quinta-feira

Evocação de Jurgen Habermas

Os media encharcam-nos com linguagem sedutora e expedientes manipulatórios para nos convencer do que desejam vender, a actividade económica e comercial é, por natura, animada dessa cultura de massas - para, precisamente, poderem vender os seus produtos e serviços no mercado. O discurso político também não escapa a esta regra de sobrevivência dos tempos, em que inúmeras vezes há desencontro entre a promessa e o realizado revelando, assim, o gap entre o anunciado e o realizado.
Ora, é aqui que entra o filósofo neomarxista Jurgen Habermas - ao criticar, desde há muito, esta manipulação e uniformização. Uma crítica que remonta à velhinha Escola de Frankfurt e da sua concepção sobre a cultura de massas, em que a publicidade é um dos componentes. Mas Habermas vai mais longe, pois ao interrogar-se sobre a genealogia do espaço público, demonstrou que a Pub, origináriamente representada por anúncios e reclames, afectou progressivamente, pelo recurso ao marketing, as formas do debate político e filosófico e, bem assim, o próprio funcionamento das nossas democracias.
Segundo J. Habermas, a penetração da lógica publicitária na esfera pública favoreceu o declínio de uma sociedade apelando para a utilização pública da razão, em benefício de uma sociedade que analtecia os valores da comercialização e da cultura de consumo, massificada - que torna o homem indistinto (gerando o tal homem-massa que hoje se redefine). Ou seja, e para simplificar, passou-se de um mundo em que o homem discutia a cultura para um mundo em que as massas a consomem.
Jean Baudrillard, por exemplo, ainda vai mais longe na crítica de Habermas à lógica discursiva que hoje anima empresários, políticos, decisores, enfim, todas as pessoas que querem vender bens e serviços no mercado global, e que dizem para si próprios: quem é que eu hoje vou enganar..., como ainda ontem uma amiga empresária (do Norte, claro!!!) me explicara.
É óbvio que o velho mecanismo do condicionamento dos indivíduos pela criação artificial de necessidades ou de manipulação dos consumidores pelo recurso ao expediente da mentira é, hoje, relativisado senão mesmo um lugar comum. Hoje, as pessoas procuram diferenciar-se entre si: pela moda, pela comunicação, pelo estilo de vida e maneira de ser - e não já só pela ostentação. Assim sendo, lá se vai o fio de raciocínio de Habermas - já que muitas pessoas hoje procuram diferenciar-se afirmando-se, precisamente, contra esse tal consumo desenfreado ampliado pela Pub. Por razões financeiras e por razões de uma nova cultura - que hoje tem significado em alguns sectores da sociedade.
Numa palavra: creio que o velho discurso de Habermas, muito útil durante décadas, carece hoje de revisão - assim como de revisão precisa também o discurso capitalista com a sua velha ideologia da necessidade, da motivação e do consumo.
Hoje muita gente busca uma alternativa ao sistema imposto pelo vil metal e pelas modas do momento impostas por meia dúzia de sábios da treta, só que ainda não sabemos em que consiste esse projecto alternativo que, talvez, se aproxime mais do banquete de Platão do que da Pub da sociedade industrial.