quarta-feira

A inevitabilidade do Nuclear em Portugal: a economia post-petróleo

Já qui temos referido que o Nuclear, salvaguardadas as condições de segurança existentes noutros países da Europa que generalizaram com sucesso esta fonte energética, será uma necessidade e uma inevitabilidade.

As razões são óbvias: a economia gananciosa do petróleo justifica a recentragem da discussão a sério desta temática em Portugal. O preço "criminoso" do petróleo empurra-nos para este debate na sociedade portuguesa a fim de acelerarmos a diversificação das nossas fontes energéticas.

De resto, à la longue, todos estaremos mortos, como diria Keynes, e no caso dos hidrocarbonetos sabe-se que são finitos, e dentro de 40/50 anos os stoques vão à vida.

O perigo agora é suplementar: o preço cavalgante dos hidrocarbonetos e a chantagem que os grupos terroristas fazem com a sociedade Ocidental para, dessa forma, impôr a sua cosmovisão - é lamentável e perniciosa para o nosso padrão de valores e sistemas políticos democráticos. A coisa agrava-se porque se trata de um sector que atravessa todas as áreas de actividade: transportes privados, transportes públicos, transportes aéreos, produtos manufacturados, etc. Tudo depende da queima do ouro negro que, directa ou indirectamente, acaba por interferir com a nossa qualidade de vida ocidental. Que terá, doravante, de mudar de hábitos e padrões de consumo sob pena do afundamento colectivo.

Sócrates - no decurso desta legislatura, já defendeu que o tema não é agendável. Vejamos: em política nada é permanente, salvo as estatísticas do dr. Vitor Constâncio do BdP, portanto, há que rever posições, alinhar debates e agendar essa discussão para breve. As energias renováveis são a antecâmara do nuclear, pois a conjuntura não dá espaço para folgas ecofundamentalistas - que só atrasam, prolongam e visam "matar" os debates verdadeiramente desenvolvimentistas para Portugal.

Por isso, é muito provável que o nuclear integre já o próximo programa eleitoral do PS nas eleições legislativas de 2009 - sob a liderança de Sócrates. O mesmo que tem sido um dos pioneiros do lançamento das energias renováveis, com a energia eólica na charneira.

Certamente que o papão do medo será estimulado pelos movimentos sociais antinuclear e pelos ecofundamentalistas em geral. Eles vivem da animação dessa crise, ou melhor, essa crise integra o próprio carnaval anti-globalização que alimenta e dinamiza o seu modus de vida (em terra, no mar e nos céus). Sem essas causas tais grupos sociais transnacionais deixariam - pura e simplesmente - de ter razão de existir, e cessando tais condições não haveria quotas pagas, patrocínios e tudo deixaria de fazer sentido da óptica desses grupos radicais. Que ainda falam no famoso acidente de Chernobyl, em 1985, na ex-URSS, mas depois omitem, cirúrgicamente (porque a sua memória é selectiva) os casos em que a energia nuclear foi montada e está a operar com inteiro sucesso nos países da Europa - e até duma forma não poluente, ou seja, amiga do ambiente. Só para desfeita dos tais ecofundamentalistas.

Nuclear que também teria por função não contribuir para agravar mais as condições de aquecimento global do planeta, logo trata-se duma fonte energética que, de par com as energias renováveis, asseguraria uma transição suave para uma economia post-petróleo.
Durão barroso, actual presidente da CE, reconheceu em Praga que o nuclear pode ajudar a proteger as nossas economias contra a conhecida volatilidade dos preços do petróleo, que todos os dias sofre aumentos neste carrossel vertiginoso que todos os dias depaupera as condições de vida dos europeus e dos portugueses em particular, por sentirem sobremaneira essa alta dos preços. Que o próprio mercado de futuros vem agravar. Embora já importemos gás da Rússia e da Argélia - a sua expressão não implica uma mudança no padrão da economia - que agora também conheceu mais uma nova crise: o subprime.

Ou seja, Itália, França, RU, Espanha (com a sua central nuclear em Almaraz - a duas centenas de quilómetros de Elvas) - todos investiram com sucesso na energia nuclear. Fazem-no em condições de segurança, e ao produzirem essa energia reduzem significativamente os consumos de electricidade - que é, consabidamente, caríssima em Portugal - o que rouba competitividade à economia nacional.

Partindo do pressuposto de que aqueles Estados, sociedades e povos europeus não são estúpidos, criminosos e masoquistas, é defensável que os agentes políticos em Portugal recoloquem o tema do nuclear na agenda política, de modo a que o mesmo possa ser profundamente debatido, mas com um painel alargado de especialistas - que assim enriqueceriam o debate.

Do qual deveria resultar duas coisas: a determinação do preço que o projecto custaria ao País, nem que fosse para tranquilizar Ferreira leite - que diz não haver dinheiro para nada no país (excepto para o cabeleireiro); e como seriam tratados esses resíduos nucleares, pois ao que se sabe o seu tratamento, além de caro ainda não está técnicamente resolvido.

Muito provavelmente, e a ser recolocado esta questão no miolo do debate público português, empresários da envergadura de Patrick Monteiro de Barros - terão, seguramente, uma palavra a dizer: não apenas em termos de projecto mas, préviamente, no quadro da valorização da discussão pública que um dia terá de arrancar.

Tenho para mim que os portugueses - podem ser receosos e um pouco laxistas - mas estúpidos é que não somos. Hoje, não equacionar a opção do nuclear - é, pode-se dizer, deixar engrossar uma onda anti-económica em Portugal - cuja factura, mais cedo ou mais tarde - todos iremos pagar.
PS: Desconhecia que o dr. Vitor constâncio era especialista em energia nuclear. Ontem proclamou a necessidade de Portugal investir no sector, como se fosse um seu porta-voz - referindo-se ao exemplo da Finlândia. É certo que o fez após ter apresentado os números em baixa relativos à performance da economia nacional para 2008-09. Qualquer dia ainda o veremos comentar corridas de Fórmula 1 no Estoril - após um grande acidente, assim uma desgraça tapa-se com outra desgraça. É um enigma este Constâncio...