terça-feira

Os jovens inteligentes são os mais infelizes... Tributo a Bertrand Russel

Gostei hoje de ver, ainda que intervaladamente, o Prós & Contras de Srª Dona Fátima Campos Ferreira: todos alí reconheceram a sua socrática ignorância, todos alí perceberam o sentido das suas limitações, todos alí debitaram ideias mais ou menos estabilizadas, mas muitas delas não alteram o actual estado de coisas. E não me reporto apenas à Educação em Portugal, mas à governação em geral. Isto releva pelo facto de haver sempre uma distância enorme entre o dizer e o fazer, o proclamar e o realizar, o ter uma ideia e materializá-la em nome dum projecto, duma visão de futuro, de um desígnio. Isto faz-me lembrar, de certo modo, a distância entre o professor e o político - aquele que ensina e aquele que - sabendo - também tem que realizar coisas para milhões de pessoas ao mesmo tempo. Governar não deve ser nada fácil... Mas de toda esta contestação à política de educação seguida, ao veneno dos sindicalistas e ao radicalismo do professores que, coitados, cada vez têm menos prestígio e autoridade e têm mais tarefas que cumprir, o que torna as suas vidas num mar de burocracia, devemos perguntar-nos o que pensam verdadeiramente os alunos de toda esta "cegada"?! Tenho para mim que os jovens mais inteligentes, sobretudo nos países ditos do Ocidente (apesar desta distinção hoje estar esbatida), são os mais infelizes na medida em que não encontram um emprego apropriado para os seus melhores talentos. Deve ser isto que pensam milhões de alunos nos EUA e nos países do Velho Continente, ao invés do que se passa nos Estados orientais - onde, porventura, esse desejo de felicidade e de ambição de realização será menor. Hoje, contudo, toda esta realidade se esbateu, pelo que um jovem russo enfrentará os mesmíssimos problemas ou obstàculos do que um jovem francês, belga ou português. Portanto, essa infelicidade democratizou-se, globalizou-se e foi, de certo modo, esse "mal difuso" - para retomar uma expressão cara à "brigada do reumático" que fez o relatório da SEDES - que trouxe problemas acrescidos para a governação de que depende a criação de condições socioeconómicas para os milhões de jovens hoje desempregados possam ter um futuro mais risonho amanhã. E aqui alguns directores de jornais (dos media em geral) poderiam ter um papel mais estimulante na sua integração da vida activa, em sensibilizar as empresas para empregar pessoas qualificadas, e não bramar como os velhos do restelo e aos 50s comportarem-se como se já tivessem 60s - no seu conforto entre sofás, comandos de Tv e pantufas. Hoje um dos dramas da globalização predatória que está aí decorre deste nosso colectivo cinismo - infelizmente já contagiante entre os jovens - que resulta da combinação do conforto com a impotência. E é uma porra quando eles só dispõe do segundo. Ora, foi aqui que o relatório-Sedes falhou rotundamente, ao não ter apontado uma bateria de cenários para o futuro e ter, de caminho, ajudado a sociedade, o governo e o Estado que temos a vislumbrar um futuro melhor nele exemplificando os instrumentos necessários para alcançar tais objectivos. Numa palavra, essa impotência dá às pessoas a sensação de que nada vale a pena ser feito e o conforto (do sofá, que hoje beneficia o reformado) torna suportável esse sentimento doloroso, que é o de ser velho além de ver os filhos e os netos pendurados pelos fios e molas da vida... Um dia esta merda muda e somos todos felizes. Voilá, a minha profecia!!!
PS: Há um trimestre que não usávamos aqui a palavra "merda", já corrente no nosso léxico, mas pelo facto da merda ser a merda que é - pedimos deculpa.