Curtas sobre o Notas Soltas de António Vitorino
- Portugal acordou diante da conflitualidade (latente) entre duas comunidades em Loures: a comunidade negra e a comunidade cigana. Aquela tem a vantagem de estar em maioria, por cada cigano existem 4 negros. Matemáticamente é uma desgraça. Daí a aparente supremacia de uns sobre os outros e com utilização de armas brancas e armas de fogo - com feridos e inúmeras promessas de morte, reeditando as vendettas mafiosas de outros tempos praticadas noutras geografias da Europa. Não será isto uma modalidade de racismo?!
Certamente que é, ainda que mitigado com lutas pelo domínio territorial para venda de droga e outras ocupações do espaço ligadas à marginalidade e aspectos conexos da subcultura de cada comunidade - cuja virulência se multiplica na razão directa dos actores envolvidos: pessoas não integradas, problemáticas e com uma predisposição crescente para a conflitualidade.
Mas também aqui há que evitar o alargamento da "estereotipagem", até porque dentre daquelas comunidades os "radicais" - que fomentam, organizam, dirigem e executam aqueles actos de violência interétnica são uma minoria - de parte a parte.
Daqui ressalta um aviso e ao mesmo tempo uma lição para os poderes públicos, mormente para o Estado e para as autarquias que, doravante, terão de passar a gizar melhores políticas de planeamento urbano de molde a integrar melhor aquelas comunidades. Pois em espaços onde existem zonas verdes, bibliotecas, espaços de lazer, cultura e animação a tendência para a conflitualidade decresce substancialmente. Sobretudo, se atentarmos ao facto de que quer a comunidade cigana quer a comunidade africana (cabo-verdeana, moçambicana, angola) têm fortes raízes culturais que se expressam através da música e das artes. Espaços de cultura e equipamentos culturais (independentes e mistos) desta natureza fariam certamente a diferença com tais comunidades, humanizando-as, acrescentando-lhes valor, auto-estima e consideração.
- Milhares de licenciados inscritos nos centros de empregos, mormente os de formação nas áreas da Sociologia, Antropologia e Psicologia - poderiam aqui, segundo um Plano de Integração Social articulado entre Estado e autarquias (e IPSS e a sociedade civil no seu conjunto) - dar um forte contributo para a valorização cultural dessas gentes - tendo como metas integrá-las num espaço comum.
Segregar ambas a comunidades não é solução. Nos arredores de Paris não existem muitas pessoas de étnica cigana e nem por isso os conflitos deixaram de eclodir ao tempo de Sarkosy - quando este tinha a pasta da Administração Interna - em 2006. Portanto, a solução para Loures, assim como para as zonas do Norte do País em que tais conflitos se colocam, passa pela valorização cultural das pessoas e dos equipamentos culturais e de lazer que têm de servir as populações. Ou seja, mais creches, mais escolas, mais piscinas, mais bibliotecas. Todas estas infraestruturas modelariam uma nova geração de homens e mulheres que, certamente, se envergonhariam de desencadear uma briga dentro duma biblioteca. Porquanto a escala de valores teria - entretanto - mudado.
Naturalmente, este trabalho intensivo de integração social, cultural exige pedagogia e um forte planeamento urbanístico na zona de Loures - cuja autarquia até dispõe de saber, experiência e um departamento de Assusntos Religiosos e Culturais - precisamente para atender a essas especificidades culturais.
Se virmos bem todos nós temos um comportamento menos próprio de um cigano ou de um negro dentro de nós. E em cada um desses elementos integrantes dessas minorias existe o civismo daquele que deseja viver segundo as regras da boa convivência humana e da observância da lei. Ou seja, a guerra começa sempre no coração dos homens (como diria o Papa João Paulo II) - tratando-se de um negro, cigano ou caucaseano.
Talvez não fosse marginal olhar para este desafio social e cultural e elaborar um Plano Nacional de Integração destas comunidades. Arranjar recursos europeus - no âmbito de um programa de apoio às minorias étnicas em Portugal a que o dr. Durão Barroso daria atenção em Bruxelas - e mandatar as autarquias para executar planos de urbanismo mais consentâneos com a realidade sociológica dessas comunidades.
E, já agora, aproveitar o capital-social dos licenciados inscritos nos Centros de Emprego para acompanhar e monitorizar essa mudança que só se fará ao longo de uma geração. O que seria também um estímulo a esses licenciados a sair do marasmo em que, porventura, se encontram a engrossar as estatísticas do desemprego em Portugal (cuja taxa é ainda elevada ao nível europeu).
O ideal seria começar já nesse árduo trabalho de integração complexa que mais cedo ou mais tarde terá de ser feita. O problema é que Portugal, como diria a madrinha do dr. António Preto - a Srª Ferreira leite - carece de muitas intervenções ao mesmo tempo e em diversas frentes. Sócrates, por um lado, quer fazer muita coisa ao mesmo tempo, a sr. Ferreira leite, por outro, diz que não há dinheiro para nada. Investir neste capital-social seria diminuir os custos em segurança - que aqui só tem uma função repressiva, e não pedagógica e socialmente integradora, até porque não é essa a missão das polícias. Ora entre o dinamismo e energia de Sócrates e o imobilismo miserabilista de Ferreira Leite - pergunte-se às ditas comunidades negra e cigana - em quem confiaria para, doravante, resolver boa parte dos seus problemas.
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