sexta-feira

As mentiras políticas em Portugal

Existem três tipos de mentiras : mentiras, mentiras sujas, e estatísticas.(Benjamin Disraeli)
Uma mentira à tarde pode ser uma verdade à noite. Olhemos para a conduta política da srª Ferreira leite ao dar aquela conferência de imprensa extemporânea sobre os votos dos emigrantes - só porque soube que o seu padrinho, em Belém, iria responder ao Governo por uma coisa que, na realidade, Rui Pereira não disse. O MAI disse haver atrasos na aplicação da lei que viabiliza colocar mais agentes policiais nas ruas, não imputou esse atraso a Cavaco, que logo aproveitou para se deixar tocar no seu clitoris institucional e, assim, responder a rebate. Cavaco está, pois, no seu direito de se tornar hiper-sensível, demarcar o seu espaço socio-político, assim em vez de tomar um Lexotan manda o escriturário escrever uma justificação no site da PR para relembrar aos portugueses que os seus poderes presidenciais não podem ser atacados. Nem em ficção...
Bom, mas mais vale Cavaco fazer o que fez, e Leite ter seguido a mesma senda - nem que seja só para mostrar ao povão que agora já só dão conferências de imprensa no mesmo dia, mas de conteúdo diferenciado. Isto é preferível a Cavaco pré-anunciar em Setembro que dia 31 de Dezembro de 2008 irá fazer um comunicado ao País - para falar imagine-se (!!!) - dos seus poderes presidenciais!!!
E o Governo - através de Pedro Silva.. Também terá de contar as suas mentirinhas. Ou seja, Rui Pereira ao dizer o que disse deveria dizer logo de seguida que a razão do atraso era assacada ao Governo, como não o disse abriu espaço aos media para fazerem leituras extensivas e explorar a situação, que hoje Pedro Silva - sincronizou com uma chave inglesa e um péklise.
Daqui decorre uma tendência: há mentiras políticas, morais, convenientes, piedosas e publicitárias. Mas nunca nos podemos esquecer que todos mentimos, pois todos representamos. As mentiras são o que são: ficções. Mas também nunca nos podemos esquecer que mentira é mais do que isso, é anteciparmo-nos à própria verdade que desejamos atingir.
Cavaco quer saber se Leite se aguenta por mais 60 dias como governanta na "Moviflor da Lapa", por isso mente na forma de hiper-sensibilidade que ostenta com o Governo mediado pelas informações que manda colocar no site da PR. Aqui, digamos, que Cavaco incha demasiado, actua como um pavão ofendido por lhe estarem a tentar roubar a fêmea. Leia-se, protagonismo politico-institucional.
O Governo - via Rui Pereira - fica com uma termenda vontade de dizer na cara de Cavaco que o veto à lei retardou a colocação de agentes policiais nas ruas, mas não o pode fazer constitucionalmente, então torneia essa frontalidade mediante uma mentirinha conveniente, obrigando Pedro Silva a um golpe de rins seguido de dois mortais encarpados - directamente da Presidência do Conselho de Ministros. Salta bem, Pedro Silva...
Manuela Ferreira leite - é, ela própria, a encarnação da mentira. Ou melhor, a mentira quando nasceu pediu licença à srª Ferreira Leite para saber se podia continuar a respirar. Leite anuiu, o resultado dessa anuência é ter hoje Pacheco Pereira como seu braço-direito e alter-ego.
Os jornais, e os media em geral, vivem de mentiras osquestradas, de milhentas ficções que tecem o nosso dia-dia, é assim que angariam Pub. que serve depois para pagar os salários aos jornalistas - que são os "perdigueiros" das mentiras, sua matéria-prima, sua razão de existir, fundamento da sua alma. Mas como isto é tudo verdade, nenhum jornalista o admite publicamente, just in private...
O que procuro significar com tudo isto é simples: também nós aqui, quando escrevemos estas banalidades - mentimos um pouco, desde logo pela nossa subjectividade na avaliação dos factos sociais com peso político. A neutralidade absoluta, como ensinara Max Weber, é impossível, tomamos sempre um certo partido, alinhamos sempre por um lado, e mesmo quando contamos verdades o resultado é o que é, nunca chegamos a perceber porque é que se dizem mentiras.
Ou melhor sabemos...
Mas porque é que Cavaco mente empolando a realidade sobre Rui Pereira, que já fez mais pela segurança no país em 90 dias do que Durão em três anos? E com uma criminalidade estruturalmente diferenciada...
Porque razão Pedro Silva, pelo lado do Governo, sente a necessidade de contar uma mentirinha conveniente, porquanto Rui Pereira, como devia e a seu tempo, deveria ter dito que o Governo era o responsável pelo atraso da colocação de mais agentes policiais nas ruas. Quando, na realidade, Cavaco - ao vetar essa lei contribuiu decisivamente para esse atraso, embora seja isto que não se possa dizer publicamente, porque a "Mãe-Constituição" protege-o dessas "infâmias-políticas". Como se se tratasse do menino que é apanhado a roubar pirulitos na drogaria e o dono é condescendente para com ele - para não perder os paisinhos como clientes.
Todos, afinal, mentimos. Mentimos para proteger as peças da engrenagem, a mentira é o óleo do motor que vai permitir que os pistons, a cambota, os segmentos, a biela, a junta da cabeça - tudo isso, como diria um amigo - não vá para o c.....
Todos esses agentes políticos, no fundo, mentem: uns por acção, outros por omissão. Fazem-no porque isso é inerente à própria condição humana, uma característica que se acentua mediante a acção de representação política, canal para onde convergem todos os grandes problemas, recursos e pólos de conflitualidade institucional. Aí se misturam as noções de sinceridade de Cavaco - que não passam de dissimulações de poder, a autenticidade do Governo - que não passa de ilusões e contracções, as mentirinhas dos media que são, em rigor, o seu ganha pão.
Ou seja, o marido engana a mulher, esta trai o marido, à noite encontram-se no melhor dos mundos possíveis. Como se nada fosse, como se durante o dia dissessem que apenas pensaram um no outro. O mesmo se passa com o deputado, o ministro, o secretário de Estado, o PR, o PM relativamente aos respectivos eleitorados, e até o almeida da Câmara Municipal de Lisboa mente com todos os dentes que tem na boca, porque ao dizer que varreu 10 avenidas, o malandro ainda conserva a vassoura como nova.
Joe Berardo mente, pois quer ficar mais rico e gozar o pagode, de preferência humilhando Jardim Gonçalves na praça pública; jardim Gonçalvez - sempre mentiu, mas só agora Portugal descobriu, logo tem de continuar a representar a sua peça de verdade na mentira. Por isso vai processar Joe Berardo.
Cavaco, sobretudo desde aquele discurso lamentável sobre o Estatuto dos Açores, a 31 de Julho do corrente, acha que a mentira é a verdade. Sócrates acha que não há verdade para além dele próprio. Santana, Meneses são frutos do acaso, mentiras políticas que, a dado passo, tiveram uma tonalidade de verdade.
Só que a mentirinha de Rui Pereira visa a prevenção e a repressão da criminalidade em Portugal - que está em crescendo; a mentira de Belém visa ajudar Ferreira leite a ser oposição, e demarcar o espaço socio-eleitoral de cavaco, além de se escudar abusivamente numa interpretação estrita da constitucionalidade quando pretende jogar politicamente.
Eu próprio também acho que nasci por acaso, o que contribui para aumentar a incerteza de tudo isto. Fátima e os 3 pastorinhos - mais o reflexo dos vitrais da igreja de Fátima - com aquelas criancinhas subnutridas - o que são senão mentiras com fome?! Este Papa - será que alguém acredita nele?! Para mim é a encarnação do Diabo!!! basta olhar para ele, porventura é a minha visão, por demais distorcida, não passa duma termenda mentira.
Ontem, até o PSD autárquico capitaleiro referiu que António Costa está como edil na capital porque uma vereadora do PSD assim decidiu, substituindo-se aos votos dos eleitores, o que configura uma mentira brincalhona.
Tudo isto revela o que é a política, uma extensão institucionalizada do teatro, onde, por natura, se tem de dizer ao mundo que temos sinceridade, autenticidade, mais umas tantas qualidades correlatas e, afinal, somos apenas homens comuns. Alguns demasiado comuns, outros demasiado farsantes, comportando excesso de hiper-sensibilidade, aparência, ficção.
Todo o sistema político encerra este potencial de mentira, necessário até à sua própria criatividade e sobrevivência institucional.
Contudo, há aqui uma questão que me ultrapassa: pois quando se dizem verdades o resultado é o que é, não chego a perceber porque é que se dizem tantas mentiras. Não compreendo, portanto, o excesso de zelo de Belém relativamente ao Governo, e a Rui Pereira in concreto...
Provavelmente, Cavaco também gostaria que algum ministro do PS farpeasse Dias Loureiro quando este se debatia com o problema do buzinão da Ponte 25 de Abril?! Ou até com a questão do sangue contaminado que cilindrou politicamente a sua delfim, Leonor Beleza, por quem Cavaco até terá tido uma grande paixão. Se calhar, mais uma mentira, verdadeira.
Será que tudo isto ocorre porque, em rigor, a imaginação é a construção de mentiras a partir de verdades!?
Hoje já nem os galos são como eram. Os pavões, porventura, dirão o mesmo...