segunda-feira

Problemas da literatura

Um escritor, nos dias d' hoje, se não for uma pérola consagrada, pode não passar dum estivador das letras mergulhado nas ideias alheias. É um apaixonado pelo alheio. Mas para lá desta visão romântica, pode existir outro problema: patente na circunstância de um escritor expressar o oposto daquilo que na verdade escreve sem ser, no entanto, satírico.
Por exemplo, Leo Strauss e R. Cox, defendem que tanto T. Hobbes como J. Locke, dois "monstros" do pensamento político da idade moderna, desejavam exprimir precisamente o contrário do que escreveram. É bem possível que quer Hobbes quer Locke tenham escrito o que escreveram apenas por receio de déspotas poderosos que ao exercer o seu direito de represália esmagavam físicamente os escritores que "desalinhavam" do pensée unique que a oficialidade de então fixava como doutrina a seguir. Um pouco como no PCP actualmente, mas já sem os esmagamentos de Praga teleguiados a partir de Moscovo.
Decorre isto não da crise financeira nem do aumento da eletricidade para 2009, da subida do preço do pão - mas do facto de aqueles dois críticos, Strauss e Cox, afirmarem sem reservas que se lermos cuidadosamente os dois mestres do pensamento político (Hobbes e Locke) veremos que eles desejavam na realidade o oposto daquilo que dizem. Como já é tarde, não temos tempo para os reler, confiamos nos críticos..
Então, na hipótese de a observação de Cox e Strauss ter fundamento, poderemos aduzir que Hobbes e Locke foram escritores paradoxais. Nesse sentido, por extensão, o que quereria dizer Kafka com os seus paradoxos... E, hoje, muitos jornalistas, escrevem o que escrevem por que razão?
No fundo, muito do que escrevemos, mais ou menos, e consoante o grau de liberdade, convicção e conhecimento que assumimos é consequência directa de uma cosmovisão, mas também da confusão que resulta da falta de informação, de toneladas de incompreensão e, naturalmente, de constrangimentos sociais.
Ou seja, ninguém é alheio à crise. Aqui não há inocentes. E como diria o Weber: a neutralidade não existe.
To-TSC