das ideias nem dos interesses que representa e persegue.
Estaremos de acordo numa coisa: Pedro Passos Coelho comporta-se como se fosse um candidato permanente à liderança do PSD. Pelo menos, age, e fala, como se estivesse a marcar terreno a todo o instante e a propósito de todos os assuntos. Mas este protagonismo de Pedro Passos Coelho, politicamente normal e legítimo, não é um problema dos media, é, quanto muito, um problema de uma parte do PSD - e pelos vistos incómodo para o militante Pacheco Pereira, defensor e apoiante empenhado da sua líder, que gostaria de ver o seu companheiro silenciado.
O DN não vai calar nenhuma voz do PSD, como não cala nenhuma do PS (vidé a recente entrevista a Manuel Alegre, os artigos de Mário Soares e a manchete desta semana sobre as movimentações da ala esquerda do partido).
Um jornal dá notícias. Os comentadores comentam. E, de vez em quando, é conveniente os jornalistas chamarem a atenção para estas duas posições, que convivem mas, felizmente, nem sempre estão do mesmo lado da barricada.
2Luís Filipe Menezes, político e pessoa que considero, está a cair no exagero em que caíram todos aqueles que se lhe opuseram, e não descansaram enquanto não o fragilizaram na altura em que foi presidente do PSD. Os seus artigos (o último dos quais publicado esta semana no JN), para além da razão que quase sempre lhe assiste, tresandam a ressabiamento.
É óbvio que Manuela Ferreira Leite está a engolir um sapo chamado Pedro Santana Lopes.
É óbvio que o PSD urbano e intelectual, porque precisa, convive já melhor, cínica e amargamente, com o PSD a que chamava populista e irresponsável.
Menezes tem razão nisso; mas não é um inocente que não saiba que a política também é isto: a coerência a reboque do tacitismo.
Menezes abandonou inesperadamente a liderança do PSD. Saiu porque quis. Será que estes artigos significam que quer voltar? Não seria bom sinal. Nem para o PSD nem para ele próprio...
Marcelo Rebelo Sousa, comentando, num primeiro momento a possibilidade de Santana Lopes ser o candidato do PSD a Lisboa, escreveu (18 de Outubro, no "Sol") que discordava completamente dessa solução para a CM Lisboa e que essa escolha tinha sido a decisão mais grave tomada até então pela actual líder. Esta semana, depois da confirmação oficial, disse: "É o melhor candidato que o PSD pode apresentar, tem experiência autárquica e ideias para a cidade." Ou seja, Cristo continua a descer à Terra sempre que é preciso...
Obs: João Marcelino tem razão em toda a linha, Pacheco comporta-se como aquele padre que durante anos andou a semear vendavais na sua paróquia, pondo em conflito as comadres entre si, depois não pode colocar-se fora do átrio da igreja e comportar-se como uma pequeno Papa. Pacheco Pereira vive o síndrome do analista-príncipe - querendo analisar com isenção e, ao mesmo tempo, mandar.
Ora, o que ele tem provado, e até hoje no propgrama Diga lá excelência (rr) se fartou de tecer elogios e de polir qualidades a Ferreira leite - que a srª manifestamente não tem. É feio isto.
Esta forma de ser, de estar e de analisar os materiais políticos revelam que Pacheco Pereira há muito que entrou em processo de degradação moral - porque podendo ver a verdade - finge que não a vê, e, mais grave: procura inventar outra verdade (a sua verdade, a que mais lhe convém, só porque Leite foi a candidata apoiada por si no Congresso de Guimarães..) e impingí-la ao povo como se este fosse mentecapto.
Hoje qualquer pessoa com dois palmos de testa quando vê Pacheco na caixa negra faz uma de duas coisas: ou põe o som em of ou muda de canal.
Para um Pacheco-analista-comentador-ex-político e também professor universitário é, convenhamos, uma lástima.
Mas em rigor o problema de Pacheco não está (só) nele, mas nos media que lhe dão atenção, antena e protagonismo. Por isso a culpa de toda esta degradação moral fundada em más percepções colhidas na vida política - também devem ser imputadas aos media, mormente à Sic - onde Pacheco dorme, acorda, almoça, janta, de permeio - lancha e o mais...
Os mais satíricos até dizem que Pacheco faz xi-xi sentado nas cadeiras da Sic...
Numa palavra: eu que me habituei a respeitá-lo - hoje, confesso, e com pena minha, olho para ele e digo: já enjoa.