Com um prego pode-se ganhar um reino. OPS!!!
Com um prego pode-se ganhar um reino. Mas o "prego" representa hoje a mecânica da discussão pública que permite criar o quadro de valores e alicerces para mudar a sociedade, de preferência para melhor...
"Há coisas que se devem ler, mesmo sem (ou apesar de não) concordar com grande parte.
São coisas honestas e objectos inteligentes que geram matéria pelo contraditório interior a que nos obrigam e, lê-las sem preconceito e acrescê-las ao processador, multiplicam sabedoria."
Para mim, que sou uma espécie de "sapateiro-de-ideias" (passe a presunção e sem ofensa para os verdadeiros sapateiros, hoje em vias de extinção) no mundo das letras virtuais, a blogosfera é um meio comunicacional, logo também pode ter um valor pedagógico indutor de novas práticas e metodologias. Afinal, a blogos é composta por "barbeiros", "sapateiros", editores, informáticos, investigadores, docentes, engenheiros, arquitectos, guarda-livros, porteiros, jornalistas, prostitutas finas e reformadas e até burros - todos com um capital de conhecimento diverso que, a dado ponto, podem convergir para um ponto de luz. Ora, como aqui a classe dos políticos está em minoria, por razões essencialmente culturais, ela carece mesmo de uma pedagogia, de uma ajuda, de uma chamada de atenção - (antes, durante e pós-eleições). Se fôr verdadeira, nunca será presunçosa - (eu, como docente, nunca o sou), isso é, aliás, a própria negação da verdadeira filosofia, ou amor à sabedoria, como diria o Sócrates, de Atenas. Afinal, "ser blogger" é uma definição tão estéril quanto vazia, não gosto dela, confesso. Ela apenas espelha a plataforma em que nos montamos para dizer algo ao mundo, mas não reflecte a nossa essência - que é ser "barbeiro" ou "sapateiro" de ideias, de conteúdos. Não devemos confundir o Ser com o ter. Há até quem diga que durante as horas de trabalho mostramos o que temos (Ter), mas é durante as horas de lazer que revelamos o que somos (Ser). No fundo, ser um ou outro, mutatis mutandis, nenhuma relação tem com a blogosfera - mas já tem tudo a ver com a produção de ideias, conteúdos, etc - que poderão ser funcionalizados para as boas sociedades. Lembro-me, aqui há uns anos, de um jornalista perguntar a Laborinho Lúcio, um ex-ministro da Justiça de Cavaco - "o senhor que é ministro, o que pensa...". Laborinho, que é um homem inteligente, respondeu: atenção, eu não sou ministro, estou ministro. Ora, eu não sou blogger... Em rigor, meu caro LNT do Barbearia do Senhor Luís, todos nós podemos ser os tais sapateiros, barbeiros, cientistas, técnicos, políticos, médicos, enfermeiros ou universitários que produzimos certos conteúdos em função da cosmovisão que temos do nosso tempo, todos também somos automobilistas (apenas) porque também conduzimos, todos temos um blogue. E, porém, seria um erro grave sermos definidos como bloggers ou apenas automobilistas. Somos, antes demais, homens livres que pensam a polis (e os políticos) que temos, e, nessa condição, não abdico de querer ter uma certa concepção de mundo e de sociedade. Se ela for boa para o bem comum, que falava o Aristóteles, ela impõe-se naturalmente à maioria, se não for - cai por falta de função. Nessa perspectiva mais lata somos, como diz (e bem!!) os tais "privilegiados" que, por talvez possuirmos algum know-how - devemos saber partilhá-lo com quem dele carece: sejam políticos autores de dislates, sejam bloggers que, dum momento para o outro, se vêem com um Porsche nas mãos e não sabem onde fica o travão. A maioria das caixas de comentários, confesso, são duma futilidade atroz: nuns casos, apenas revelam existência de cumplicidades (que mais parecem alcateias em contexto de caça), noutros codificam a linguagem das "Caldas-da-Rainha", noutros ainda denotam que nem sequer entenderam o conteúdo do texto de base que serviu de referência à discussão. Raros são aqueles que espelham capacidade crítica geradora de valor. Por essa razão tenho a minha caixa de comentários fechada. Ainda que seja contra a própria filosofia da rede... Se sou exigente comigo tenho, por extensão, de o ser com os outros. E aqui, como fazem (e bem) alguns bloggers - inúmeros desses comentários são eliminados pelo administrador. Logo, impõe-se uma certa "regulação" ou censura post-factum. Muito embora, a minha noção de "Regulação" encontre, como referi, matriz em Kant, i.é, na auto-moderação, embora às vezes também me exceda. Mas (também) se formos privilegiados presunçosos encerrados nas nossas "torrinhas-de-marfim" - não transferimos know-how, por sua vez gerador de mais skills; se, ao invés, formos privilegiados conscientes e com algo para dizer ao mundo - podemos (e devemos!!!) ajudar a construir essa nova e boa sociedade. Isso passará, creio, por duas coisas: a) escolher os melhores políticos disponíveis no mercado a cada momento e; b) ao mesmo tempo, combater a abstenção - que é o verdadeiro "caixão" das democracias contemporâneas. Tarefas que só se fazem com uma grande dose de pedagogia (aliás, ingrediente indispensável da democracia pluralista e do rule of law). Aliás, não conheço outra, desde a fundação da democracia ateniense... Ou, como diria o Carlinhos Marx, que agora (como as velhas gravatas - rabos de bacalhau) regressa à ribalta das ideias, consciencializar para transformar. Foi, de resto, isso mesmo que o Soares e o Alegre (e bem) fizeram no Verão quente de 1974/75/76 - para evitar que este nosso querido rectângulo caísse nas mãos do PCP, então alinhado com a ex-URSS. Hoje, parece que está mais alinhado com Cuba e a Coreia-do-Norte, ex-satélites do Império que ruíu, mas não deixam, paradoxalmente, de ser referências (bizarras) de "bons" modelos de sociedade para aquele partido anquilosado. E ainda teremos de agradecer ao edil, pela utilização infeliz da expressão, e, inter allia - a "alguns" bloggers que se portam pior que os arruaceiros dos subúrbios de Londres, pois foram eles que deram origem - ainda que com diferentes pontos de vista e graus de responsabilidade - a esta nossa frutuosa conversa. Ainda que um corte cabelo e apare barbas, e outro coza solas de sapatos rotos e enxerte tacões nesta nossa democracia representiva em declínio. Afinal, um prego bem pregado pode evitar, ainda que pelo ridículo, muitas expressões infelizes que também carecem de levar com o martelo-pneumático da tal pedagogia. Sócrates, o de Atenas, tinha razão.
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